FUP inicia diálogo sobre transição energética com a diretoria da Petrobrás

Dirigentes da FUP e de seus sindicatos participaram quinta-feira (10) de uma reunião com o diretor executivo de Processos Industriais e Produtos da Petrobrás, William França, que está acumulando, interinamente, a Diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade. Desde que a DTEN foi criada, em 2023, a FUP vinha tentando estabelecer o diálogo com a empresa sobre esse tema tão estratégico e sensível para os trabalhadores e a sociedade.

O encontro contou com a participação de gerentes executivos diretamente envolvidos com a transição energética. Eles apresentaram uma série de projetos em andamento e outros com entregas para os próximos anos, a maioria nos segmentos de refino, fertilizantes e petroquímica. Os gestores enfatizaram que o atual planejamento estratégico da Petrobras prevê investimentos de 16,3 bilhões de dólares na transição energética, um crescimento de 42% em relação ao PE anterior.

Os projetos envolvem sobretudo descarbonização, como usinas fotovoltaicas (energia solar) nas refinarias e geração de energia eólica onshore e offshore, e produção de combustíveis renováveis, visando a construção de uma cesta robusta e diversificada de bioprodutos. A meta é zerar a emissão de carbonos até 2050.

A gestão da Petrobrás enfatizou que a transição está diretamente associada à necessidade da estatal voltar a ser uma empresa de energia e que uma transição energética justa não pode ser conduzida de forma açodada e desorganizada. William França destacou os esforços para ampliação da capacidade do parque de refino, reforçando que a transição energética envolve todas as refinarias.

Ele lembrou que a gestão da Petrobrás tem realizado desde 2023 investimentos significativos para aumentar o fator de utilização (FUT) das refinarias, que já beira 98% em algumas unidades. O Planejamento Estratégico reajustou a capacidade de processamento em mais 292 mil barris por dia (bpd) e da produção de diesel S-10 em mais 360 mil bpd até 2029.

Menos dividendos e mais investimentos

A FUP e suas assessorias – Ineep e Dieese – criticaram a continuidade da política de distribuição de dividendos exorbitantes para os acionistas, apontando a necessidade de priorização de mais investimentos para a transição energética e a reconstrução do Sistema Petrobrás, a partir da recompra de ativos estratégicos que foram privatizados nos governos Bolsonaro e Temer.

O diretor técnico do Ineep, Mahatma Ramos, reforçou a importância da Petrobrás, enquanto empresa estatal, liderar a transição energética no Brasil, alertando para o risco do setor privado ocupar esse espaço. “O que temos observado é que há um movimento global de colocar o Estado e as empresas estatais para reduzirem os riscos para que o setor privado seja a liderança na construção dessa nova indústria verde. E isso é uma tendência que a gente já observou no Brasil, desde 2016, com as mudanças da regulação do setor petróleo, que amplia a participação do setor petróleo e fragiliza a Petrobrás”, destacou.

Ele enfatizou o posicionamento histórico da FUP de que a riqueza gerada pela exploração dos recursos naturais no Brasil seja direcionada não só para a transição energética, como para a política de desenvolvimento nacional, com construção e participação coletiva. Portanto, a distribuição da renda gerada pela exploração do petróleo não pode continuar privilegiando o pagamento de dividendos que são apropriados, em sua grande maioria, por acionistas internacionais.

Transição só é justa com diálogo

As representações sindicais afirmaram a importância de uma maior integração da Petrobrás com os trabalhadores e os movimentos sociais que estão atuando junto às comunidades impactadas. “Uma transição energética justa só ocorre quando há diálogo com os trabalhadores e as comunidades que são impactadas pelas novas tecnologias que estão sendo implementadas”, afirmou o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.

Ele lembrou que, desde a criação da diretoria de Transição Energética, em 2023, a FUP e os movimentos sociais que organizam comunidades que estão diretamente envolvidas como esse tema, como o MAB, o MPA e o MST, tentam estabelecer um diálogo mais amplo com a Petrobrás.

A diretora da FUP, Míriam Cabreira, reforçou a ansiedade dos trabalhadores em relação à transição energética. “Não podemos permitir que esse processo leve à pobreza energética, da mesma forma que temos muita preocupação em como essa transição vai refletir nos processos de trabalho, nos empregos, no desenvolvimento regional e na vida das comunidades onde a empresa atua”, declarou.

“Desde 2015, a FUP e seus sindicatos apresentam projetos para a Petrobrás e estamos agora construindo uma proposta de transição energética justa a partir da perspectiva dos trabalhadores e dos movimentos sociais. Queremos fazer esse debate com a empresa”, afirmou Miriam, enfatizando a importância da Petrobrás envolver os trabalhadores na pauta da transição energética, para que ela seja justa, inclusiva e democrática.

O diretor William França se colocou à disposição para participar de outras reuniões com a FUP e concordou em construir uma agenda conjunta de encontros temáticos periódicos sobre a transição energética.

FUP