Mais uma vida interrompida: até quando a Petrobrás vai fechar os olhos?

A morte do companheiro Marco Antônio Andrade, na semana passada, escancara a face mais cruel do descaso e da violência organizacional que vêm atingindo os trabalhadores da Petrobrás. Andrade atuou por 14 anos como vigilante na ISC e foi desligado de forma desumana, às vésperas de sua aposentadoria, após uma vida inteira de dedicação.

Esse não é um caso isolado. Na semana anterior, outro trabalhador da Petrobrás, Plínio Marcos da Silva, também teve sua vida interrompida em circunstâncias relacionadas ao adoecimento mental. Estamos em pleno Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, e a realidade dentro da Petrobrás exige muito mais do que discursos: exige ações concretas e imediatas.

O problema é estrutural: não podemos reduzir ao individual

Especialistas são categóricos: situações extremas de sofrimento psíquico não podem ser tratadas apenas como questões individuais. Elas estão profundamente relacionadas ao ambiente social e de trabalho. Quando há assédio, perseguição, transferências compulsórias sem diálogo e precarização das condições, cria-se um terreno fértil para o adoecimento.

Não por acaso, a OMS classifica o suicídio como um problema de saúde pública. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde (2021), são em média 42 mortes por dia. Globalmente, mais de 700 mil pessoas morrem a cada ano dessa forma — uma em cada 100 mortes registradas.

Na Petrobrás, os números são ainda mais preocupantes: entre novembro de 2022 e abril de 2023 foram cinco mortes confirmadas, quase uma por mês, além de tentativas. A maioria dos casos esteve ligada a processos de transferências compulsórias em um ambiente marcado pelo desmonte e pela insegurança.

O que os sindicatos estão exigindo

Diante dessa realidade, a FUP e seus sindicatos apresentaram propostas emergenciais à Petrobrás, que precisam sair do papel imediatamente:

– Implantar um programa robusto de saúde mental, com participação de sindicatos, academia e especialistas;

– Ampliar o teletrabalho para até 8 dias presenciais por mês, reduzindo deslocamentos e isolamento;

– Reabrir prédios regionais para dar suporte e diminuir impactos de transferências;

– Garantir que o trabalho presencial em coworkings seja em unidades próximas da residência dos trabalhadores;

– Criar um novo MOBILIZA, para transferências voluntárias baseadas em interesses comuns;

– Realizar concursos públicos urgentes para recompor os quadros perdidos nos últimos anos;

– Dar autonomia à área de Saúde para flexibilizar regras em casos de saúde mental;

– Ampliar o número de psicólogos, psicólogas e assistentes sociais para garantir acolhimento real.

– Essas medidas são urgentes. Cada dia de omissão custa vidas.

Até quando?

Não podemos naturalizar o que está acontecendo. Dois trabalhadores em apenas uma semana. Cinco em seis meses. A Petrobrás precisa assumir a gravidade do problema e colocar a saúde mental no centro da sua gestão.

O Sindipetro-RS, junto à FUP e demais sindicatos, reafirma seu compromisso intransigente de luta contra o assédio, a precarização e a negligência que têm custado vidas dentro da companhia.

Porque nenhuma meta, nenhum lucro e nenhuma política de corte pode valer mais do que uma vida.

O Sindipetro-RS se solidariza com os familiares e colegas do companheiro Marco Antônio Andrade, reforçando a luta por respeito, dignidade e proteção a todos os trabalhadores e trabalhadoras.

Andrade, presente!