Nov 27, 2024

Bob’s usou trabalho escravo durante o Rock in Rio, aponta fiscalização

Após investigação detalhada, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) concluiu que a rede de fast food Bob’s se aproveitou de trabalho escravo durante o festival Rock in Rio. Ao todo, 93 pessoas, incluindo um adolescente, foram resgatadas por fiscais durante o evento, que reuniu 85 mil por dia entre 13 e 22 de setembro deste ano na capital fluminense. Eles vendiam água, cerveja e refrigerantes como ambulantes dentro da Cidade do Rock, onde o festival foi realizado. O relatório de fiscalização com registro da situação em que os trabalhadores foram encontrados, depoimentos colhidos na época, e documentação apontando a responsabilidade da empresa foi registrado nesta semana na Divisão de Fiscalização para Erradicação de Trabalho Escravo (Detrae), em Brasília.

O Bob's é hoje a segunda maior rede de fast food e a décima maior cadeia de franquias do Brasil, com 1.011 lojas espalhadas pelo país, de acordo com dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF). No terceiro trimestre de 2013, a Brazil Fast Food Corporation, empresa que controla a marca Bob’s, anunciou R$ 335,7 milhões em vendas totais, um aumento de 26% em relação aos R$ 266,5 milhões no mesmo período em 2012 e creditou esta expansão, entre outros fatores, à participação no Rock in Rio, “onde o Bob’s tinha quatro pontos de venda”. Procurada pela Repórter Brasil, a assessoria de imprensa do grupo negou, em nota, que o caso seja de trabalho escravo e afirmou estar “à disposição das autoridades competentes para continuar prestando todos os esclarecimentos necessários”.

Entre os 93 resgatados, havia trabalhadores de outros estados que não receberam alimentação ou alojamento. Sem auxílio para pagar os aluguéis, eles ficaram em casas alugadas sem saneamento básico na favela Vila Autódromo, em condições degradantes em situação que violava a Norma Regulamentadora 24, segundo o MTE. Outros tiveram de esperar dias do lado de fora da Cidade do Rock pela credencial que daria acesso ao local para iniciar o trabalho. De acordo com o auditor fiscal do trabalho Cláudio Secchin, responsável pela operação, foram analisadas 362 carteiras de trabalho, mas o número de resgatados ficou em 93 porque muitos dos trabalhadores foram embora da cidade antes da finalização da ação, em 3 de outubro.

Para trabalhar, os contratados tiveram que assumir dívidas, o que também contribuiu para a caracterização de trabalho escravo pelos auditores fiscais. Todos foram obrigados a pagar R$ 150 para conseguir a credencial que os permitiria entrar e vender no evento. Muitos dos que ficaram esperando do lado de fora acabaram entrando só depois de comprar ingressos de cambistas.

De acordo com o artigo 149 do Código Penal, há quatro elementos que podem caracterizar o trabalho escravo: trabalhos forçados, jornada exaustiva, condições degradantes de trabalho ou a restrição de locomoção do trabalhador em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.

Os 93 trabalhadores resgatados foram contratados pelo Bob's por meio de terceirização ilegal que contraria a súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho, de acordo com os fiscais. Para preencher as vagas, a rede de fast food utilizou a empresa To East, que, por sua vez, subcontratou a 3D Eventos. O uso de empresas “interpostas” para contratar empregados para a mesma atividade-fim (venda de bebidas, no caso) é ilegal e, apesar da terceirização em série, para o MTE, não há dúvidas quanto à responsabilidade do Bob’s já que o grupo controlou a emissão das credenciais e o acesso dos contratados ao festival. A Repórter Brasil não conseguiu ouvir representantes da To East e da 3D Eventos sobre o caso.

Após a fiscalização, o Bob’s assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e pagou as verbas rescisórias no valor deR$ 102.485,57 em um acordo preliminar. Segundo o MTE, o valor total a ser pago é de R$170.389,57. Com a conclusão do relatório de fiscalização, agora o MPT do Rio de Janeiro pode fazer novas reuniões com a empresa e com a organização do Rock in Rio.

Procurada pela Repórter Brasil, a organização do festival reforçou que “a contratação de funcionários é de responsabilidade, firmada em contrato, dos operadores de bares e lanchonetes” e disse que, “ao tomar ciência das acusações, o Rock in Rio entrou em contato imediatamente com a empresa, nesse caso o Bob´s, para que a mesma tomasse as devidas providências”.

De acordo com o procurador Marcelo José Fernandes da Silva, nessa próxima fase, também poderão ser contemplados os demais trabalhadores não alcançados por essa fiscalização. Caso não haja acordo para impedir que o problema volte a acontecer, o MPT pode entrar na Justiça contra a empresa.

