Diante de um novo contexto no mercado internacional de petróleo, que combina aumento de oferta, principalmente dos Estados Unidos, e nova postura dos países grandes produtores do insumo, a Petrobras vem trabalhando para se tornar mais eficiente e gerar mais valor, a partir de um plano de negócios que prevê investimentos de 130 bilhões de dólares até 2019, afirma o gerente executivo da estratégia da Petrobras, Antônio Castro.
Com tais recursos, explica Castro, a previsão é a estatal ter 22 novos sistemas de produção entrando em operação até 2020. A ideia é eles serem responsáveis por compensar o declínio dos campos mais antigos, além de elevar a produção de petróleo da Petrobras para 2,8 milhões de barris por dia, contra os atuais 2,142 milhões de barris diários.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Carta Capital: A queda do preço do petróleoainda mantém a rentabilidade da exploração de boa parte dos campos do pré-sal?
Antônio Castro: Dentre as novas fontes de petróleo existentes no mundo, o pré-sal brasileiro é reconhecido como uma das mais competitivas em função da alta produtividade das acumulações descobertas e das tecnologias de produção desenvolvidas pela Petrobras e seus parceiros, que foram recentemente reconhecidas na OTC-2015 (Offshore Technology Conference). É importante destacar que os custos da indústria fornecedora de bens e serviços são historicamente correlacionados aos preços de petróleo no mercado internacional. Quando há redução relevante, como no caso atual do patamar de preços do barril, ela é acompanhada, ainda que não imediatamente, de uma diminuição dos custos em segmentos importantes do setor de bens e serviços. O efeito dessa redução compensa, em parte, a perda de receita ocasionada pela queda do preço do barril. Vale ressaltar, também, que as decisões de investimento em projetos de Exploração & Produção – especialmente os destinados a águas profundas – são baseadas em cenários que incorporam uma visão de longo prazo, não só para os preços, como também para todos os demais insumos e custos dos projetos.
CC: Como a Petrobras enxerga o preço do petróleo nos próximos dois anos? Há uma tendência de que ele continue abaixo dos 60 dólares?
AC: A queda no preço do petróleo ao longo de 2014 foi gerada por um excedente no mercado, ou seja, mais oferta que demanda. Nesta conjuntura, destaca-se a intensificação do fenômeno da produção não convencional (tight oil) nos EUA. Além disso, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) mudou a sua estratégia e, em vez de reduzir sua produção para acomodar o preço do petróleo em patamares mais elevados, fez um movimento inverso e vem aumentando a produção.
Em função desse novo comportamento da Opep, de não cortar produção para elevar os preços, compromisso esse informado na reunião de novembro de 2014 e reafirmado na última reunião do grupo em junho de 2015, as previsões de preço de petróleo para o Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2015-2019 foram revistas para um patamar bastante inferior ao considerado no PNG 2014-2018. Entendemos que os atuais preços abaixo de 60 dólares/bbl irão incentivar um aumento da demanda mundial de petróleo e, ao mesmo tempo, uma queda da oferta em função da redução dos investimentos em exploração e produção no mundo. Por isso, o preço do Brent (médio) no PNG 2015-2019 é de 60 dólares/bbl em 2015 e 70 dólares/bbl no período 2016-2019.
CC: Com essa conjuntura internacional, a empresa precisará ser ainda mais eficiente? Como está essa questão da eficiência? Como a empresa está trabalhando a eficiência na exploração dos poços?
AC: A Petrobras está aumentando o nível de produção no pré-sal brasileiro de modo economicamente viável à luz da alta produtividade dos poços produtores e da redução dos custos da indústria fornecedora de bens e serviços, que são historicamente correlacionados aos preços de petróleo no mercado internacional. Atualmente a Petrobras produz no pré-sal a uma vazão média de 20 mil barris por dia. Em alguns poços do polo pré-sal da Bacia de Santos tem-se alcançado vazões superiores a 30 mil barris de óleo por dia, com efeito positivo na economicidade dos projetos.
CC: Em relação ao plano de desinvestimento, como ele está sendo tocado? A venda da transportadora de gás é a mais iminente?
AC: O Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 prevê desinvestimentos no valor total de US$ 15,1 bilhões para o biênio 2015 e 2016. A companhia está estudando oportunidades de desinvestimentos nas áreas de gás e energia, exploração e produção de petróleo e gás e abastecimento, tanto no Brasil como no exterior. Para garantir a competitividade desse processo, não divulgamos as prioridades das negociações nem o andamento pari passu do programa, sendo que as informações relevantes sobre os desinvestimentos são imediatamente comunicadas ao mercado quando cabível.
CC: A empresa está caminhando rumo à maior eficiência, para se tornar preparada para o ciclo de baixa do petróleo?
AC: Estamos promovendo a reorganização de negócios, que significa reestruturar a forma como nós produzimos, investimos e vendemos e também a forma como estamos nos posicionando no mercado, de uma maneira que dê mais lucratividade, que busque maior margem e maior geração de valor para o acionista. Uma vez que a companhia está reposicionando seus investimentos, suas metas de produção e suas prioridades é importante que a empresa tenha uma nova estrutura organizacional, racionalizada, e reveja seus processos de gestão e de governança. São mudanças atualmente em curso na companhia.
CC: A empresa está na trajetória para cumprir as metas de aumento da produção nos próximos cinco anos?
AC: O Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 prevê um investimento total de 108,6 bilhões de dólares em exploração e produção de petróleo e gás, sendo 82% direcionados para o desenvolvimento da produção, principalmente em campos do pré-sal. Com esses recursos, teremos 22 novos sistemas de produção entrando em operação de 2015 a 2020, que serão responsáveis por compensar o declínio dos campos mais antigos e, mais ainda, elevar a produção de óleo da Petrobras no Brasil ao patamar de 2,8 milhões de barris por dia.
Fonte: Carta Capital