Nov 28, 2024

Para Dieese, relação entre terceirização, mortes no serviço e trabalho escravo é 'gritante'

O alerta de que a atividade de terceirização está relacionada a casos de trabalho em situação análoga à de escravidão ou semelhantes é antigo, mas foi apresentado ao Senado, em números contundentes, hoje (13), por Lilian Marques, assessora da direção técnica do Dieese. Durante audiência da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CLP) que debateu o Projeto de Lei (PL) 4.330, da terceirização, Lilian disse que nas dez maiores operações de resgate de trabalhadores em situação análoga à de escravidão, quase 3 mil dos 3.553 casos envolveram empregados terceirizados.

Segundo a técnica, em alguns setores, as estatísticas se destacam mais. É o caso, por exemplo, do setor elétrico, onde o número de mortes dos trabalhadores que perderam a vida em serviço mostra cruel falta de sintonia entre os terceirizados e os contratados diretamente pelas empresas: em 2013, quando foi feito o último levantamento, 79 trabalhadores morreram durante atividades no exercício dos seus trabalhos. Desses, 61 eram terceirizados.

Os números, segundo Lilian Marques, também são relevantes na construção civil. Nas obras para levantar edifícios, por exemplo, de um total de 135 trabalhadores mortos em acidentes de trabalho, 75 óbitos foram de terceirizados. E em relação a obras de acabamento, de 20 mortes no mesmo período, 18 dos trabalhadores eram terceirizados.

Nas áreas de terraplenagem, foram 19 mortes, das quais 18 com terceirizados. E nos serviços especializados, 30 em 34 óbitos envolveram terceirizados. “Os números refletem a forma como os trabalhadores terceirizados são tratados pelos seus empregadores, em aspectos como segurança e treinamento”, disse a técnica. Ela acrescentou que, além da questão da segurança, a rotatividade entre trabalhadores terceirizados é o dobro da existente entre os contratados diretamente pelas empresas.

Salários menores

A fala da técnica chamou a atenção para um estudo elaborado pela CUT e pelo Dieese atualizado recentemente, mostrando que os trabalhadores terceirizados (que somam cerca de 12,7 milhões) recebiam, em dezembro de 2013, 24,7% a menos do que os que tinham contratos diretos com as empresas. E tinham uma jornada semanal de três horas a mais.

“Os efeitos da terceirização vêm se agravando fortemente e não podem ser aceitos pela sociedade brasileira, não podem ser aceitos por uma sociedade que busca um desenvolvimento pautado pela priorização da vida, pela igualdade de direitos, pela distribuição de renda e inclusão social, articulados pela valorização do trabalho”, enfatiza o estudo.

O documento também ressalta que a realidade imposta pela terceirização não é a da modernidade, e sim “de um país com relações arcaicas de trabalho, que fere os preceitos de igualdade”. Aponta, ainda, que conforme pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a principal motivação para 91% das empresas terceirizarem parte de seus processos é a redução de custo – enquanto apenas 2% dessa motivação é a especialização técnica.

Galerias abertas

Na Câmara dos Deputados, a expectativa é de que a votação do PL 4.330 seja realizada na sessão ordinária desta terça-feira (14), programada para ser iniciada após a reunião dos líderes para discussão da pauta da Casa para a semana. É só a partir das 14h30 que será possível saber quantas emendas de destaque foram protocoladas no total. Até o final da tarde de hoje, segundo a diretoria-geral da mesa da casa, tinham sido apresentadas 32 delas, sendo 24 de bancadas e oito individuais.

Também é grande a expectativa em relação à abertura ou não das galerias para os cidadãos. Segundo a assessoria do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ele está disposto a permitir o acesso de pessoas que queiram acompanhar a votação. Na última semana, Cunha mandou a segurança legislativa fechar as galerias, num gesto criticado até pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e considerado inconstitucional. O presidente argumentou que teve, como motivo, “preservar a integridade dos deputados durante a sessão”.

Fonte: Rede Brasil Atual

15 de abril - Dia Nacional de Paralisação

Combater o PL 4330 é tarefa de todos os trabalhadores!

 

As centrais sindicais, os sindicatos e os movimentos sociais convocam todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, para fazer na quarta-feira, 15 de abril, um dia de paralisação contra os ataques do Congresso aos direitos trabalhistas.

A assembleia para definir a participação dos trabalhadores da Refap, no Dia Nacional de Paralisação, será na quarta-feira,15 de abril, às 07h30min, em frente aos portões da refinaria.

