Nov 23, 2024

Tem quem se incomode com o Dia Internacional da Mulher!

Esses incomodados costumam me questionar: “ se as mulheres querem igualdade, por que elas têm uma data especial? ”

Digo a eles que tal celebração nem precisaria existir se não houvesse o desrespeito pelas mulheres ideologicamente arraigado na sociedade, que se chama machismo.

Então, tentam ‘lacrar’: "ah, mas se é para haver igualdade, também teria que existir o dia internacional do homem!"

Aí explico que essa lógica é falaciosa. Desconsidera que o 8 de março foi instituído para alertar e conscientizar sobre o problema de as mulheres serem inferiorizadas, desfavorecidas e violentadas pelo machismo; portanto, não tem nenhum fundamento uma celebração equivalente para os homens.

Os incomodados chatos são machistas, é claro. Desde o berço, porque o machismo é passado de geração em geração. É uma tradição tão retrógrada que remonta ao passado caçador-coletor da humanidade. O mais perturbador é que o sagrado e reverenciado meio familiar, onde se forma o indivíduo social, é justamente o ambiente onde se ensina e se perpetua o machismo. Pondo o dedo bem na ferida – quanto mais conservadora é a mentalidade predominante num círculo de família, maior é a probabilidade de se criarem machistas. Isso acontece por meio do cinismo, das piadas preconceituosas e dos maus exemplos de pais, tios, avôs, primos e agregados.

Basicamente, a tradição machista cobra das mulheres a obrigação exclusiva de cuidarem das crianças e até do marido. E fazendo trocadilho, exclusiva até por excluir a mulher das oportunidades de crescimento social. A trabalhadora que é esposa e mãe, além da jornada no emprego, tem mais outra jornada no lar. Essa sobrecarga dificulta que ela estude e evolua profissionalmente. Lazer, nem pensar.

Enquanto isso, os homens tradicionalmente não fazem lidas domésticas, pela crença de que as tarefas “inferiores" são coisa de mulher, e que a eles compete se ocuparem com profissão e outras coisas “importantes”. Daí, usam empregadas, faxineiras, arrumadeiras, cozinheiras … a própria mãe (!), ou se CASAM! Daí se origina o consenso tácito de que os homens devem ser melhor remunerados, já que eles pagam por serviços de mulheres ou sustentam uma esposa! Na realidade, são muitas as mulheres que sustentam maridos vadios e viciados!

Para as mulheres que não se resignam ao papel de inferioridade, a tradição tenta manter a discriminação à força. De forma dissimulada e sutil, ou às vezes nem tanto, a violência contra as mulheres é aceita no ideário machista. Sendo as mulheres encaradas como subalternas, e consideradas item de posse dos homens, a insubmissão e a independência feminina é percebida como atrevimento e usurpação. Isso pode até despertar o ódio dos que se acham seus “donos”. Ainda mais agora, que o ódio está na moda! Recorde de 1.463 feminicídios no Brasil em 2023, é mole?

As mulheres que renegam a tradição, resistindo a se limitarem à escravidão do lar, sendo independentes, crescendo nas profissões, estudando, empreendendo, aplicando-se na política, no sindicalismo, no ativismo ambiental ou social, ou nas ciências, acabam sendo socialmente encaradas como transgressoras. Auferem a antipatia do consciente coletivo conservador, que fica torcendo e conspirando pelo fracasso delas. É assim que as “punições” que recaem sobre a irreverência feminina, que vão do assédio até a violência extrema do feminicídio, acabam encontrando tolerância e desculpas.

Exagero? Pois aqui vai um exemplo típico: o senso comum costuma dizer que “ao usar aquela roupa, ela pediu para ser estuprada”; esse modo de pensar consegue transferir a culpa do estuprador para a vítima! Outro exemplo, mais contundente: Marielle Franco; Preta, lésbica, ativista contra as desigualdades sociais e eleita vereadora! Não só conforme milicianos, mas também certas “pessoas de bem”, ela tinha mesmo que morrer.

Enquanto os incomodados conservarem a tradição de normalizar a desigualdade entre gêneros e a tolerância pelas diversas formas de violência contra as mulheres, o dia 8 de março continuará sendo absolutamente necessário para incomodá-los.

O Dia Internacional da Mulher convoca todos os seres humanos com senso ético baseado no respeito ao próximo a unirem forças no sentido de fazer a sociedade evoluir e superar o machismo e outros preconceitos.

Parabéns a todas as mulheres!

Texto do petroleiro aposentado da Refap, Vitor Dalavia

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