Com o tema “Sindicato na luta contra assédios e opressões no chão de fábrica”, o quarto painel de debate do XIX Confup fechou a programação desta sexta-feira, 04, no Instituto Cajamar. A mesa contou com a participação de Maria Luiza da Costa, presidenta da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e da socióloga Bárbara Geraldo de Castro, professora da Unicamp.
O debate foi mediado pela diretora da FUP, Patrícia de Jesus, que coordena o Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras, e por Tiago Franco, diretor do Sindipetro Unificado e coordenador da Frente Petroleira LGBT.
Bárbara Castro iniciou sua fala, citando dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, que apontam que as mulheres representam apenas 11% dos trabalhadores do setor petróleo no Brasil. “Os dados refletem estereótipos de competências e de habilidades consideradas masculinas, o que aumenta as discriminações e os desafios para o ingresso das trabalhadoras nesse setor”, afirmou.
Segundo a pesquisadora, a plasticidade da divisão sexual do trabalho reproduz as desigualdades que as mulheres enfrentam em seu cotidiano. Além de hierarquizar as relações de trabalho, isso cria o que ela chama de “gargalos de permanência”, impactando, por consequência, a participação feminina nas lutas sindicais.
Outro fator que contribui para esses “gargalos” é o trabalho de reprodução da vida que é imposto às mulheres ao serem responsabilizadas pelos cuidados com filhos e a família. Segundo Bárbara, a organização do tempo de trabalho está em conflito permanente com o tempo da vida. “O tempo da luta é a última coisa que vai entrar nessa agenda”, destacou a socióloga.
Ela, no entanto, ressaltou que, a despeito dos “gargalos de permanência”, as mulheres ocupam cada vez mais espaços de liderança e militância no movimento sindical.
Já a presidenta da Sempreviva chamou atenção para o enfrentamento aos assédios e violência contra as mulheres nos ambientes de trabalho. Ela citou dados da pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento apontou que 47% das mulheres foram vítimas de assédio sexual em 2022, um aumente de quase 9% em relação à pesquisa de 2021.
Maria Luíza destacou a importância do governo Lula iniciar o processo de ratificação da Convenção 190, que foi aprovada em 2019 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), com o objetivo de eliminar a violência e o assédio nos ambientes de trabalho.
“Essa, sem dúvida, é uma ação importantíssima para alavancar a nossa luta”, afirmou. “O combate ao assédio contra as mulheres deve ser encarado como uma questão da classe trabalhadora, que precisa ser enfrentado empresas e pelas organizações sindicais, com ações estruturais. Essa é uma agenda que não pode ser exclusiva das mulheres”, destacou.
Ao final das explanações, foi exibido o vídeo “Mulheres que rompem barreiras na Petrobrás”, produzido pelo Sindipetro RS.
Durante o debate com a plenária, as duas convidadas que falaram sobre assédios e opressões no ambiente de trabalho ouviram diversos relatos pessoais de petroleiras e petroleiros. Um dos que mais impressiou foi o da transexual Amanda Rodrigues, 35 anos, que integra a delegação do Sindipetro NF.
Da base do Parque de Tubos, atualmente lotada em Santos, ela é a primeira travesti a participar de um Congresso Nacional da FUP. Sua fala, assim como de outras trabalhadoras, emocionou os delegados e delegadas, ao relatar sua trajetória até o processo de transição que está atravessando no momento.
“Sou uma mulher trans-travesti, heterossexual, católica praticante. Vim falar sobre algumas pautas que estamos trazendo para tentar levar para o acordo (ACT). Imagine o que uma travesti enfrenta. É o tempo todo essa opressão, essa tentativa de nos diminuir. Eu sou uma mulher tímida, mas quando eu resolvi fazer a transição, eu virei um ser político, porque corpos travestis são corpos políticos. E é por isso que estou aqui, para trazer uma reflexão de sociedade. A gente só quer respeito e os nosso direitos”, afirmou.