PL 4330

O PL4330 foi aprovado pela Câmara no último dia 8 de abril. O PL regulamenta a terceirização possibilitando as empresas terceirizar todas as atividades. Ainda serão votadas as emendas apresentadas ao projeto. Após a votação dos destaques, o projeto irá ao Senado. Estima-se que há no Brasil 12 milhões de pessoas em regime de trabalho terceirizado. Com a aprovação do projeto, esse número subiria para 33 milhões. Será esse o universo dos atingidos pelo retrocesso proposto pelo 4330, num dos maiores ataques aos direitos trabalhistas, que rasga a CLT e destrói a relação de trabalho.  

    

Nove motivos para você se preocupar com a nova lei da terceirização

1 Salários e benefícios devem ser cortados
O salário de trabalhadores terceirizados é 24% menor do que o dos  empregados formais, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).


No setor bancário, a diferença é ainda maior: eles ganham em média um terço do salário dos contratados. Segundo o Sindicato dos Bancários de São Paulo, eles não têm participação nos lucros, auxílio-creche e jornada de seis horas.

2 Número de empregos pode cair
Terceirizados trabalham, em média, 3 horas a mais por semana do que contratados diretamente. Com mais gente fazendo jornadas maiores,  deve cair o número de vagas em todos os setores.  

Se o processo fosse inverso e os terceirizados passassem a trabalhar o mesmo número de horas que os contratados, seriam criadas 882.959 novas vagas, segundo o Dieese.

3 Risco de acidente vai aumentar
Os terceirizados são os empregados que mais sofrem acidentes. Na Petrobrás, mais de 80% dos mortos em serviço entre 1995 e 2013 eram subcontratados. A segurança é prejudicada porque companhias de menor porte não têm as mesmas condições tecnológicas e econômicas. Além disso, elas recebem menos cobrança para manter um padrão equivalente ao seu porte.

4 Preconceito no trabalho pode crescer
A maior ocorrência de denúncias de discriminação está em setores onde há mais terceirizados, como os de limpeza e vigilância, segundo relatório da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Com refeitórios, vestiários e uniformes que os diferenciam, incentiva-se a percepção discriminatória de que são trabalhadores de “segunda classe”.

5 Negociação com patrão ficará mais difícil
Terceirizados que trabalham em um mesmo local têm patrões diferentes e são representados por sindicatos de setores distintos. Essa divisão afeta a capacidade deles pressionarem por benefícios. Isolados, terão mais dificuldades de negociar de forma conjunta ou de fazer ações como greves.

6 Casos de trabalho escravo podem se multiplicar
A mão de obra terceirizada é usada para tentar fugir das responsabilidades trabalhistas. Entre 2010 e 2014, cerca de 90% dos trabalhadores resgatados nos dez maiores flagrantes de trabalho escravo contemporâneo eram terceirizados, conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Casos como esses já acontecem em setores como mineração, confecções e manutenção elétrica.

7 Maus empregadores sairão impunes
Com a nova lei, ficará mais difícil responsabilizar empregadores que desrespeitam os direitos trabalhistas porque a relação entre a empresa principal e o funcionário terceirizado fica mais distante e difícil de ser comprovada. Em dezembro do último ano, o Tribunal Superior do Trabalho tinha 15.082 processos sobre terceirização na fila para serem julgados e a perspectiva dos juízes é que esse número aumente. Isso porque é mais difícil provar a responsabilidade dos empregadores sobre lesões a terceirizados.

8 Haverá mais facilidades para a corrupção
Casos de corrupção como o do bicheiro Carlos Cachoeira e do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda envolviam a terceirização de serviços públicos. Em diversos casos menores, contratos fraudulentos de terceirização também foram usados para desviar dinheiro do Estado. Para o procurador do trabalho Rafael Gomes, a nova lei libera a corrupção nas terceirizações do setor público. A saúde e a educação pública perdem dinheiro com isso.

9 Estado terá menos arrecadação e mais gasto
Empresas menores pagam menos impostos. Como o trabalho terceirizado transfere funcionários para empresas menores, isso diminuiria a arrecadação do Estado. Ao mesmo tempo, a ampliação da terceirização deve provocar uma sobrecarga adicional ao SUS (Sistema Único de Saúde) e ao INSS. Segundo juízes do TST, isso acontece porque os trabalhadores terceirizados são vítimas de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais com maior frequência, o que gera gastos ao setor público.

Fontes: Relatórios e pareceres da Procuradoria Geral da República (PGR), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e de juízes do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Entrevistas com o auditor-fiscal Renato Bignami e o procurador do trabalho Rafael Gomes. Extraído da página Repórter Brasil.

Facebook