Petrobrás precisa se posicionar em relação ao seu papel de desenvolvimento no Brasil

“É o terceiro maior volume de dividendos distribuídos pela companhia em sua história, R$ 75,8 bilhões, atrás apenas do observado no biênio 2021-2022”

 “A Petrobrás precisa tomar uma posição clara e definitiva em relação às suas políticas financeiras e seu papel no desenvolvimento do Brasil. Não é mais viável para a empresa continuar agradando a todos os lados ao mesmo tempo”, pondera o economista Cloviomar Cararine, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/seção FUP), referindo-se aos altos dividendos pagos pela companhia.

Mahatma Ramos dos Santos, diretor-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), comenta que apesar de quedas nas receitas da companhia, provocadas por reduções nos preços do brent no mercado internacional e rebaixamento dos preços e volumes de vendas de derivados no mercado interno, a Petrobrás buscou potencializar seu CAPEX e garantir remuneração recorde a seus acionistas, 5,7% superior aos dividendos distribuídos em 2023 e 2,06% superior ao lucro líquido apurado no exercício 2024. “É o terceiro maior volume de dividendos distribuídos pela companhia em sua história, R$ 75,8 bilhões, atrás apenas do observado no biênio 2021-2022”, destaca.

 

Com o lucro de R$ 36,6 bilhões em 2024, a empresa está retornando a um patamar de resultados próximos aos obtidos de 2003 a 2013, com uma média de R$ 26 bilhões por ano. O lucro líquido continua sendo positivo, embora a companhia tenha apresentado resultados negativos no segundo e no quarto trimestres de 2024, devido a “itens não recorrentes”.

Além disso, a gestão atual tem adotado estratégias que têm gerado benefícios para a população brasileira. Entre as principais ações, destacam-se o fim do Preço de Paridade de Importação (PPI), que tem proporcionado queda nos preços dos derivados no mercado interno, apesar da instabilidade nos preços internacionais; a redução das exportações de petróleo e o aumento da utilização das refinarias brasileiras, que atingiram 93% da capacidade operacional; e o aumento dos investimentos, com destaque para a indústria naval nacional. “Essas medidas têm resgatado o papel da Petrobrás como empresa estatal. No entanto, a companhia também segue agradando ao mercado e aos rentistas, especialmente aos investidores estrangeiros, com a distribuição de altos dividendos”, observa Cararine.

Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), reforçou a urgência de a Petrobrás reformular sua política de dividendos. “A empresa precisa, finalmente, assumir um compromisso com o desenvolvimento econômico e social do Brasil, priorizando o interesse da população e o crescimento sustentável do país”, sinaliza Bacelar, lembrando que a Petrobrás segue como um pilar fundamental da economia brasileira, com forte capacidade de geração de caixa e adaptação eficiente às condições de mercado.

FUP
Foto: André Motta de Souza/Agência Petrobras