Nov 26, 2024

Encontro em São Paulo reúne feministas de cinco continentes

No ano passado, a Turquia, até então reconhecida mundialmente pela preservação do secularismo, introduziu o ensino religioso nas escolas públicas. Aos poucos, tem também diminuído a oferta de vagas em colégios considerados laicos.

“Isso traz a segregação entre os sexos e acaba limitando as garotas ao lerem o Corão”, lamenta a líder feminista Yildiz Temurtukan. De acordo com dados divulgados por uma organização de professores, apenas 360 mil estudantes conseguiram se matricular para cursar o Ensino Médio tradicional no próximo período letivo. O restante, cerca de 700 mil, terá de frequentar instituições que privilegiam o estudo do Corão.

Para Yildiz, não é à toa que na última década o índice de feminicídio no país aumentou 14 vezes. “Tudo isso é provocado pelos representantes do governo. Eles declaram abertamente que mulheres e homens não são iguais e nem poderão ser”, relata.

“Mas as mulheres estão na linha de frente das lutas, nas ruas, nos parques, nos fóruns. Estão comprometidas a não se subordinarem ao fascismo islâmico”, anima-se. E é essa experiência de resistência e o cotidiano da Turquia que Yildiz espera compartilhar ao desembarcar no Brasil para o 9º Encontro Internacional da Marcha Mundial de Mulheres (MMM).

Junto com ela, outras 1.600 participantes se reunirão a partir de hoje no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP). “É uma porta aberta por onde passam todas as análises internacionais, lutas e alternativas. É um espaço que nos faz sentir mais forte contra os nossos inimigos”, define Yildiz.

Em 31 de agosto, elas farão um ato pelas ruas da capital paulista para “reafirmar o feminismo como projeto para mudar o mundo”.

Perspectivas 

A MMM começou sua atuação em 2000, quando mulheres de 159 países se uniram em uma grande campanha contra a pobreza e a violência. Desde então, a cada cinco anos, a MMM tem organizado mobilizações globais. A próxima, que acontecerá em 2015, será discutida no encontro do Brasil.

“Uma das questões colocadas para nós hoje é o debate das alternativas. Há uma expectativa grande das participantes por acreditarmos que a América Latina tem possibilidades diferentes de ação”, defende Nalu Faria, coordenadora da SOF (Sempreviva Organização Feminista).

“Há um discurso de igualdade, que toca muito no tema da paridade, e dá a ideia de que a questão é a participação das mulheres. Mas não foca na transformação dos espaços de poder e de participação”, afirma. “Uma questão fundamental é o aporte do feminismo, é pilharmos o conceito de política e de economia, questionando o traço patriarcal e androcêntrico de nossa sociedade de considerar como público, político e econômico só aquilo que está dentro das representações do que é o mundo masculino”.

Patriarcado

Sem dúvida, uma das palavras mais ditas e ouvidas no encontro será “patriarcado”. “Temos trabalhado muito em compreender quais são os mecanismos de atuação do modelo patriarcal em relação às opressões. Esse patriarcado existe quando olhamos para o controle sobre o corpo, a sexualidade e o trabalho das mulheres. É um elemento permanente. E qual é realmente a diferença entre a exigência da burca de um lado e a banalização do corpo nu de outro?”, indaga Nalu.

Para Yildiz, “desde o começo da revolução industrial as mulheres têm lutado para serem aceitas como iguais aos homens, para serem aceitas como seres humanos plenos. Apesar de todo o discurso mainstream de gênero, a situação em geral tem piorado. A razão para a resistência aos direitos das mulheres ser tão forte é que o capitalismo é um sistema baseado em desigualdades de gênero. O patriarcado constituiu o terreno invisível para as relações capitalistas visíveis. Na história do capitalismo não há era sem patriarcado e parece que a ideologia do livre-mercado não pode sobreviver sem a exploração e a opressão das mulheres”.

A turca afirma que “não é coincidência que todos os tipos de violência contra mulheres e garotas têm crescido, de estupros coletivos a feminicídios, de violência doméstica a assédio sexual no trabalho. É porque as mulheres estão clamando por sua autonomia, não apenas econômica, mas sobre seus corpos e vidas, de uma maneira organizada ou individualmente. E como nós estamos reclamando nosso lugar no mundo, estamos sujeitas a mais violência, seja do Estado ou dos homens”.

Mas há esperança: para ela, enquanto há 20 anos se discutia a obrigatoriedade moral da virgindade, hoje é possível falar abertamente sobre assuntos considerados privados, como casamento, aborto e violência doméstica. “E as mulheres têm declarado que não vão aceitar qualquer regra sobre suas vidas e corpos”.

“Queremos dar visibilidade à força das mulheres em construir alternativas nos processos de resistência”, completa Nalu.