Rede Brasil Atual

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Portadores de HIV ainda enfrentam discriminação no local de trabalho

Neste ano, o slogan da campanha do Dia Mundial de Combate à Aids na Alemanha é "Viver positivamente juntos". A campanha ressalta a importância da solidariedade com os portadores de HIV, também no ambiente de trabalho.

Holger, de 49 anos, lembra como foi difícil o momento em que, há dez anos, falou abertamente na empresa onde trabalha que estava infectado com o HIV. A sorte, conta, é que o então chefe soube reagir de forma tranquila. A franqueza de Holger não prejudicou sua carreira, muito pelo contrário. Ele agora é chefe da agência, que angaria doações para instituições de caridade.

Fisicamente, Holger está bem. Ele tem que tomar um comprimido uma vez por dia. Um medicamento que garante que ele não adoeça de nenhuma das enfermidades que podem se tornar um risco de vida para pessoas com HIV. "Sou tão capaz como antes", enfatiza Holger. Mas muita coisa mudou na vida dele. "Você passa a cuidar mais de si. Por exemplo, para não se sobrecarregar demais, para que você possa continuar funcionando."

Expectativa de vida normal -Antigamente, o diagnóstico "aids" era quase uma sentença de morte. Há 20 anos, quase não havia uma maneira de conter a doença de forma eficaz. Os infectados muitas vezes morriam dentro de alguns meses ou anos. Ou tinham que lidar com limitações consideráveis. Quando Angelika soube há 18 anos que havia sido infectada pelo HIV, ela levou um choque.

A chamada "terapia antirretroviral", que hoje é padrão, não existia ainda. Há uma década, ela, que hoje tem 55 anos, teve que abdicar de seu emprego em um centro de aconselhamento para usuários de drogas. Ela recebe desde então uma pensão por invalidez. "Por causa da minha doença, por muito tempo eu não estive nada bem. Então, escolhi este caminho para conseguir um pouco de paz e força."

Mas, graças a novas drogas, os soropositivos na Alemanha agora têm expectativa de vida quase tão alta quanto a média da população. E se tudo correr bem e não houver complicações, a qualidade de vida não precisa ser diferente da de uma pessoa saudável.

Novas terapias, velhas imagens - Dois terços dos cerca de 78 mil portadores do vírus HIV que vivem na Alemanha continuam trabalhando normalmente. "Talvez eles pudessem ser muito mais, se muitos deles não tivessem que lutar contra a exclusão e a discriminação", acredita Manuel Izdebski, diretor na Deutsche Aids-Hilfe, associação alemã de apoio a portadores de HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. "Embora as pessoas com HIV tenham uma expectativa de vida normal, elas não têm uma vida normal, porque, muitas vezes, se tornam vítimas de estigmatização."

A organização ajuda há 30 anos pessoas que vivem com HIV a lidar com a doença. Antes, era uma questão importante informar o público sobre o HIV e sobre as formas de se proteger. Mas agora a grande maioria dos alemães sabe tudo o que é mais importantes sobre a doença, e a taxa de infecção diminuiu drasticamente. Com cerca de 3 mil novas infecções por ano, a Alemanha tem uma das taxas mais baixas da Europa Ocidental.

"Mas exatamente pelo fato de apenas um em cada mil trabalhadores estar infectado com HIV na Alemanha, a incerteza é muitas vezes grande, tanto entre amigos e colegas de soropositivos, quanto entre os chefes de funcionários portadores da doença", alerta Izdebski. Muitas pessoas soropositivas sequer são contratadas, porque os empregadores têm medo de que elas fiquem doente com mais frequência. "Isso tem a ver com as imagens antigas, que ainda assombram as mentes", lamenta Izdebski. "Se eu pensar como empregador, que acha que, possivelmente, está contratando alguém que está gravemente doente e logo vai morrer, eu até entendo. Mas há muito tempo que isso não é assim."

Importância da solidariedade - Por isso, a campanha deste ano no Dia Mundial de Combate à Aids tem, na Alemanha, o slogan "Viver positivamente juntos". Chamados "embaixadores", como o soropositivo Holger, ressaltam, em cartazes, a importância da solidariedade das pessoas mais próximas. Há um ano, existe também a campanha "HIV no mundo do trabalho", com participação de uma série de empresas. As companhias se comprometeram a fazer mais para garantir que pessoas com HIV possam levar uma vida trabalhista normal. Dela, participam grupos como Ford, Ikea, a Deutsche Telekom e a cadeia de hotéis NH.


Mas Izdebski não considera esse engajamento voluntário suficiente. Ele reivindica que a lei alemã que desde 2006 proíbe a discriminação, por exemplo, de homossexuais e pessoas com deficiência, também inclua a discriminação de doentes crônicos, como infectados pelo HIV. "Porque isso forneceria uma proteção importante contra discriminação, sobretudo na vida profissional."

