Sob gritos de “Marielle Justiça” e saudações à ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), o governo federal decretou, nesta quarta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o anunciado pacote com 25 ações voltadas aos direitos das mulheres no país. Movimentos sociais e feministas lotaram o salão do Palácio do Planalto, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou as medidas como início do trabalho de seu governo para “qualificar a igualdade entre homens e mulheres no planeta Terra, a começar pelo Brasil”.
Acompanhado das ministras do Executivo, da primeira-dama, Janja Lula da Silva e de Dilma, além de deputadas e senadoras, Lula destacou o projeto de lei para promover a igualdade salarial entre homens e mulheres que exerçam a mesma função. O texto prevê medidas para que empresas tenham maior transparência remuneratória e amplia a fiscalização e o combate à discriminação salarial.
De acordo com o presidente, no projeto que será encaminhado ao Congresso há apenas “uma palavra” que o torna diferente de outras propostas que já tratam do tema, mas ainda não asseguram esse direito à mulher. “Essa mágica palavra chama-se obrigatoriedade de pagar o mesmo salário”, comentou Lula.
O presidente ainda chamou atenção para o fato de que, desde 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece que as mulheres tenham o mesmo salário. “Mas sempre tem uma vírgula que fica dando volta, e se criam tantos empecilhos”, comentou.
Ainda hoje, contudo, os homens ganham, em média, 17,5% a mais do que as mulheres, segundo dados do Cadastro Central de Empresas (Cempre) do IBGE. Lembrando da condição da mulher negra no mercado de trabalho, Lula reforçou que a equidade de gênero precisa estar alinhada à equidade racial. Em referência ao governo de Jair Bolsonaro (PL), o presidente destacou que o 8 de Março marca a volta de políticas públicas e de uma gestão que “comemora com o respeito que as mulheres exigem”.
“Nada, absolutamente nada, justifica a desigualdade de gênero. A medicina, a biologia, a anatomia não explicam. Talvez a explicação esteja no receio dos homens de serem ‘superados’ pelas mulheres, mas isso não faz sentido algum. Primeiro porque as mulheres querem igualdade, e não superioridade. E, segundo, porque quanto mais as mulheres avançam, mais o país avança. E isso é bom para toda a população”, justificou Lula, complementando que, se dependesse do governo federal, “a desigualdade de gênero acabaria hoje mesmo por um simples decreto”.
O presidente explicou, porém, que, além de políticas públicas, “as mentalidades e todo o sistema construído para perpetuar privilégios dos homens” também precisam ser mudados para se chegar ao fim da desigualdade. “E isso, minhas amigas, só será possível com muita luta no país. Nenhum avanço das mulheres foi dado de mãos beijadas. Todos foram conquistados com muita luta.”
O presidente finalizou o evento do 8 de Março pedindo às mulheres, que acompanhavam a solenidade, que continuassem cobrando o governo para fazer mais. “Não nos contentemos com o que conquistamos hoje. O que temos hoje é o estágio da consciência política que vocês têm hoje, declarou o presidente.
“Eu espero que vocês continuem evoluindo e brigando para conquistarmos tudo o que vocês têm direito no mundo do trabalho, da cultura e da educação”.
Conforme antecipou a RBA, o pacote de medidas é resultado de ações interministeriais, envolvendo mais de 30 pastas do governo federal, junto com os bancos públicos Caixa Econômica e Banco do Brasil, e ampliam os canais de diálogos do Estado com os movimentos de mulheres.
Entre as medidas decretadas neste 8 de Março (confira a lista completa no final da matéria) , o governo também estabelece a recriação do programa Mulher Viver sem Violência, que prevê a implantação de 40 unidades da Casa da Mulher Brasileira para acolhimentos de vítimas de situação de violência. Há ainda programas de combate à violência de gênero, licença à maternidade da Bolsa Atleta e a retomada de obras de mil creches em todo o país.
Durante a cerimônia oficial, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, acrescentou que a União estará à frente do programa Mulheres Guardiãs, voltado à população indígena. E que grupos interministeriais também foram criados para enfrentar a violência política de gênero e raça, combater o assédio na administração pública federal e definir uma política nacional de cuidados.
Ao lembrar da violência contra as mulheres que, a cada dia tira a vida de mulheres no país, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2022, Cida também condenou o que vem sendo chamado de “machoesfera”. Ou seja, grupos de homens que se unem na internet para propagar a misoginia, o discurso de ódio e repulsa ao sexo feminino.
O termo se popularizou após um coach de São Paulo viralizar com uma série de falas machistas e ameaçar de morte uma atriz que satirizou, sem citá-lo, em um de seus vídeos. “O desprezo e o ódio às mulheres não podem ser naturalizados. Não podemos aceitar o fato de que homens na internet ganhem dinheiro praticando misoginia. Isso precisa parar”, cobrou a ministra.