Carta Capital - Território de Maíra 

Dia 30: Mobilização e Paralisação reforça pressão da luta contra a privatização do petróleo

O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes reafirmou na audiência na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS), a relevância do pré-sal como patrimônio estratégico para o desenvolvimento nacional. Abaixo, a íntegra da intervenção do líder petroleiro, publicada no jornal Hora do Povo. www.horadopovo.com.br

“Leiloar o pré-sal é abrir mão da redenção social do país”

Nenhuma classe social pode ter os seus direitos respeitados sem que o país se desenvolva ou cresça. Para nós, trabalhadores, os nossos interesses caminham diretamente ligados aos interesses do nosso país. Portanto, qualquer trabalhador, qualquer sindicato, qualquer organização que imaginar que é possível defender os direitos dos trabalhadores sem um olhar estratégico para o crescimento da Nação, para o desenvolvimento como um todo do País, estará cometendo um grande equívoco. Nós, organizados na Federação Única dos Petroleiros, olhamos o País como um todo. Melhores condições de trabalho e desenvolvimento da cadeia produtiva são absolutamente fundamentais – e não será com a privatização, nós estamos convictos, que isso será possível.

Temos hoje, segundo dados do Sinaval, sindicato patronal da construção naval no país, cerca de 52 navios petroleiros encomendados no Brasil, principalmente a partir da mudança de política da Petrobrás - a partir de 2003, porque, até então, não tínhamos nenhum navio encomendado.

O Brasil já foi o segundo armador do mundo. Mas, em 2002, nós tínhamos dois mil trabalhadores nos estaleiros brasileiros: só tínhamos os vigilantes tomando conta do mato, que tomava conta dos nossos estaleiros.

A partir de 2003, com a mudança governamental, com a Petrobrás encomendando navios no Brasil, mudou completamente o quadro dos estaleiros brasileiros.

Mas, das 50 empresas presentes em nosso País no setor do petróleo, 30 delas operadoras, 49 dos 52 navios são encomendados pela Petrobrás.

Poderíamos perguntar: e esses outros três, quem encomendou?

Esses outros três navios são encomendados pela PDVSA.

A PDVSA, do Chávez, aquele monstro que muitos pintam pelo país afora, é que fez as únicas três encomendas, que não são da Petrobrás, aos nossos estaleiros.

Não há uma única encomenda dessas operadoras privadas que entraram no país a partir dos leilões.

Empregos em plataforma, em refinaria, em terminal, são altamente especializados - e em número muito pequeno. Onde é que está o desenvolvimento e a renda?

O desenvolvimento e a renda estão na cadeia produtiva - antes e depois. Os metalúrgicos, fabricando os nossos navios, os químicos, produzindo os derivados plásticos na petroquímica - lá estão os empregos e a renda.

Nós temos, na região do ABC paulista, cerca de 20 mil trabalhadores envolvidos na cadeia produtiva do petróleo, entre petroquímica, derivados plásticos e tudo o mais. Nós temos no petróleo e na refinaria cerca de 1,5 mil trabalhadores. Então, é na ponta da cadeia que há o emprego e a renda.

Produzir petróleo e exportar é inútil para o desenvolvimento nacional - seria mais uma exaustão dos nossos recursos naturais.

Se isso já aconteceu de maneira equivocada em outros momentos, com o petróleo e gás seria ainda mais grave. O petróleo do pré-sal, que o presidente Lula apontava como um bilhete premiado, e alguns faziam chacota, cada vez mais se confirma o quanto, de fato, o peão metalúrgico estava certo - enquanto muitos doutores estavam equivocados. Do petróleo do pré-sal, cada vez mais se confirma não só a existência, mas a qualidade. Eu digo com muita tranquilidade: é a maior descoberta petrolífera dos últimos 30 anos.

A maior, se usarmos para o nosso povo; se colocarmos o pré-sal à disposição dos sugadores de energia do planeta, não vai dar para nada, porque eles consomem esse petróleo de uma maneira muito rápida - um americano consome seis, sete vezes mais energia que um brasileiro. E consomem dez vezes mais petróleo, para movimentar a sua máquina de guerra.

Outros países já se iludiram com isso. Então, o pré-sal pode significar a redenção nacional, se a sua exploração for voltada para os nossos interesses; se for voltada para exportação, não vai dar para nada.

Nós temos, na Petrobrás, cerca de 85 mil trabalhadores próprios e cerca de 360 mil trabalhadores terceirizados – os dados são da empresa.

