A 7ª Marcha das Margaridas terminou na manhã desta quarta-feira (16) com uma série de propostas anunciadas pelo governo Lula em resposta à pauta entregue pelas mulheres que ocuparam a capital federal, vindas de todas as regiões do país. Com participação de mais de 100 mil trabalhadoras do campo e da cidade, a Marcha contou também com a presença do Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras, representado por lideranças da FUP e de seus sindicatos.
Considerada uma das maiores mobilizações de rua do mundo, a Marcha das Margaridas teve início em 2000, em adesão à Marcha Mundial das Mulheres. O nome é uma homenagem à Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, assassinada em 12 de agosto de 1983, por latifundiários da região. Ela lutava pelo fim da violência e por direitos das trabalhadoras do campo e afirmava que “é melhor morrer na luta do que morrer de fome”.
A partir de 2003, a Marcha passou a ter uma pauta nacional de reivindicações, que é apresentada aos governantes. Nesses 23 anos, foram realizadas sete marchas, sendo que a última edição havia sido em 2019.
Este ano, as caravanas de mulheres começaram a chegar à Brasília na madrugada de terça-feira (15), com concentração no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, onde foram realizados diversas atividades políticas e culturais, além da tradicional Mostra Nacional da Produção das Margaridas. Com o tema “Pela Reconstrução do Brasil e Pelo Bem Viver”, as organizadoras da Marcha apresentaram ao governo Lula e ao Congresso Nacional uma pauta com 13 eixos políticos.
Nesta quarta-feira, 16, as Margaridas foram recebidas pelo presidente Lula e ministros, que anunciaram a retomada de políticas públicas abandonadas pelo governo anterior, como é o caso do Plano Safra, que disponibilizará R$ 410 bilhões em investimentos para o campo, o maior montante desde a sua criação.
Lula destacou a importância da linha de crédito exclusiva para mulheres que foi criada pelo Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Com isso, mulheres quilombolas e assentadas poderão ter acesso a condições especiais de financiamento e outras medidas. “Só faz sentido o Brasil, se a riqueza do crescimento for distribuída, chegar a vocês, fazer a roda da economia girar e melhorar a vida das pessoas. Foi isso que fizemos uma vez e é isso que vamos novamente fazer”, afirmou.
Antes do pronunciamento do presidente Lula, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, assinou duas portarias: uma para reinstalar o Fórum Nacional de Políticas para as Mulheres Agricultoras do Campo, da Floresta e das Águas, e outra para implementar um fórum de discussão para tratar de questões de mulheres pescadoras, marisqueiras e das águas com o objetivo de definir políticas para o setor. A ministra também informou que serão implementadas 270 unidades móveis de atendimento às mulheres do campo, com profissionais da saúde, delegacias especializadas e outros serviços, além da criação de uma ouvidoria para monitorar os serviços.
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, anunciou a entrega de R$ 25 milhões e assistência técnica para a prática da agroecológica, com metade do valor destinado às mulheres e o lançamento do programa “Cidadania e Bem Viver”, para retomar o Programa Nacional de Documentação para a Trabalhadora Rural, criado no primeiro programa governo Lula, para benefícios previdenciários e trabalhistas.
Mas, o anúncio mais aguardado foi o lançamento do Programa Emergencial de Reforma Agrária destinado a assentar 7,2 mil famílias, sendo 5,7 mil com novas terras e 1,5 mil com créditos fundiários. A medida significa a retomada do processo de assentamento no país, após oito anos de desmonte das políticas relacionadas à reforma agrária. O ministro anunciou também verba de R$ 300 milhões para crédito de instalação destinados às famílias beneficiadas pela reforma, ressaltando que 40 mil famílias assentadas terão suas terras regularizadas e poderão ter acesso ao financiamento.
Presente à Marcha, a diretora da FUP, Patrícia de Jesus, que é coordenadora do Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras, enfatizou a importância da unidade com os movimentos sociais nas lutas feministas e antirracistas, fortalecendo as pautas por direitos, em defesa da vida, no enfrentamento aos assédios sexual e moral e contra todas as formas de opressões e discriminação de pessoas. “Estarmos juntas em Brasília, caminhando ao lado das mulheres do campo, da cidade, da floresta e das águas, é inspirador. A resistência e a força dessas mulheres são inspiradoras. É um momento histórico, que nos enche de esperança”, afirmou.
Míriam Cabreira, presidenta do Sindipetro RS e diretora da FUP, chamou a atenção para a diversidade e o tamanho da manifestação. “A Marcha das Margaridas é a principal mobilização de mulheres do Brasil, com repercussão em toda a América Latina. É um ato onde a diversidade está muito presente, assim como a unidade e a solidariedade, fortalecendo os laços entre mulheres de todas as partes do país, trabalhadoras, militantes e feminists do campo e da cidade”, afirmou.
Cibele Vieira, coordenadora do Sindipetro Unificado de SP e dirigente da FUP, também reforçou a grandiosidade da Marcha, que contou com diversas oficinas temáticas e culturais, além de debates políticos e pautas que foram renegadas nos últimos anos. “Houve um movimento de nos transformar em ‘belas, recatadas e do lar’, entre 2016 e 2022. Esse ato para nós, mulheres militantes, é uma convocação. É muito forte mostrarmos nossa unidade”, disse, destacando a importância da integração entre mulheres do campo e da cidade para fazer avançar a pauta da transição energética justa, tema que esteve presente nas reivindicações das Margaridas.
FUP