Uma representação do Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras da FUP reuniu-se nesta terça-feira, 11, com o Grupo de Trabalho da Petrobrás que está discutindo mudanças nos procedimentos de tratamento e combate à prática sistemática de assédio sexual contra mulheres na empresa, cujas denúncias vêm sendo relatadas por diversas trabalhadoras.
As diretoras sindicais, Cibele Vieira e Patrícia Jesus Silva, que participaram da reunião, questionaram os atuais procedimentos da gestão em relação aos assédios, principalmente o fluxo de tratamento das denúncias.
Elas cobraram um ambiente seguro para que as mulheres vítimas de assédio sexual possam denunciar e terem acolhimento e acompanhamento durante o processo de investigação. Também foram feitas propostas para uma política efetiva de combate à prática de assédios na Petrobrás, com punição aos agressores e também medidas sócio educativas para desconstrução de comportamentos machistas e misóginos.
“A primeira dificuldade que enfrentamos é o apoio para que as mulheres denunciem. As vítimas de assédio não se sentem seguras para denunciar. As trabalhadoras terceirizadas ficam com medo de demissão e as concursadas enfrentam a insegurança de serem perseguidas e colocadas na geladeira”, relata Patrícia, coordenadora do Coletivo de Mulheres da FUP.
Cibele explica que esse é um medo que todos os trabalhadores enfrentam, quando pensam em denunciar assédios, sejam mulheres ou homens. “As mulheres, além do medo de enfrentar represálias em suas carreiras, também têm o medo do julgamento social, de como serão tratadas pelos colegas de trabalho”, ressalta, referindo-se ao preconceito que ainda há na sociedade de culpar a vítima pela violência e assédio sexual que sofreu.
As dirigentes sindicais enfatizaram para o GT da Petrobrás a necessidade de garantir um ambiente de trabalho que não seja um entrave para as denúncias. Elas explicaram que, quando as trabalhadoras têm coragem para denunciar, elas não têm retorno da ouvidoria e não conseguem acompanhar o tratamento do caso. Além disso, ainda têm que continuar trabalhando ao lado do agressor, o que é grave, já que que ele deveria ser imediatamente afastado da vítima.
“Mesmo garantindo a presunção da inocência, a empresa tem que afastar o agressor do ambiente da trabalhadora, pois isso é muito ameaçador para ela. Sem falar, que ele pode interferir na investigação, ameaçando testemunhas, por exemplo. Esse tratamento preventivo é fundamental, pois se o homem não for afastado, a empresa está permitindo que a mulher assediada seja intimidade por ele”, explicou Cibele Vieira.
Outro fato questionado pela FUP é a inexistência de um acompanhamento da denunciante, que deveria estar sendo assistida pela área de saúde da Petrobrás. “Ela faz a denúncia, ela continua trabalhando junto com o agressor, ela passa pela avaliação social do seu núcleo de trabalho, às vezes o caso chega na família, enfim, vira um ambiente de trabalho ameaçador e que adoece ainda mais a vítima. É muito difícil a vida dessas mulheres durante o processo de investigação, do jeito que hoje isso é tratado pela Petrobras”, afirmou a coordenador do Coletivo de Mulheres da FUP, Patrícia Jesus Silva.
As dirigentes sindicais frisaram que são fundamentais o afastamento do agressor, o acompanhamento da vítima pela área de saúde da empresa e o acolhimento melhor dessas trabalhadoras. Foi também enfatizado que, comprovado o assédio, é preciso que haja uma punição do agressor, mas também medidas da empresa para desconstrução do machismo e misoginia.
O Coletivo de Mulheres da FUP sugeriu que a Petrobrás crie um grupo sócio educativo para debater a masculinidade, nos mesmos moldes do que é previsto pela Lei Maria da Penha, e que seja obrigatória a participação dos agressores e assediadores.
“Só a punição não resolve o problema. É preciso desconstruir a masculinidade tóxica, de forma permanente e periódica. Esse é um debate que serviria, inclusive, para garantir um ambiente de trabalho mais acolhedor para as vítimas de assédio sexual, pois sabemos que, infelizmente, ainda há julgamento das mulheres que denunciam”, afirmaram as dirigentes sindicais.
No caso das vítimas de assédio, foi proposta a criação de grupos de acolhimento para que tenham uma rede de apoio e suporte emocional de outras mulheres que passaram por essa violência sexual. “Só de saber que seremos acolhidas por outras mulheres que também passaram por situações semelhantes, nos sentimos mais seguras”, destacaram as representantes do Coletivo de Mulheres da FUP.
Elas também reforçaram a cobrança de um assento no Comitê de Diversidade da Petrobrás para representantes do movimento sindical, reiterando a importância dos trabalhadores terem um espaço permanente para discussão de propostas de combate a todas as formas de assédios na empresa, como machismo, racismo, LGTB fobia, capacitismo, entre outros preconceitos. Foi proposta a criação de uma comissão periódica de negociação para tratar dessas questões.
Ao final do encontro, a FUP cobrou uma nova reunião com o GT, antes da finalização dos trabalhos, para que o Coletivo de Mulheres Petroleiras possam ter acesso às recomendações propostas, antes de serem encaminhadas à Diretoria da Petrobrás. As representantes do GT foram bastante receptivas às sugestões feitas pela FUP e acolheram a reivindicação de uma nova reunião com as dirigentes sindicais, assim que os trabalhos forem finalizados.
Ainda ontem, após a reunião com o GT, as representantes do Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras da FUP reuniram-se com as trabalhadoras que integram o grupo de base que vem denunciando os assédios e violências sexuais na Petrobrás. As dirigentes sindicais aderiram ao “Manifesto contra o assédio na Petrobrás” (veja a íntegra aqui), organizado por elas, e, através do Coletivo de Mulheres da FUP, irão encaminha-lo à primeira-dama, Janja Lula da Silva, que tem se engajado nas lutas de combate ao assédio sexual, e também à ministra da Mulher, Cida Gonçalves.
FUP