Nov 25, 2024

7 passos para matar uma estatal

Em 1990, Herbert de Souza, o Betinho, escreveu um artigo intitulado Como matar uma estatal  antecipando a grande onda de privatizações levada a cabo pelos governos Collor e FHC. A trajetória recente da Eletrobras indica que o atual governo federal retomou a tentativa de aplicar a receita fatal, pondo em risco esse ativo de importância estratégica para a soberania brasileira.
 
Betinho aponta sete medidas que, isoladas ou em conjunto, colocam a estatal rumo ao esfacelamento. Vejamos as medidas e sua aplicabilidade ao caso da Eletrobras:
 
1.Produzir com eficiência e vender abaixo do custo
 
Com a MP 579/12, o governo antecipou a renovação das concessões de hidrelétricas e de linhas de transmissão impondo tarifas muito reduzidas à Eletrobras. As tarifas impostas são aproximadamente 90% menores do que as vigentes antes da MP.
 
Em 2014, por exemplo, a Eletrobras vendeu uma grande quantidade de energia oriunda das usinas renovadas por R$ 28/MWh, enquanto o MWh de energia era negociado a R$822 no mercado livre. Mesmo não sendo a medida suficiente para garantir a prometida redução nas tarifas elétricas, ela foi extremamente eficiente no que se refere ao sucateamento da Eletrobras.
 
2.O endividamento
 
Como bem disse Betinho, uma “boa” estatal brasileira serve para transferir recursos ao Tesouro em momentos de crise e para contrair dívidas. E, como consequência, ‘a pressão da dívida imobiliza a capacidade de investimento da estatal, e essa é uma boa fragilidade a ser utilizada quando necessário’.
 
De 2012 a 2015 a Eletrobras pagou mais de R$9 bi de juros sobre capital próprio (1), mesmo tendo acumulado nesse mesmo período um prejuízo de R$20 bi! Parte desse recurso se destinou à União e foi utilizado para o atingimento das metas fiscais.
 
Quanto ao endividamento, entre 2013 e 2014 a dívida líquida consolidada da Eletrobras saltou de R$2 bi para R$15 bi (2). O governo segue, assim, as características fundamentais da receita fatal, um endividamento voltado para o atendimento das metas fiscais e a crescente submissão aos credores privados.
 
3.Não investir em pesquisa e desenvolvimento
 
Betinho fala em ‘conter os investimentos’ com o ‘objetivo de colocar as estatais na fronteira da vulnerabilidade’. A Eletrobras recebeu o tiro de misericórdia com a MP 579, que reduziu brutalmente sua capacidade de investimento. Hoje a empresa encara dificuldades não só para cumprir seu plano de investimentos, mas também para honrar seus compromissos, tamanha a dificuldade de caixa.
 
A redução dos investimentos estatais, além de afetar a eficiência e a qualidade dos serviços prestados, também abre espaço para o crescimento do setor privado e, assim, o fornecimento e a distribuição de energia elétrica perdem aos poucos seu caráter de serviço público.
 
Avisava Betinho que ‘Uma estatal muito eficiente é um mau exemplo no mundo dos negócios como argumento pró-estatização. Uma estatal ineficiente é um argumento imbatível sempre que for necessário restabelecer o primado neoliberal da livre iniciativa e das leis do mercado.’
 
4.Colocar afilhados na direção das estatais
 
O caminho para destruir a estatal fica mais curto quando se coloca na condução das estatais ‘dirigentes que respondam pelos interesses de turno à frente da Presidência da República’. Não é de hoje que a Eletrobras sofre com esse mal. A Eletrobras, que foi durante muitos anos “área de influência” de ACM, já há algum tempo é considerada “área do Sarney”, mas também tem diretores ligados a Kassab e Temer, e Eduardo Cunha e Antonio Palocci ainda possuem influência nas controladas da Eletrobras.
 
Esse empreguismo político tem como objetivo não somente dirigir as estatais segundo os princípios da política econômica de turno, como pretende também desestabilizar sua base ética de sustentação. Ao se privatizar a direção de uma estatal, ela perde o seu carisma público’. O quadro se agrava quando se aponta para o envolvimento de diretores da empresa em esquemas de corrupção, como nas operações Faktor, Castelo de Areia e, mais recentemente, na operação Lava Jato.
 
