Semana passada, a categoria petroleira foi novamente abalada pela notícia de mais duas mortes no Sistema Petrobrás. Essas mortes vêm na sequência de uma outra ocorrida dia 4 de abril. Somente em abril – ironicamente o mês da segurança no trabalho e que no dia 28 lembra as vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho - os petroleiros e petroleiras lamentaram a perda de três colegas.
Diversos fatores podem ter levado a estas mortes, mas, seguramente, há um importante componente que diz respeito às condições e/ou relações de trabalho existente nos ambientes laborais.
De acordo com matéria publicada pela Revista Proteção, há inúmeros alertas para o papel do trabalho na saúde mental dos trabalhadores. Dados do relatório “Diretrizes sobre Saúde Mental no Trabalho”, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em setembro de 2022, confirmam a necessidade de se trazer o debate à tona. Na mesma época, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicou uma nota conjunta com a OMS, na qual as novas diretrizes são explicadas por meio de estratégias práticas para governos, empregadores, trabalhadores e suas organizações, nos setores públicos e privados.
O mesmo estudo demonstra que, em 2019, em todo o mundo, 301 milhões de pessoas conviveram com a ansiedade e 208 milhões com depressão, enquanto o último mapeamento global de saúde mental feito pela OMS revelou que o Brasil tem a maior prevalência de ansiedade, com 9,3% da população sofrendo do transtorno. O Relatório Anual do Estado Mental do Mundo, divulgado em março de 2023, mostra que o Brasil ocupou o terceiro pior índice de saúde mental em um ranking que contou com 64 países. Segundo o estudo, 33,5% dos brasileiros (uma a cada três pessoas), relataram diversos sintomas relacionados a transtornos mentais.
Já de acordo com o INSS, em 2022, mais de 209 mil pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais, entre depressão, distúrbios emocionais e ansiedade.
Especialistas alertam que não interessa mais saber se o transtorno foi desencadeado no trabalho ou fora dele, e sim, qual foi o grau de participação do trabalho no desencadeamento ou no agravamento de uma condição pré-existente ou não.
Novamente os especialistas acreditam que é reconhecido que o espaço laboral é um dos principais impulsionadores de problemas psicológicos. Para eles, o trabalho é um elemento central.
As relações de trabalho que exigem alta produtividade, eficiência, desempenho e uso de habilidades técnicas são fatores que podem gerar a competição entre trabalhadores pela manutenção de postos de trabalho, gerenciamento de atividades ou prestação de serviços, situações que por si só são potencialmente produtoras de estresse, fadiga, ansiedade e depressão. Situação agravada desde 2020, com a pandemia de Covid-19, e que se mantém.
No caso da Petrobrás, além das ameaças constantes da privatização, houve uma brutal redução de efetivos, causando angústia pelas condições de trabalho e até de segurança, e sobrecarregando os trabalhadores que permaneceram na ativa. A pressão, o sucateamento da empresa e o assédio moral também contribuíram muito para alimentar medos e angústias.
MELHORAR A SAÚDE MENTAL
Em janeiro de 2023, a OIT alertou sobre a importância de se melhorar a saúde mental de trabalhadores, em especial neste período pós-pandemia. Para isso, é importante, diz a matéria, “compreender como o ambiente de trabalho – seja ele qual for – potencializa ou minimiza os riscos de um problema de saúde mental e como os trabalhadores com problemas de saúde mental estão sendo apoiados para manter seus trabalhos. É preciso avançar nessa agenda para garantir o direito à saúde mental e o direito ao trabalho decente”.
FATORES DE RISCO
O "Informe Mundial de Saúde Mental: transformar a saúde mental para todos", publicado em junho de 2022 pela OMS, alerta para a necessidade de mudança e investimento em saúde mental, demonstrando que transtornos mentais são a principal causa de incapacidade e causam um em cada seis anos vividos com incapacidade. Pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral.
Na perspectiva de compreender o problema para desenhar estratégias de ação, as diretrizes da OMS e da OIT apresentam dez fatores de risco para saúde mental, entre eles estão a carga, o ritmo e o horário de trabalho.
Os especialistas alertam, ainda, que “sob o ponto de vista ético, qualquer situação de trabalho que cause sujeição e sofrimento é inaceitável. A adoção de políticas institucionais de atenção, prevenção e cuidado, com ênfase nos campos da saúde mental e na saúde do trabalhador, pode ser um importante passo para a constituição de ambientes onde os trabalhadores sintam-se acolhidos e menos fragilizados”. É preciso, também, considerar outros aspectos, como as responsabilidades políticas, jurídicas, financeiras que resultam da desatenção à saúde mental dos trabalhadores e trabalhadoras.
SOBRECARGA DE TRABALHO
Entre os elementos elencados como causadores do adoecimento mental está como principal motivo, a sobrecarga de trabalho. Pesquisas revelam que o excesso de tarefas é o principal gatilho de crises, seguido por pressão por resultados e metas e sentimento de precisar estar disponível o tempo todo.
As doenças mentais associadas ao trabalho mais comuns são depressão, transtorno de pânico, ansiedade e síndrome de burnout.
Neste mês do ABRIL VERDE, mês dedicado a debater a segurança no trabalho e que tem como ponto alto o dia 28, DIA MUNDIAL DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO e DIA NACIONAL EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DE ACIDENTES E DOENÇAS DO TRA-BALHO, é importante refletir sobre o tema.
O adoecimento do trabalhador e da trabalhadora não se dá somente fisicamente, mas também e cada vez mais psicologicamente. Refletir sobre formas de melhorar os ambientes de trabalho, identificar, prevenir e investir na promoção da saúde física e mental no ambiente de trabalho, garantindo assim a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, é uma urgência. Não podemos, continuar, mensalmente, lamentando a morte de cada vez mais trabalhadores.