Esconderam as informações mais importantes que o Datafolha sobre corrupção divulgado hoje traz.
Não por inépcia, ou não só por inépcia, mas sobretudo pela má fé.
Duas coisas merecem consideração. Primeiro, que apenas 9% dos entrevistados consideram a corrupção o maior problema do país.
Clap, clap, clap. Aplausos de pé. Nada, no Brasil, se compara em dimensões trágicas à desigualdade social.
Mas os beneficiários dela, entre os quais os donos das grandes empresas jornalísticas, tentam fingir que este é o maior drama nacional.
Quer dizer, fazem isso quando um governo do qual não gostam está no poder, como foi o caso de Getúlio, Jango, Lula e agora Dilma.
Quando é um governo amigo, a corrupção não é assunto. O direito à reeleição de FHC foi comprado com malas de reais, tudo devidamente documentado, mas isso não era corrupção.
Caso ainda se interesse por ciência política, FHC tem oportunidade, diante da esqualidez dos 9%, de entender por que com tudo a favor – mídia, Marina, economia em situação complicada – Aécio conseguiu perder a eleição com seu samba de uma nota só, a corrupção.
Logo ele, o homem do aeroporto de Cláudio, da irmã que colocava dinheiro público nas rádios da família, logo ele se punha a falar em corrupção como se fosse um Gandhi.
Não surpreende que, com esta ladainha manipuladora da corrupção, protestos contra Dilma arregimentem escassas almas, que se dispersam aos primeiros sinais de chuva, como se viu outro dia em Belo Horizonte.
A segunda conclusão importante do Datafolha é que, para 46% dos entrevistados, governo nenhum investigou tanto a corrupção quanto Dilma.
Vê-se, aí, o acerto dos responsáveis pela campanha de Dilma ao colocar foco nisso e sair da defesa para o ataque nas semanas anteriores ao segundo turno.
O exemplo mais dramático da criminosa falta de empenho do PSDB em combater a corrupção está estampado no escândalo do Metrô.
Três administrações tucanas – Covas, Alckmin, Serra – não foram capazes de pôr fim à roubalheira do Metrô. Não fosse a Suíça, que denunciou contas milionárias abastecidas por propinas ligadas ao Metrô de São Paulo, estaríamos ainda no escuro em relação ao assunto.
Merece um capítulo especial, aí, o caso de um discípulo dileto de Covas, Robson Marinho. Covas o colocou no Tribunal de Contas, cuja missão, pausas para rir, é fiscalizar as despesas do governador de São Paulo.
Mesmo com evidências esmagadoras de alta corrupção, e de brutal enriquecimento pessoal por causa dela, Robson Marinho foi mantido no TCE até recentemente.
São estes os dois dados mais importantes do Datafolha: o baixo número de brasileiros que acham que o maior problema nacional é a corrupção, e o alto contingente que considera que nunca ela foi tão combatida como agora com Dilma.
Mas o noticiário das grandes empresas de jornalismo, como era previsível, destacou outra coisa.
A Folha, por exemplo, tomou a primeira página hoje com a “informação” de que a maior parte dos entrevistados atribuiu a Dilma “alguma responsabilidade” no episódio Petrobras.
A pergunta em si, sobre se Dilma é responsável e em que grau, já é falaciosa. Bombardeado por uma mídia que o tempo todo associa sofregamente o caso Petrobras a Dilma, que o entrevistado poderia responder?
Como sempre, o noticiário das grandes companhias de comunicação jogou sombra onde havia luz, numa inversão colossal de um sagrado princípio do jornalismo.
Mas a voz rouca das ruas, como mostra o Datafolha sem a edição malandra de quem manipula as informações, consegue enxergar a luz por conta própria, a despeito dos que tentam mantê-la no breu.
Diário do Centro do Mundo