5.Provocar os sindicatos
 
‘É importante também provocar os sindicatos e levá-los a situações de impasse. O desgaste progressivo dos sindicatos é uma boa preparação para a privatização’. A relação entre o governo federal e a CUT há muito coloca a central sindical em situação delicada. O apoio da central que representa os eletricitários ao governo entra em choque com os recentes avanços do governo contra os direitos dos trabalhadores e suas medidas privatizantes, levando os sindicatos a assumir posições contraditórias. ‘Nada melhor para privatização do que um sindicato desmoralizado e enfraquecido’.
 
6.Desenvolver os impasses até o absurdo
 
É necessário levar os impasses entre as empresas estatais e o desenvolvimento do país ao extremo, para que o absurdo pareça ser a solução e a solução que convém a uns poucos acabe nascendo, como resultado natural do absurdo’.
 
Destacam-se aqui duas grandes frentes de impasse. Na primeira estão os grandes projetos com a participação da Eletrobras, como Belo Monte. Esses projetos vão afetar Terras Indígenas e populações tradicionais, além de representarem uma grande ameaça à biodiversidade. Condenáveis do ponto de vista dos direitos humanos e da defesa do meio ambiente, servem também como fonte de descrédito da empresa frente a movimentos sociais organizados e a sociedade.
 
Outra fonte de impasse é o atual modelo do setor elétrico e sua consequência mais explícita, os altos preços da energia elétrica. A atuação da Eletrobras ainda é marcada pela eficiência operacional e pela sua contribuição para a redução dos preços de energia, seja vendendo energia barata, seja entrando em leilões pressionando os preços para baixo.
 
Os altos preços de energia são resultado do modelo mercantil adotado, e não da atuação específica da empresa. Mesmo assim, o senso comum, “ajudado” pelos meios de comunicação, costuma associar esses preços a uma suposta ineficiência da empresa, quando na verdade sua contribuição vai à direção contrária.
 
Os preços altos cumprem assim duas funções. De um lado servem à tentativa de justificar os grandes projetos, apoiados incondicionalmente pelas construtoras. De outro lado, servem aos defensores da privatização, apoiados pelo trabalho de desinformação planejada da mídia.
 
7.Vender ou fechar
 
A Eletrobras caminha a passos largos para sua privatização. Os alvos iniciais são as suas distribuidoras, mas tudo indica que a intenção não é parar por aí (3). As ações da Eletrobras estão valendo hoje 1/3 do preço de cinco anos atrás.
 
‘Uma empresa que vive em crise tem baixa cotação no mercado. A privatização gosta de preços baixos, principalmente de empresas públicas que acumularam durante décadas o patrimônio que foi construído com o dinheiro e o esforço de todos’.
 
Como mostra a experiência real, a privatização não é sinônimo de aumento de eficiência e qualidade do serviço. De outro lado, a privatização significa, inexoravelmente, demissões! Além disso, o setor elétrico é um dos pilares da economia e seu desempenho tem impactos sistêmicos. A privatização desse setor significa deixá-lo a serviço dos lucros e não da sociedade.
 
Notas:
 
As aspas simples são usadas na reprodução de trechos do texto original e o uso de aspas duplas para dar destaque ou para realçar palavras ou expressões irônicas.
 
(1) Fonte: Eletrobras, dados Disponíveis em http://www.eletrobras.com/elb/ri – Valor considera o pagamento de dividendos correntes, de dividendos retidos e de juros sobre o capital próprio.
 
(2) Fonte: Eletrobras Informe aos investidores 4T14. .
 
(3) A Eletrobras pretende aprovar, no apagar das luzes de 2015, a privatização das distribuidoras. A AGE da empresa para aprovação da privatização está marcada para o dia 28/12/15. Sobre a possibilidade de privatização de outros ativos ver:

2015: Um ano marcado pela luta e pela unidade dos petroleiros

Estamos chegando ao final de 2015 e queremos dizer que este foi um ano importante para os petroleiros e petroleiras. Foi um ano marcado pela retomada das nossas grandes lutas, quando deixamos claro que não vamos aceitar que apenas interesses econômicos pautem as decisões em relação a Petrobrás, resgatando as grandes lutas que marcaram a história da categoria em defesa da empresa. 

