Nov 24, 2024

Juízes justiceiros que sonham com Watergate

Há pouco de épico na tentativa de retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Governo do Brasil. Sua posse como ministro foi apressada e incômoda, como se a história se repetisse como trâmite burocrático. Sensações reduzidas pelo fato de que, neste momento, quem pisa nos calos de Lula sejam os juízes e não (aparentemente) adversários políticos.

A Justiça decidirá quanto há de verdade nas acusações de enriquecimento ilícito que pendem sobre Lula. A questão é qual Justiça decidirá: a que presume a inocência de todos os acusados ou a que atende apenas à indignação política nas ruas.

O herói das manifestações numerosas contra o Partido dos Trabalhadores é o juiz federal Sergio Moro, que comanda as investigações de desvio de dinheiro da petroleira estatal. Este, convencido pelo papel que lhe foi designado pela história, cita em seus autos o caso Watergate, paradigma de abuso de poder e queda de um presidente. Efetivamente, Moro recorreu às proporções desse grande escândalo para justificar a gravação e a filtração de uma conversa telefônica em que a presidenta Rousseff comunicava a Lula que havia enviado o termo de posse de ministro. "Use-o apenas em caso de necessidade", disse. Se assinasse o documento, como fez na quinta-feira, Lula receberia foro privilegiado e apenas o Supremo poderia julgá-lo. Vendo Lula escapar pelos seus dedos, o magistrado parecia lançar uma mensagem desesperada: façamos história, que caiam.

Ao seu resgate, veio outro juiz federal, Itagiba Catta Preta Neto, que se apressou a ordenar a anulação da nomeação de Lula porque "a ostentação e exercício do cargo poderia tornar-se uma intervenção indevida e odiosa na atividade policial do Ministério Público". Uma apelação curiosa, vinda desse magistrado.

Mais de um ano atrás, antes da eleições que Rousseff ganhou novamente, o mesmo recomendava: "Ajude a derrubar Dilma e volte a viajar para Miami e Orlando. Se ela cair, o dólar também cairá". "Fora Dilma", escreveu, ao lado de uma selfie, em uma manifestação. E recentemente, proclamou em seu Facebook: "Lula pode ser ministro da Justiça. Estamos perdidos".

Assim acaba a independência judicial. Apesar de as fronteiras entre o ativismo política e a Justiça serem tão difusas quanto no caso de Lula, outro magistrado, esse do Supremo, decidiu, na sexta-feira, suspender sua nomeação como medida cautelar.

Moro, portanto, pode continuar indo atrás de Lula. É o seu papel. Quando se viu obrigado a explicar por que filtrou uma conversa privada entre a presidenta e Lula, disse que a "chefe da República não tem privilégio absoluto no sigilo das suas comunicações", como demonstra "o precedente da Suprema Corte norte-americana em EUA v. Nixon, em 1974, um exemplo a ser seguido". Esquece que, no caso de Watergate, quem gravou seus adversários não foi um juiz, mas o próprio presidente, que foi obrigado a renunciar. Não é um mal exemplo para um magistrado, especialmente se ele tiver ambições políticas.

Quarta-feira (23) tem Caravana na Delegacia de Canoas

O Sindipetro-RS convida a todos e a todas para Caravana, na próxima quarta-feira, dia 23 de março. A atividade será na Delegacia de Canoas, às 17h30. Nesta edição serão tratados diversos assuntos de interesses dos trabalhadores e trabalhadoras, como a nova operadora do Benefício Farmácia, o pagamento dos níveis, o acompanhamento do Acordo Coletivo e assuntos diversos. No final, será realizada uma confraternização.

O quê: Caravana do Sindipetro-RS

Onde: Delegacia de Canoas

Quando: Quarta-feira, dia 23, às 17h30

Assuntos: Nova operadora do Benefício Farmácia, pagamento dos níveis, e outros assuntos relevantes à categoria.

 

Dia 26 será em Osório

No sábado, dia 26, a atividade acontecerá na Delegacia Sindical do Litoral Norte, em Osório, com um almoço de confraternização.

