Nov 26, 2024

Não há empoderamento dos jovens no movimento sindical, aponta seminário da CUT-RS

Categoria: Noticias
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“Juventude que trabalha por um mundo melhor” foi o tema do seminário promovido pela CUT-RS na noite de quarta-feira, 7, no auditório do Sindipetro, em Porto Alegre, visando retomar o diálogo sobre questões que afetam os jovens trabalhadores no Estado. O evento foi organizado pela Secretaria de Juventude.

Na abertura da atividade, a secretária de Juventude da CUT-RS, Letícia Raddatz, afirmou  que o principal objetivo é a análise de conjuntura para ter um panorama e começar a organizar o trabalho da Secretaria. “É o nosso primeiro encontro e, com certeza, vamos realizar muitas trocas de ideias.”

O secretário nacional de Juventude da CUT, Alfredo dos Santos Júnior,  focou a participação dos jovens na educação e no mercado de trabalho, destacando que no Brasil a cultura ainda é de começar a trabalhar muito cedo. “Por exemplo, na agricultura familiar esse processo é cultural, há todo um processo de identificação do jovem e de pertencimento, porém o capitalismo se apropriou dessa cultura para precarizar o trabalho dos jovens”, disse.

Com o aumento da renda das famílias nos últimos anos, foi possível manter os jovens estudando por mais tempo. “Tanto que o movimento sindical e a OIT consideram jovem quem possui até 35 anos, mas já para o Ministério do Trabalho e Emprego a idade vai somente até 29 anos. Queremos que o jovem entre mais tarde no mercado de trabalho”, explicou.

Jovem não se identifica com o movimento sindical

Segundo dados apresentados por Alfredo, os jovens se inserem no mercado com ocupações informais, o que dificulta o diálogo com o movimento sindical. “Outro aspecto é que muitos estão trabalhando em áreas onde a cultura sindical é fraca, como comércio e serviços, e o jovem não se enxerga representado na entidade sindical.”

Há poucos dados sobre faixa etária nos cerca de 3.500 sindicatos filiados à CUT. Apenas em 2014 foi realizada uma pesquisa que levou em conta esse dado nas direções das entidades. Dirigentes com até 35 anos representavam apenas 10,9%; de 36 a 39 anos, eram 7%; entre 40 a 49 anos ficavam em 37,5% dos espaços; de 50 a 59 anos ocupavam 35,9% dos cargos; e 8,1% tinham mais de 60 anos.

Das secretarias de juventude dos sindicatos, 22% não são ocupadas por jovens. “A juventude que fundou a CUT envelheceu, assim como a forma de fazer política e o discurso. Não há valorização dos jovens nestes espaços. E muitos já entram reproduzindo essa fórmula ultrapassada. Além disso, há muita rotatividade, pois, para um jovem entrar, outro tem que sair. Criamos guetos no movimento sindical: mulher fala para mulher, negro para negro e jovem para jovem”, criticou.

Não debatemos ideologia com os jovens

De acordo com o dirigente da CUT, não houve empoderamento da juventude nos espaços de representação e, apesar dos avanços econômicos e sociais da última década, não houve discussão de ideologia com os jovens. Alfredo acredita que isso aponta a necessidade de mudança no sindicalismo: “não dá para fazer análise de conjuntura comparando com estatísticas do passado. Isso já acabou. Temos que pensar em como vai ser daqui para frente, nos desafios, aonde queremos chegar. É isso que nos atrai.”

Por fim, ele relatou exemplos de mobilizações de trabalhadores, na maioria jovens, que foram feitas à revelia dos sindicatos que representam essas categorias. “Por mais que esses movimentos tenham resultado em conquistas, as direções eleitas legitimamente precisam ser respeitadas. Mas, se não houver uma aproximação das entidades com a base jovem, o movimento sindical vai ser atropelado”, finalizou.

Aproveitamento dos espaços para agregar os jovens

A coordenadora-geral da UEE Livre, Natália Dória, falou sobre o movimento estudantil e dos avanços e dos retrocessos nas pautas da juventude no último período. “No governo do Tarso Genro tivemos conquistas significativas como a criação da Coordenadoria da Juventude, o Passe Livre, políticas públicas de incentivo aos jovens. Porém, os últimos meses foram de retrocesso com os cortes do governo Sartori”, contou.

Natália observa que,  além do movimento estudantil e social, ocupar espaços como pastas destinadas aos jovens nos sindicatos é fundamental para o fortalecimento de políticas para os jovens. “É um grande desafio pensar o próximo período e agregar mais jovens, mas justamente, por isso, precisamos nos apropriar deste debate.”

Para ela, eventos que atraem jovens, que muitas vezes não estão inseridos nos espaços de representação, como o Fórum Social Temático que acontecerá em Porto Alegre em 2016, podem ser uma estratégia “para ampliarmos a discussão para além das nossas entidades”.

Fonte: CUT-RS


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