Mostramos que não lutamos apenas para defender salários e interesses individuais. Fomos além e defendemos uma pauta que resistiu aos que tentam “vender” a empresa aos interesses multinacionais, entregando o pré-sal com mudanças no regime de partilha; denunciando os gestores que apostam no desinvestimento gerando desemprego e recessão e mostramos que os petroleiros, acima de qualquer coisa, defendem a Petrobrás pública para os brasileiros.

 

Mobilizamos movimentos sociais, agregamos diversos apoios e ampliamos nossa luta. Fomos às ruas, aos aeroportos, ao Congresso Nacional, às faculdades numa mobilização que reuniu trabalhadores, estudantes, partidos de esquerda, movimentos sociais, intelectuais e muitos outros brasileiros e brasileiras, que reconhecem o valor e a importância da Petrobrás para o Brasil.

Resgatamos o orgulho de ser petroleiros, num cenário onde especialmente a imprensa, tratou de divulgar diariamente notícia negativas da empresa, tentando vender a ideia de que na Petrobrás, todos eram corruptos. A categoria foi às ruas e em alto e bom som declarou: “trabalhamos na Petrobrás, não somos corruptos”. 

Divulgamos a pauta pelo Brasil defendendo a Petrobrás como uma empresa para vencer a crise, garantir os empregos – todos e não apenas dos petroleiros – e o pré-sal para saúde e educação.

Internamente, lutamos para garantir importantes conquistas dos trabalhadores, como o auxílio-farmácia e os níveis dos aposentados. Resistimos e denunciamos o assédio moral, cobramos fortemente mudanças na política de saúde e segurança, que tem roubado a vida de tantos companheiros, buscamos melhores condições de trabalho para os diretos e terceirizados.

Somamos também na luta do conjunto da classe trabalhadora contra alguns projetos do governo que entendemos contra os trabalhadores, como as Medidas Provisórias que alteram as regras do seguro-desemprego, e os inúmeros ataques dos setores conservadores e reacionários do Congresso, como o PL  4330 (da terceirização), a flexibilização da CLT, entre outros. Combatemos fortemente o projeto econômico do ministro Levy que apostou na recessão, em detrimento do crescimento, gerando milhares de desempregados e recessão.

Mas a esperança sempre vence o medo. E com a mesma coragem que enfrentamos 2015, conseguindo trancar no Congresso os projetos de entrega do pré-sal do Senador José Serra; fazendo a Petrobrás recuar em seu plano de desinvestimento e o ano terminar com a troca do ministro da economia por um mais afinado com um projeto desenvolvimentista, também teremos esta mesma coragem para enfrentar 2016. Começamos o ano novo com mais força, sabendo que, UNIDOS SOMOS FORTES!

O SINDIPETRO-RS deseja a todos os petroleiros e petroleiras, bem como a seus familiares, um NATAL de paz  e um ANO NOVO de esperança.

Polícia Federal indiciou funcionários da BW, terceirizada da Petrobras, após realizar perícia sobre acidente

Após investigar as causas do acidente no navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, que deixou nove mortos, a Polícia Federal decidiu indiciar funcionários da BW Offshore, terceirizada da Petrobras, por homicídio culposo e lesão corporal grave. Os crimes, juntos, podem render até quatro anos de prisão aos acusados.

Segundo a PF, a partir de diligências e exames periciais, foi possível verificar a prática criminosa. A explosão, que aconteceu no mar, na região de Aracruz, no dia 11 de fevereiro deste ano, é considerada a pior tragédia na história do Espírito Santo no setor de petróleo e gás e o mais grave do país nos últimos 14 anos.
Em relatório interno distribuído pela Petrobras a funcionários, a companhia afirmava que uma sucessão de erros provocou a explosão na casa de bombas da embarcação, conforme divulgado com exclusividade por A GAZETA no dia 11 de junho.
A polícia realiza nesta quarta-feira, às 10h30, uma entrevista coletiva para detalhar as apurações e esclarecer quem são os acusados e como vão responder pelo crime.
O navio Cidade de São Mateus pertence à norueguesa BW, mas era afretado pela Petrobras para a produção de óleo e gás nos campos de Camarupim e Camarupim Norte. A plataforma está posicionada a cerca de 40 quilômetros da costa, na altura de Aracruz, e não há informação sobre quando será enviada para um estaleiro.

