Em audiência no Senado sobre benzeno, petroleiros condenam limite de tolerância e cobram mais segurança

Trabalhadoras e trabalhadores petroleiros de vários estados do país compareceram em peso à audiência pública desta segunda-feira, 10, realizada pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal (CAS) para discutir os riscos da exposição ao benzeno, substância altamente tóxica e reconhecida por causar graves doenças, sobretudo o câncer. As lideranças sindicais refutaram qualquer limite de tolerância à substância e enfatizaram a necessidade de maior fiscalização e revisão dos protocolos de segurança para garantir condições adequadas de trabalho nas refinarias e demais unidades do Sistema Petrobrás.

O debate reforçou o compromisso histórico da FUP e sindicatos com a saúde e a vida dos trabalhadores. Os representantes da categoria defenderam políticas de prevenção e monitoramento contínuo da exposição ao benzeno, além da responsabilidade das empresas em adotar medidas efetivas de proteção coletiva e individual.

A diretora da FUP e presidenta do Sindipetro-RS, Miriam Cabreira, destacou a importância do Valor de Referência Tecnológico como instrumento de proteção à saúde. “O VRT é um dos grandes avanços e precisamos lutar cada vez mais para defender a saúde das pessoas. Os trabalhadores e as trabalhadoras são seres humanos, têm famílias, e é por eles que devemos continuar avançando e nunca retrocedendo nessa luta”, afirmou.

O diretor da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ) e diretor do Sindipetro-NF, Antônio Carlos Bahia, fez um forte apelo por mais segurança, manutenção das unidades e respeito à vida dos trabalhadores expostos ao benzeno, substância reconhecida como cancerígena e altamente perigosa. Ele chamou atenção para a precarização das condições de trabalho e citou o recente incêndio em uma plataforma de petróleo, em que as saídas de emergência estavam comprometidas pela corrosão do piso.

“Poderia ter acontecido uma catástrofe. Precisamos resgatar o processo de manutenção das unidades e garantir que o Parlamento olhe para o trabalhador brasileiro com um olhar mais humano”, declarou, destacando que a busca pelo lucro não pode se sobrepor à vida. “As empresas buscam lucro, mas não pode ser um lucro a qualquer custo”, afirmou Bahia.

Ele lembrou que sua fala representava não apenas os petroleiros, mas também as demais categorias que são expostas ao benzeno e a outros agentes nocivos em seus ambientes de trabalho, como é o caso dos químicos, petroquímicos, frentistas e trabalhadores de diversos setores industriais.

“Esses trabalhadores estão expostos a um agente químico cancerígeno, um verdadeiro assassino. O que pedimos é humanidade, critério e sensibilidade do poder público. O povo brasileiro precisa de mais apoio, não de decisões automáticas, frias, sem compaixão”, afirmou.

O médico do trabalho, Eduardo Pacheco Terra, que integrou a delegação do sindicalistas petroleiros, reforçou a necessidade de monitoramento contínuo da exposição ocupacional. “Por ser uma substância altamente tóxica, o benzeno exige prevenção constante no ambiente de trabalho. Quando não há monitoramento adequado e mensuração contínua da exposição dos trabalhadores da área petroquímica, perdemos o acesso à realidade do que cada um deles vivencia no dia a dia”, afirmou.

Apoio parlamentar

O deputado federal Bohn Gass também manifestou apoio à pauta, defendendo uma integração entre as áreas de saúde, trabalho e ciência: “Coloco-me inteiramente à disposição para contribuir nesse esforço conjunto. Vejo as áreas da saúde e do trabalho como pilares que precisam caminhar juntas, com apoio das comissões estaduais e nacionais e com base em dados científicos sólidos. As pesquisas apresentadas aqui já demonstram a gravidade da exposição ao benzeno e de outros riscos ocupacionais, por isso, precisamos de ações permanentes e estruturadas.”

O senador Paulo Paim, autor do requerimento de realização da audiência pública, que presidiu a audiência, destacou as doenças provocadas pela exposição ao benzeno e a importância de manter o tema em debate no Parlamento.

A audiência reuniu representantes de entidades sindicais, órgãos públicos e especialistas em saúde do trabalhador, que reforçaram a necessidade de fortalecer as políticas de proteção, prevenção e fiscalização sobre a exposição ao benzeno, especialmente nos setores industriais e de energia.

Com informações de Camila Pimentel e edição da FUP | Fotos: Asthego Carlos