O Projeto Perspectivas 2024 do Petronotícias abre espaço para um dos principais líderes dos petroleiros no Brasil, o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar. Ele faz um balanço das atividades da classe, mostra os avanços que conseguiram para a categoria e detalha ainda as bandeiras que estão levantando para que, na visão da FUP, o Brasil funcione melhor, retome as grandes obras, deixando de privilegiar os fornecedores internacionais e valorizando as empresas brasileiras. A FUP, que participa do Conselho de Desenvolvimento do governo federal, acredita que a política de conteúdo nacional precisa ser revista para dar mais oportunidades ao mercado interno. Defende uma retomada vigorosa na indústria naval, trazendo as obras dos próximos navios e plataformas a serem contratados para nossos estaleiros. Para este ano, a FUP vislumbra isso e a retomada das refinarias que foram privatizadas. Vamos então mergulhar nas opiniões do maior líder dos petroleiros do Brasil:
– Como foi o ano de 2023 para os petroleiros e para a federação que o senhor coordena?
– O ano de 2023 foi repleto de desafios para a reconquista de direitos da categoria petroleira e da classe trabalhadora, que foram retirados ao longo dos últimos 7 anos. Tivemos, durante o ano, a reabertura da mesa de negociação, um respeito maior à negociação coletiva – não somente junto às empresas do sistema Petrobrás, mas também às outras empresas do setor de petróleo de gás aqui no Brasil. Isso tem gerado vários acordos coletivos de trabalho, que trouxeram de volta alguns direitos perdidos nos últimos anos e também a conquista de novos direitos para a categoria petroleira, no sentido mais amplo.
Além disso, houve a conquista de algo que era esperado pela sociedade brasileira e pelos petroleiros, que foi a suspensão de todas as privatizações dentro do sistema Petrobrás pelo presidente Lula e pelo presidente da companhia, Jean Paul Prates, bem como o processo do fim do preço de paridade de importação, em maio, quando a nova diretoria da Petrobrás assumiu a empresa, junto com o conselho administração.
Foi o ano também em que, a partir do convite do presidente Lula, participamos de várias reuniões do Conselhão – o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável – e também do Conselho de Participação Social, onde apresentamos propostas, principalmente relacionadas ao setor de petróleo e gás e à tão necessária transição energética justa. Lembrando que uma dessas propostas foi apresentada na plataforma do PPA Participativo – Plano Plurianual Participativo – e foi a segunda mais votada do Ministério de Minas e Energia, fazendo com que fosse colocada no PPA que está em discussão hoje, no Congresso Nacional: a proposta da criação de um fundo soberano para a transição energética justa, a partir das riquezas geradas pela produção de petróleo e gás no Brasil.
Lembro aqui também das várias reuniões que foram feitas com o presidente Lula, tratando do planejamento estratégico da Petrobrás, sobre as preocupações que tínhamos, e que felizmente foram encaminhadas. Por isso, acreditamos que o grupo de trabalho sobre planejamento estratégico do qual a FUP tem participado é fundamental para que tenhamos avanços com relação àqueles temas que não foram ainda atendidos, a exemplo da indústria naval, dos navios-plataforma que precisam ser construídos no Brasil.
– Que sugestões gostaria de passar para o governo ou para o mercado com o objetivo de melhorar as condições de negócios no Brasil?
– Acompanhamos de perto a mudança da gestão da alta administração da Petrobrás e da criação da diretoria de transição energética. Estamos fazendo críticas construtivas com relação à essa diretoria, que precisa colocar em prática projetos que são fundamentais para o país, a exemplo principalmente dos combustíveis verdes, a partir de uma refinaria completamente verde, que pode ser criada com base na nossa proposta para o Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, através de energia eólica, energia solar e da hidrólise da água dentro do polo, gerando hidrogênio; e a partir do uso também de biocombustíveis como o etanol e de outros combustíveis verdes.
Outro ponto fundamental é a questão do conteúdo nacional. A FUP tem feito também um debate, junto ao governo federal principalmente, sobre a criação de novas regras ou leis, para o conteúdo nacional, visando o fortalecimento da indústria brasileira, que está sendo impactada com as importações de produtos manufaturados e de equipamentos de outros países. Estamos falando até mesmo de grandes obras, como plataformas, navios, sondas de perfuração marítima e terrestre, que vêm de fora do Brasil. Estamos discutindo esse tema, inclusive – e de forma consensada – também, com o sindicato patronal na indústria naval, o Sinaval, e com a própria CNI – Confederação Nacional da Indústria.
Quando a gente fortalece a indústria nacional, acaba gerando empregos de melhor qualidade aqui no Brasil, não somente com renda maior, que gera uma massa salarial maior aqui no país, mas também com benefícios que chegam a esses trabalhadores e à sociedade como um todo. Até porque essa massa salarial é consumida no mercado, nas indústrias pequenas, no mercadinho, em serviço. Ou seja, tem um efeito dominó positivo, num ciclo virtuoso.
– Quais são as suas perspectivas de negócios do seu segmento para este novo ano que está para começar e quais as perspectivas da nossa economia para 2024?
– As perspectivas são boas, com a recuperação e crescimento dos investimentos. O planejamento estratégico da Petrobrás foi aprovado para os próximos cinco anos , 2024/2028, e traz sinalizações importantes como a reabertura da Fábrica de Fertilizantes do Paraná; término da obra da Fafem Mato Grosso do Sul; da obra do segundo trem da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; a conclusão das unidade de lubrificantes do Gaslub, no Rio de Janeiro; o Projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP), localizado na Bacia de Sergipe-Alagoas, a 100 km da costa, também foi sinalizado. Tem ainda os navios que foram colocados no plano estratégico, são quatro navios, com a possiblidade de mais oito.
Há também a nossa grande expectativa de reestatização das refinarias que foram privatizadas: Rlam, na Bahia; Reman, no Amazonas; SIX, no Paraná; Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC), no Rio Grande do Norte. Além disso, tem o possível início de perfuração de poço pioneiro na Margem Equatorial, na Bacia Potiguar, primeiramente, e com a esperança de que o Ibama vai liberar o licenciamento do poço pioneiro na região do norte do país, no Amapá.
Há também os investimentos apontados na transição energética. A FUP tem a expectativa de que o fundo soberano proposto pela entidade seja constituído a partir das riquezas do petróleo e gás e que tenhamos investimentos em energias eólica, solar, combustíveis verdes produzidos a partir de uma refinaria completamente verde.
Fonte: Petronotícias