Sucessão de erros levou ao acidente

De acordo com o relatório interno, enviado a funcionários da Petrobras, a instalação de uma peça fora dos padrões necessários para o sistema, a falta de planejamento e de análise de riscos durante a troca de linhas que faziam a transferência de fluidos de um tanque para o outro, o envio de equipes para a casa de bombas mesmo com o alarme acionado e a ausência de simulações anteriores que preparassem os profissionais para esse tipo de situação de risco comprometeram a realização de procedimentos usuais no FPSO.
Dos nove trabalhadores mortos, três corpos foram encontrados no mesmo dia em que ocorreu a explosão. Outros dois foram achados no dia seguinte, 12 de fevereiro. A sexta vítima só foi localizada cinco dias depois, no dia 17. Já o corpo da sétima vítima foi encontrado no dia 26. A oitava vítima foi localizada no dia 28 e a nona no dia 2 de março, 19 dias após a explosão. Segundo a ANP, 74 pessoas estavam embarcadas, 26 ficaram feridas.
Laudo pericial feito pela Comissão de Investigação de Acidente – formada por membros da Petrobras e da norueguesa BW Offshore – mostra que o vazamento de gás começou após uma mudança no alinhamento para a transferência de fluidos e condensado de um tanque para o outro. O contato desse gás com uma lâmpada teria sido o estopim da explosão.
A luminária localizada em cima do flange foi a provável fonte de ignição do acidente, segundo a estatal. Outros fatores chegaram a ser investigados como motivadores, entre eles uso de ferramentas e movimentos dos profissionais.
O relatório revela ainda que um minuto antes do estrondo funcionários que não estavam envolvidos nos procedimentos de segurança foram liberados para o almoço. O documento levou em consideração as informações de entrevistas com 50 pessoas, avaliação das 13 câmeras da embarcação, análise de materiais e gravação dos procedimentos.
Outro lado
Petrobras e BW foram procuradas, mas até o momento não apresentaram posicionamento das empresas sobre o indiciamento
Cronologia da tragédia
11h00
- Houve mudança no plano operacional durante o novo alinhamento para transferência dos fluídos de um tanque para o outro
11h23
- A válvula OP-084 é fechada de maneira imprópria antes da abertura da válvula OP -080, ainda com a bomba operando. Resultando no aumento de pressão
11h25
- Início de vazamento de condensado
11h26
- Início de mobilização da equipe para conter o vazamento de gás.
- O alarme de gás nível mais baixo é ligado
11h27
- Técnicos da sala de comando pararam a bomba e abriram a válvula OP-84
- Segundo alarme de gás nível mais baixo é tocado
11h30
- Equipe ligada a casa de bombas é avisada sobre vazamento
11h31
- Válvulas são fechadas e bomba são paradas
- Terceiro alarme de gás nível mais baixo é tocado
11h40
- Vazamento aumenta com gotejamento do fluído/condensado
11h46
- Três pessoas entram pela primeira vez na casa de bombas para investigar a fonte do vazamento
11h55
- Equipes são avisadas que vazamento é pelo flange da válvula e que há uma poça de condensado
11h53
- Alarme continua em nível mais baixo
12h02
- Envio de outra equipe para coletar mais detalhes sobre o vazamento
12h07
- Sala de comando é informada que vazamento é pelo flange próximo à válvula e a equipe na casa de bombas reforça que há pequena poça abaixo do equipamento
- Não houve comunicação sobre vazamento de gás
12h14
- Entrada de outra equipe a casa de bombas para limpeza e aperto dos parafusos dos flange
- Cinco pessoas vão ao local com mantas absorvedoras, escadas, chaves de boca, marreta de borracha. Alguns usavam roupas anti-chamas
- Alarme continua em nível mais baixo
12h32
- Tripulação, que não atuava no plano de segurança, é liberada para almoço
12h33
- Explosão na casa de bombas e onda de pressão na praça de máquinas
Fonte: Gazeta On Line

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