O Dia da Consciência Negra, formzalizado na Lei nº 12.519, em 2011, é um momento de resistência contra a invisibilidade social e de enfrentamento dos muitos obstáculos ainda existentes para os negros e negras no Brasil, bem como a oportunidade de mostrar as conquistas desta parcela da população, após 127 anos da abolição da escravidão no país.
"O dia 20 é uma data de reflexão total e profunda sobre a realidade do negro brasileiro, que ainda não é ideal. Passado cento e tantos anos da abolição, a situação do negro é de preconceito, de racismo. Ele está à beira da cidadania, ele não está integrado à cidadania. A consciência negra foi um despertar na década de 1970 para tentar corrigir isso, para trazer à tona a real situação no negro. Na verdade, a falsa abolição a que se louvava tanto era uma situação fictícia", explicou o escritor Oswaldo de Camargo, autor de "Raiz de Um Negro Brasileiro".
A escolha da dia é uma homenagem a Zumbi, respeitado herói da resistência antiescravagista. Nesta data, em 1695, o líderes do Quilombo dos Palmares foi morto.
Para a escritora e assistente social Débora Garcia, a data significa um marco histórico da luta de Zumbi dos Palmares e do povo negro pela sua liberdade. "É um reconhecimento por parte do Estado que esse tema ainda precisa ser discutido pela sociedade brasileira para também a gente nunca esquecer do que aconteceu", opinou.
Ela aponta que hoje em dia muitas pessoas são contra o Dia da Consciência Negra questionando que, na verdade, deveríamos ter o 'dia da consciência humana'. "Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não estamos falando da humanidade em modo geral, estamos falando de um marco histórico de um povo que teve sua escravização como uma política de Estado por séculos. Então, do mesmo modo que o Estado legalizou a escravidão ele precisa legalizar mecanismos para que isso seja revisto, para que isso seja lembrado e nunca mais volte a acontecer", salientou.
Assim como Oswaldo, a escritora apontou que avanços significativos foram conquistados pelos negros e negras no país - como a Lei de Cotas -, mas que é preciso avançar muito mais. "Se as pessoas não reconhecem a necessidade de existir a data 20 de novembro ou as cotas raciais é por que precisamos qualificar mais o debate. Precisamos ampliar o número de negros que estão nesse cargos de decisão, que estão na mídia, que estão formando a opinião pública", disse.
Mobilização
Segundo dados da extinta Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) - que foi transformada em Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos - mais de mil cidades brasileiras comemoram o Dia da Consciência Negra.
Em São Paulo, um ato acontece a partir das 13 horas, no vão liver do Masp, na região central. "Nós, negras e negros do Brasil marchamos em 2015, vinte anos após a épica Marcha Nacional Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida, de 1995, ocasião em que celebramos os 300 anos de Zumbi e forçamos o Estado brasileiro a reconhecer oficialmente o racismo como problema nacional. Isto abriu espaço para a instituição de políticas públicas específicas de combate ao racismo", diz trecho da carta de convocação do ato.
Os organizadores dizem ir às ruas em centenas de cidades, pois passados trinta anos do fim da ditadura militar, a população negra ainda não tem sua cidadania plenamente respeitada. "A periferia ainda vive em uma situação típica da ditadura. Por isto, a democracia precisa chegar plenamente à periferia e ao povo negro!", dizem.
No Rio de Janeiro, atividades organizadas por movimentos populares acontecem em diferentes pontos.
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