SindBancários
A rotina desgastante nos bancos. O trabalho que exige do bancário e da bancária que eles se multipliquem para cumprir inúmeras tarefas ao mesmo tempo. Toda essa exigência tem levado os bancários à exaustão e à doença. As demissões que o Santander promoveu na semana passada demonstraram que o banco espanhol não só não cuida dos seus trabalhadores como demitiu pessoas incapacitadas para o trabalho de forma ilegal. O SindBancários já reverteu seis casos demissões do Santander por doenças incapacitantes para o trabalho.
"Os demitidos começaram a chegar aqui e, quando perguntados se tinham algum problema de saúde, respondiam que não. Quando perguntávamos se tinha algum tipo de dor ou estava nervoso, respondiam que sim. Levamos os trabalhadores para consulta com médico do trabalho e, de fato, foram constatadas doenças crônicas e psicológicas. Como o banco demitiu bancários e bancárias com mais tempo de trabalho, estamos esperando mais casos", disse o presidente do SindBancários, Mauro Salles.
Das 40 demissões na área de atuação do SindBancários, até a quarta-feira, dia 12 dezembro, seis foram suspensas por inaptidão. Ou seja, 15% dos demitidos até agora no Santander apresentaram LER (Lesão por Esforço Repetitivo) ou sofrimento psíquico. Os casos foram clinicamente comprovados.
Um desses casos foi de uma bancária com 19 anos de serviços prestados ao Santander. A bancária desenvolveu, nos dois ombros, bursite crônica. Tão grave quanto o processo inflamatório, foi saber, esta semana, que talvez ela não consiga se curar. Deverá precisar de cirurgia. A doença não é fruto da casualidade. Está sim diretamente ligada ao mergulho por vários anos na rotina de coordenadora do Santander e à sua condição pessoal de saúde. Hipertensa, a trabalhadora não pode tomar anti-inflamatórios. O jeito era tomar um poderoso analgésico à base de morfina. Estancar a dor e não tratar a doença: essa é a grande violência que o trabalhador, pressionado e inconsciente de que a pressão do banco é a causa, faz contra si mesmo.
A causa da doença é facilmente detectada, mas os bancários muitas vezes nem sabem. O caso da bancária é exemplar. Ela precisava cumprir a jornada de trabalho desgastante, duríssima, de mais de oito horas. Cumprir e vencer as metas. Tudo isso, num ambiente de pressão e de assédio moral. Nesse contexto, a dor não é vista como um sinal de que algo vai mal com a saúde e de que é preciso fazer algo. É visto como incompetência.
Algo que a diretora da SindBancários, Natalina Gué, refere como sendo uma prática que os bancos procuram tornar invisível. “O banco não reconhece que tem problemas nas rotinas de trabalho e que os bancários adoecem por causa disso. O trabalhador já nem procura se tratar das doenças de tão envolvido com a rotina que está. Acaba tomando analgésico e aprende a conviver com a dor. Até que chegam ao limite da doença em que o tratamento é quase irreversível como no caso da funcionária do Santander”, diz a diretora.
A bancária foi demitida, em 4 de dezembro, na semana em que o banco espanhol mandou embora cerca de 2 mil funcionários, em todo o Brasil. Na manhã desta terça-feira, 11 de dezembro, o médico que fez o exame demissional atestou que a bursite adquirida estava ligada ao desempenho da função. O médico, imediatamente, afastou-a, com atestado por 15 dias.
A demissão foi suspensa e a funcionária deverá fazer perícia no INSS. “O banco vive dizendo que compra o trabalho dos bancários e bancárias. Nós sabemos que os trabalhadores vendem sua saúde. Dedicam-se muitos anos, resistem a jornadas estafantes e se acostumam a isso. Se acostumam até a tomar remédio para dor e nem desconfiam que estão com doenças graves”, acrescenta a diretora Natalina.
“O conselho que dou para meus colegas é que não trabalhem doentes”
Há muitos anos tenho dores nos dois ombros. Depois da demissão, procurei o Sindicato e um médico do trabalho. Eu não sabia que estava doente. Estou com bursite e não sabia. O médico disse que, no estágio da doença, talvez seja caso de cirurgia. Nunca diagnostiquei a doença porque não ia ao médico. Ir ao médico é perder quase um dia de trabalho. A gente tem que chegar tarde ou sair cedo do trabalho. Não é bom para a imagem. Ter um problema crônico, então, nem se fala. A pessoa então não cuida de si. Inclusive, o médico me disse: ‘A senhora tem que cuidar mais de si e não só dos outros. Deixe o trabalho de lado e cuide da senhora’. Essas foram as palavras do próprio médico. A gente nunca acha que está doente o suficiente para se afastar. Tu vai levando para não prejudicar a tua imagem no banco. Nunca quis procurar o médico. Dentro dos padrões da empresa, ter uma doença e precisar de tratamento não é bom para a imagem. O conselho que dou para meus colegas bancários é que não trabalhem doentes. Porque tu não rende. Vai ser pior pra ti. Eu tomo tilex diariamente. Combato a dor para poder trabalhar. Fiquei com uma doença muito grave. No estágio em que a bursite nos meus dois ombros foi detectada, o médico acha que só com cirurgia. E, no meu caso, o tratamento é mais complicado. Porque não posso tomar anti-inflamatório por causa da hipertensão. Minha pressão sobe. Fiquei doente de fazer muita coisa ao mesmo tempo. Era comum ter que atender um cliente, ao mesmo tempo em que atendia ao telefone e digitava no computador. Também fiquei doente por trabalhar em caixa. São todos movimentos repetitivos que causam problemas para a gente e que, de tão focados na rotina, nem percebemos que estamos fazendo e desenvolvendo doenças graves.