Carta Maior
A vitória de Obama sobre Romney por pequena diferença no voto popular reflete o estilhaçamento atual da sociedade norte-americana, que se tornou presa fácil de apelos simplistas da direita - mesmo quando ela é representada por uma caricatura como Romney.
A supremacia financeira dos últimos 40 anos, grosseiramente condensável no trinômio 'mais credito, menos empregos de qualidade e maior corrosão de direitos' desconstruiu os laços de pertencimento do país que, sintomaticamente hesitou entre Obama e Romney , de fato nem tão antagônicos assim.
A atomização estrutural do tecido norte-americano nos dias que correm guarda significativa distancia daquele país que deu quatro mandatos a Franklin Roosevelt. A crise que se arrasta há quatro anos e as quatro décadas do vale tudo neoliberal que a antecederam varreram a ordenação da economia, destruíram sua base industrial e a coerência macroeconômica feita da subordinação das finanças ao Estado --maior legado do democrata odiado pela direita.
Da crise de 29, antecedida de uma revolução proletária na Rússia, Roosevelt ao contrário herdou uma classe operária inquieta, rebelde e arrojada. Seu espessamento sindical foi em parte obra do próprio democrata reformista que recebeu em troca um escopo de sustentação e de coerência impossíveis hoje.
Reeleito nesta 4ª feira, Obama fez um apelo à união. É formal. Ele sabe: quem quer que ganhasse o pleito de 2012 não uniria os EUA da desordem neoliberal. Não por falta de vontade. Mas porque as rupturas e a dissolução de seus fundamentos agora são muito mais extremadas do que aquelas enfrentadas por Roosevelt, que paradoxalmente dispôs de uma cola social mais densa. Ficou difícil manejar o império na pista da coerência.
A carta do futuro continua com as ruas; e em grande parte fora do país.