Nov 26, 2024

Negociação com a Petrobrás e subsidiárias começa nesta quinta-feira, 15

Com a categoria mobilizada de norte a sul do país, a FUP e seus sindicatos protocolaram no último dia 06 a pauta de reivindicações dos trabalhadores do Sistema Petrobrás. A primeira reunião de negociação com a empresa será na quinta-feira, 15, quando serão discutidas reivindicações referentes a benefícios, AMS, Petros e Anistia. 

Os petroleiros abriram a campanha reivindicatória com atrasos e paralisações nas bases, no mesmo dia em que as centrais sindicais realizaram manifestações conjuntas contra o PL 4330. A FUP cobrou da Petrobrás e subsidiárias a antecipação da inflação acumulada desde setembro do ano passado, cuja estimativa é de 6,6%, com base no ICV/Dieese.  

Também foram cobradas as pendências do último acordo que ainda não foram resolvidas pela Petrobrás, como a implementação do fundo garantidor dos trabalhadores terceirizados, o cumprimento de uma série de compromissos e cláusulas acordadas em relação ao SMS, a apresentação da proposta de regramento das PLRs futuras, além de questões relativas à Petros, registro de frequência e acordos jurídicos (cláusula 167).

Calendário de negociação

A FUP propôs para os próximos dias 15 e 16 as primeiras reuniões  de negociação para defesa e esclarecimento da pauta, mas a Petrobrás alegou dificuldades em sua agenda em relação ao dia 16.  A proposta da empresa é de que a primeira rodada de reuniões ocorra nos dias 15, 19, 26 e 28 de agosto,  a partir das 14 horas. Veja abaixo o que será tratado em cada reunião:

  • 15/08 - benefícios, AMS, Petros e Anistia
  • 19/08 - relações sindicais, efetivos e movimentação de pessoal, terceirização, segurança no emprego
  • 26/08 - SMS
  • 28/08 - salários, vantagens, condições de trabalho e PCAC

Entre as principais reivindicações dos petroleiros estão 5% de ganho real, condições seguras de trabalho, recomposição dos efetivos, melhoria dos benefícios, ­igualdade entre trabalhadores próprios e terceirizados.  Acesse aqui a íntegra da pauta de reivindicações

Greves na Repar e na Bacia de Campos

A abertura da campanha reivindicatória dos petroleiros já começou quente, com duas importantes greves  nas bases da FUP. Na terça-feira, 06, durante o Dia Nacional de Luta, os trabalhadores da Repar (Paraná) cortaram a rendição dos turnos por 24 horas, exigindo aumento do efetivo.  Estudo realizado pelo Sindicatopetro-PR/SC  revela a necessidade de contratação de cerca de 500 novos trabalhadores. Apesar da refinaria ter sido ampliada, seu efetivo próprio hoje é de 900 petroleiros.

Na Bacia de Campos, os trabalhadores das plataformas também pararam por 24 horas. A greve teve início à zero hora desta sexta-feira, 09, para pressionar a Petrobrás a pagar para todos os petroleiros os reflexos das horas extras do repouso remunerado.  A greve contou com a participação de 41 plataformas e foi o segundo movimento dos petroleiros da  região nos últimos  15 dias.  No dia 25 de julho, petroleiros de 40 plataformas atenderam à convocação do Sindipetro-NF e pararam por 24 horas pelo pagamento correto do repouso remunerado.

FUP

Violência contra a mulher: tempo de medo, tempo de lutas

"É o tempo do medo. Medo da mulher à violência do homem e medo do homem à mulher sem medo", disse o escritor Eduardo Galeano. Estas frases ressoavam em mim enquanto lia a publicação dos resultados da pesquisa mundial realizada pela OMS em 2013 sobre a violência contra a mulher.

Os resultados desta pesquisa apontaram para uma realidade triste: 1/3 das mulheres em todo o mundo sofrem de violência física ou sexual; a violência sexual é o tipo mais comum das violências contra a mulher e afeta 30% das mulheres em todo o mundo; e 38% das mulheres assassinadas no mundo foram mortas por seus parceiros íntimos. O relatório da pesquisa(*) considera a violência contra a mulher, portanto, uma epidemia global.

As raízes desta violência estão na discriminação ainda persistente contra as mulheres. Esta discriminação é um dos resultados de como normas e padrões de gênero se constituem sócio-historicamente e engendram desigualdades nas relações de poder entre homens e mulheres. Cria-se, hierarquicamente, o lugar do homem e o lugar da mulher, um binarismo perverso que constitui desigualdades, iniquidades e aprisiona subjetividades. Na sua origem, a violência contra as mulheres decorre do modo como produzimos estas relações de gênero e de como as reforçamos em nossos discursos, jogos, piadas e brincadeiras, para os quais devemos estar atentos, afinal, tornamo-nos cúmplices desta violência quando assim fazemos.

Como disse Galeano, é um tempo de medo, medo da mulher à violência do homem. Um medo que está arraigado em nossas experiências, às vezes de modo quase imperceptível porque já "naturalizado" pela condição social imposta às mulheres. O medo que nos acostumou ao medo de sairmos sozinhas à noite em nossa cidade, por exemplo. Não é aquele medo de sermos assaltadas, mas um medo maior, o de sermos violentadas. Um medo que muitas mulheres também sentem em suas próprias casas: o medo da violência de seus próprios parceiros. Medo na rua, medo no lar. Um medo tão intenso, naturalizado, arraigado, que pensamos tantas vezes que a culpa é nossa, e silenciamos, fingimos não ter medo.

Como um medo se transforma em luta para vivermos sem medo? Contarei a história de Maria, uma mulher brasileira. Seu ex-marido tentou assassiná-la duas vezes em 1983. A primeira tentativa foi com um tiro em suas costas enquanto dormia, na segunda ele tentou eletrocutá-la no banho. Maria perdeu o movimento das pernas, ficou paraplégica. O ex-marido não foi punido pelos crimes.

Maria foi à luta, e de sua luta temos hoje uma lei com seu nome: Lei Maria da Penha, que regulamenta os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher no Brasil e que altera o tratamento dado anteriormente pelo Poder Judiciário aos agressores de mulheres no âmbito familiar. Com a Lei Maria da Penha, o silêncio do medo começou a ser quebrado, e o número de denúncias de violência contra mulher no Brasil aumentou seis vezes desde 2006, quando ela foi criada.

Neste ano, mais um medo se transformou em luta, e da luta, mais uma conquista para as mulheres. Foi sancionada pela Presidência da República a PLC 03/2013, de autoria da deputada federal Iara Bernardi. A Lei obriga o SUS prestar atendimento emergencial e multidisciplinar às mulheres vítimas de violência sexual, a realização de diagnóstico e tratamento de lesões, exames para detectar doenças sexualmente transmissíveis e contracepção de emergência. Parece óbvio, mas este direito não estava garantido.

Mas o que se deseja é que estas leis não sejam mais necessárias. Portanto, a luta não acaba por ai. Movimentos sociais, coletivos feministas e de mulheres estão lutando para a superação das desigualdades de gênero e da violência contra a mulher. Ou seja, entender como as normas e padrões de gênero se constituem, e a serviço de quem estão assim constituídos, é uma tarefa política de todos. E se somos alvo de resistência, preconceito ou piadas por conta destas lutas, é porque o tempo, como disse Galeano, ainda é de medo, também o medo de muitos homens à mulher sem medo.

Profa. Dra. Viviane Melo de Mendonça é docente do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), câmpus Sorocaba.

Cruzeiro do Sul

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