 

 

Por que eu vou à rua hoje

Passei as primeiras horas desta manhã olhando as fotos de meus tempos de rapaz, há 40 anos, impulso talvez da busca da única bússola capaz de nos conduzir, com céu limpo, com nevoeiros ou com tempestades: a coerência.

Não espero ser entendido por todos, mas sei que serei, ao menos, por alguns que hoje têm a mesma idade.

Como disse um dos meus filhos, anos atrás, ao ver a camaradagem com amigos dos tempos de faculdade, surpreso: “é interessante ver que você já foi jovem, porque  quando eu nasci, você já era velho”.

Hoje, engraçado, ele é tão “velho” quanto eu era quando ele nasceu.

O tempo tem estes caprichos universais: passa para todos.

E, como a democracia, em algo nos corrói, em algo nos afirma.

Temos mais cansaço, mais vícios, mais teimosias. Ficamos mais exigentes e também mais “reclamões”.

Mas também sabemos um pouco mais sobre os caminhos, sobre os personagens, sobre a história.

Não porque sejamos mais espertos, mais sabidos; apenas porque já os vimos.

Entendemos o que o Lupicínio Rodrigues quis dizer quando escreveu dos que “deixam o céu por ser escuro e vão ao inferno à procura de luz”.

Eu nunca fui petista, todos sabem, mas muitos dos meus amigos o são e muitos mais ainda eram e foram se afastando porque viram o tempo e a vida darem ao petismo os defeitos,  que são um ímã que atrai e ao qual nem sempre se tem como resistir, exceto com esta força a que temos: as nossas ideias e os nossos valores.

Hoje, porém, a minha geração tem um desafio tão grande quanto tinha a daquele guri magrelo que corria à frente das passeatas.

É o de evitar que os jovens deste país tenham de, dentro em pouco, viver os medos que nós vivemos.

Dos dias em que a um “o que você acha”, respondia-se, numa lúgubre brincadeira: “eu não acho nada, porque o último que achou ainda não acharam”.

Em que se punia, prendia, batia e até matava pelo que as pessoas pensavam.

Não eram uns malucos que hoje agridem alguém por vestir uma camiseta vermelha, não.

Era o Estado, com a sua polícia, com os militares desviados de suas funções de defender o País para o indigno papel de beleguins de um regime e – sim, pessoal, porque já havia – suas excelências, juízes e promotores, todos muito empolados e respeitáveis, legitimando as cassações de direitos, as prisões, os encarceramentos e até as execuções, mal disfarçadas em “tentou fugir”, “resistiu à prisão” ou “enforcou-se na cela”, como Vladimir Herzog.

E os jornais diziam sim, que era assim, que eram os “terroristas”, que eram os “corruptos”, que eram os inimigos da família e da pátria.

Tempos que começaram, quem diria, com senhoras e senhores da classe média clamando por “moralidade” e dizendo que o Brasil “jamais seria vermelho”.

Tenho o direito de dar este pesadelo a meus filhos?

Não vou à rua, hoje, para defender o PT.

Nem Dilma, nem apenas defender o Lula, pelo quanto ele representou e representa para o povão deste país.

Muito menos me defender, que já vivi a vida e não tenho do que reclamar, porque ainda tenho o que dizer e gente que me escute, lendo, muito mais gente do que já poderia ter um dia sonhado.

Naqueles dias, fui às ruas por mim, não hoje.

Vou à rua defender meus filhos e os netos que um dia terei e já nem sei se os verei.

Vou à rua defender meu avô, que mal sabia escrever e formou a filha professora, porque houve um Getúlio e vou à rua defender minha mãe, que já se foi, porque ela temeu pelo filho que se metia em passeatas.

Vou à rua defender aquilo sem o que a vida não tem sentido: a liberdade de que cada um seja o que é e não como querem que seja.

Vou à rua porque meu filho estava enganado.

Porque um homem só envelhece quando lhe tremem não as mãos, mas a mente, e ele e deixa, sem vontade própria, que seus passos sejam guiados.

Vou à rua porque só se morre quando o coração não bate e o cérebro para.

Fonte: Fernando Brito - Tijolaço

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