No Brasil - Apesar da existência de norma da OIT que condena a exigência de teste anti-HIV para os/as trabalhadores/as no processo de seleção a um posto de trabalho e, de portaria do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil que proíbe que as empresas submetam trabalhadores a exames de HIV, de forma direta ou indireta, na admissão, mudança de função, avaliação periódica, retorno, demissão ou qualquer outro procedimento ligado à relação de emprego, ainda há a necessidade de aprovação final, pelos Senadores do Projeto de Lei  6124/2005 já aprovado pelos deputados federais, que criminaliza a discriminação de pessoas vivendo com HIV e AIDS. O projeto está na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania).

A partir da aprovação da Recomendação n.º 200 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre HIV e o mundo do trabalho, em junho de 2010, o Ministério da Saúde em parceria com o Ministério do Trabalho,a OIT e centrais sindicais e o Conselho EmpresarialNacional de Prevenção ao HIV/Aids(CENAIDS) deram início à sua divulgação e implementação no país.

O texto aprovado na Câmara prevê pena de 1 a 4 anos de prisão, além de multa, para as pessoas que discriminarem doentes de Aids. Entre as condutas consideradas discriminatórias constam: negar emprego ou trabalho, segregar no ambiente de trabalho ou escolar, e divulgar a condição do portador do HIV ou de doente de Aids, com intuito de ofender a dignidade. A matéria retorna ao Senado.

Conheça os direitos dos trabalhadores portadores de HIV no Brasil acessando os links abaixo:

http://www.maisbrasil.org.br/index_a.php?paginas=orienta
http://www.prt7.mpt.gov.br/atuacao_discriminacao.htm
http://agenciaaids.com.br/artigos/interna.php?id=366
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_humanos_hiv_aids.pdf
http://www.unaids.org.br/biblioteca/coletanea2012/links/ONU/ONU%2011.pdf
http://www.oitbrasil.org.br/node/277
http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/page/2010

 

Da Agência de Notícias DW - Deutsche Welle, com CUT Nacional

A tragédia anunciada

PROCOP faz um ano de aniversário com acidentes graves em Manaus e no Paraná

A política da atual gestão da Petrobrás, focada em reduzir os gastos e o número de trabalhadores, mostra resultados. As explosões que aconteceram na Refinaria Getúlio Vargas (Repar) e na Refinaria Isaac Sabá (Reman) não foram apenas acidentes, mas sim tragédias anunciadas. Em dezembro de 2012, a Empresa iniciou a aplicação do seu último programa de corte de custos, chamado PROCOP. No cardápio mais do mesmo conhecido pelos trabalhadores e trabalhadoras: redução do custo de manutenção e inspeção, postergação de serviços importantes e da redução dos efetivos, inclusive de terceirizados. Esse tipo de política de gestão existiu em outros momentos na Petrobrás com nomes diversos e os mesmos efeitos perversos. Os Sindicatos e a FUP alertaram que esse sistema incorria em riscos aos trabalhadores e ao patrimônio, mas a gestão da Empresa tapou os ouvidos para os alertas.  No caso da Repar, os riscos eram tão iminentes, que o Sindipetro-PR/SC já havia protocolado um dossiê com mais de 500 páginas, junto ao Ministério Público do Trabalho, alertando para os perigos que a refinaria sofria.

Na noite da última quinta-feira (28), um incêndio de grandes proporções atingiu a unidade de Destilação da Repar, no Paraná. O rompimento de uma tubulação nas proximidades da bomba de carga para os fornos da U2100 foi a causa da explosão. Por pura sorte, nenhum trabalhador se feriu. O calor do fogo causou grandes danos estruturais, chegando a entortar vigas de sustentação de equipamentos e dutos. Veja o vídeo no nosso site.

Na noite de ontem, 01 de dezembro, um incêndio na Reman, em Manaus, de causas ainda não explicadas, deixou três pessoas feridas. Um dos trabalhadores teve em torno de 23% do corpo queimado, enquanto o outro teve 34% do corpo afetado. Um terceiro colaborador também foi atingido, mas suas queimaduras foram mais leves. O Sindipetro Manaus está apurando as causas, mas já se sabe que o fogo foi provocado por uma explosão na Unidade de Craqueamento Catalítico (USCC), no momento da parada para manutenção.

Aqui na Refap temos uma gerência que defende o PROCOP de forma veemente. Soma-se a isso o aumento de carga no limite dos equipamentos. Os trabalhadores já perceberam os efeitos maléficos dessa política. Esperamos que esses acidentes sirvam para abrir os olhos e as mentes daqueles que tem poder de gestão. A Refap precisa urgente repor seus efetivos, situação já denunciada pelo Sindipetro ao Ministério Público. Não queremos que se repita aqui outra tragédia anunciada.   

 

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