Com muito orgulho, nós dizemos que as condições de trabalho dos trabalhadores da Petrobrás só têm como paralelo no mundo os trabalhadores da Statoil - na Noruega, porque aqui no Brasil a Statoil atua como uma empresa privada qualquer, ela tem cerca de 200 trabalhadores próprios e 500 trabalhadores terceirizados. Esses trabalhadores próprios são basicamente trabalhadores administrativos dos escritórios; nas plataformas, nas áreas produtivas, não há trabalhadores próprios, são todos terceirizados.

A mesma coisa a Shell, que é ainda é pior – até porque não divulga os dados, ao contrário da Statoil, que ainda tem um pouquinho de transparência: a Shell tem cerca de 700 trabalhadores, e mistura tudo nos seus dados, colocando trabalhadores das plataformas com trabalhadores do comércio de petróleo, de derivados, misturando comerciários com petroleiros. Uma confusão, mas, pelos dados de companheiros dos sindicatos-irmãos, desses 700 trabalhadores da Shell, não há trabalhadores próprios nas plataformas - e quem conhece um pouco das condições de trabalho no nosso país sabe o quanto terceirizar é precarizar.

A OGX, do sr. Eike Batista, a mesma coisa: apenas 350 trabalhadores próprios, e, todos, trabalhadores administrativos. As plataformas são todas subcontratadas, terceirizadas.

Então, qual o resumo que a gente faz do que significaram os 11 leilões para as condições de trabalho no país?

Terceirização ainda maior que a da Petrobrás, que nós já consideramos um completo equívoco; jornada de trabalho maior do que as jornadas praticadas pela Petrobrás; sem negociação coletiva, ou, quando existe, com o sindicato cartorial. Qualquer um pode acessar, na internet, a página do Sinditob [Sindicato dos Trabalhadores Offshore do Brasil], que é um sindicato criado pelas empresas, é um sindicato de trabalhadores criado pelas empresas de petróleo. Qualquer um que olhar a página, vai ver que não é página de sindicato de trabalhadores. Realmente, é um sindicato patronal com o qual a maior parte das empresas "negocia".

Falta transparência na divulgação dos resultados, falta desenvolvimento da cadeia produtiva. Nenhuma dessas empresas se propõe a construir uma refinaria em nosso país, nenhuma delas. Dizia-se muito que a "abertura" viria para construir refinarias. Nós ficamos 30 anos sem construir uma refinaria e só passamos a construir depois de uma mudança política, de governo, porque, se depender das empresas que estão entrando no país, não sai refinaria, muito menos cadeia produtiva.

Precisamos desenvolver a cadeia produtiva como um todo, exigindo melhores condições de trabalho, atualizando a Lei nº 5.811, de 1972, a lei que rege as condições de trabalho do setor - porque as empresas privadas também não cumprem essa lei - e, principalmente, não podemos permitir uma política industrial para esse setor calcada na exportação de petróleo in natura.

Não permitiremos que um recurso como o pré-sal, que a natureza levou 130 milhões de anos para construir, repita a tragédia de outros recursos, como o pau-brasil, o ouro, o ferro. Essa é a grande questão sobre a qual nós, brasileiros, temos que nos debruçar. O petróleo do pré-sal vai ser para a redenção nacional ou o petróleo do pré-sal vai ser como foi o ouro? Não sei se todos sabem, mas o Brasil chegou a produzir, em um só ano, três vezes todo o ouro produzido no resto do Planeta. O que ficou para o nosso País desse ouro?

FUP

CUT e demais centrais conseguem reabrir negociação sobre fator previdenciário

A CUT e demais centrais sindicais conseguiram reabrir oficialmente as negociações com o governo federal sobre o fator previdenciário. Na tarde desta quarta-feira (21), o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência da República), afirmou que em 60 dias o governo federal terá uma proposta formal e oficial para a questão. Essa data foi acordada durante reunião realizada em Brasília ontem entre o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, representantes das demais centrais, os ministros Gilberto Carvalho e Garibaldi Alves (Previdência Social) e Manoel Dias (Trabalho).

Durante esses dois meses, grupos de trabalhado representando as partes envolvidas na negociação vão se reunir para debater informações, dados, pesquisas e levantamentos que serão feitos pelo Ministério da Previdência e outros órgãos técnicos. Esses encontros vão acontecer a cada 20 dias. A fórmula 85/95 é uma das possibilidades para iniciar a discussão do fator previdenciário.

Para Vagner Freiras, o governo chamou a mesa não apenas por uma questão de sensibilidade, mas também por conta das recentes mobilizações realizadas pela CUT e a paralisação nacional que está agendada para o próximo dia 30 pela pauta da classe trabalhadora. Segundo o presidente da CUT, o debate e as negociações entre as centrais e o governo precisarão estar embasados em dados que serão amplamente divulgados discutidos com a base, para que os/as trabalhadores/as,saiba e concordem.

CUT

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