Intelectuais repudiam o ódio de classe incentivado pela mídia
Em entrevista recente ao jornal Folha de São Paulo para divulgar o seu novo livro “A construção política do Brasil”, o economista Luis Carlos Bresser Pereira, ex-ministro de FHC, criticou duramente o golpismo movido pelo ódio de classes. Citamos aqui alguns trechos que foram repercutidos por vários intelectuais, inclusive pelo escritor Luís Fernando Veríssimo, em artigo dia 8 no jornal O Globo.
Diz Bresser:
“Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. Não é preocupação ou medo. É ódio. Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos. O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. A divisão que ocorreu nos dois últimos anos foi violenta. Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo”.
Ao comentar as considerações feitas pelo economista, Veríssimo destacou: “Confesso que até eu, que, como o Antônio Prata, sou meio intelectual, meio de esquerda, me senti, lendo o que ele disse sobre a luta de classes mal abafada que se trava no Brasil e o ódio ao PT que impele o golpismo, um pouco como se visse meu avô dançando seminu no meio do salão — um misto de choque e de terna admiração. Às vezes, as melhores definições de onde nós estamos e do que está nos acontecendo vem de onde menos se espera”.
Panelaço de barriga cheia de raiva
O teólogo Leonardo Boff fez questão de nomear os setores golpistas, que semeiam o ódio de classe no país. Em entrevista nesta última semana à Rádio Brasil Atual ele declarou que a crise econômica e política que o país atravessa é "em grande parte forjada, mentirosa e induzida”, ao ser amplificada por uma “dramatização da mídia conservadora, golpista, que nunca respeitou um governo popular. Devemos dizer os nomes: é o jornal O Globo, a TV Globo, a Folha de S. Paulo, o Estadão, a perversa e mentirosa revista Veja", declarou.
Um destes exemplos foi a tentativa da mídia de transformar em um grande protesto nacional o “panelaço” que as elites promoveram em alguns dos bairros mais ricos do país. Para Boff, o protesto foi "totalmente desmoralizado", pois foi "feito por aqueles que têm as panelas cheias e são contra um governo que faz políticas para encher as panelas vazias do povo pobre".
Em seu blog, o jornalista esportivo Juca Kfouri ironizou o “panelaço nas varandas gourmet”, que para ele não teve nada a ver com protesto contra a corrupção e sim “contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade”.