O seminário "Futuro da Indústria: Desafios da Política Industrial" abriu no Rio Grande do Sul uma agenda nacional de debates sobre um dos setores mais importantes para o desenvolvimento do Brasil. O evento, realizado nesta quinta-feira (18), no auditório do Sindipolo, em Porto Alegre, foi promovido pela IndustriALL-Brasil, com o apoio e a participação do Macrossetor da Indústria da CUT-RS.
A atividade reuniu trabalhadores de diversos setores industriais e foi o primeiro de uma série de 11 encontros que estão previstos para realização em diversos estados, com o intuito de diagnosticar os problemas da indústria brasileira através dos recortes regionais.
"Precisamos pensar a indústria a partir do que ela serve", afirmou o presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo da Silva. Para ele, que é diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o objetivo do debate tem que ser o desenvolvimento da sociedade brasileira, a distribuição de renda e a diminuição das desigualdades.
Aroaldo defendeu que é importante aglutinar as ações para avançar mais e melhor, pois o Brasil vive uma política, bem pensando, de antiindústria. “A indústria é matriz econômica, tecnológica e social. Os trabalhadores precisam se apropriar desse debate e discutir o futuro da indústria no país.”
“Vamos buscar na convergência o caminho para manter o setor forte, moderno e preparado para as transformações tecnológicas e levando em conta a questão ambiental. Só assim iremos garantir os empregos e a qualidade de vida dos brasileiros”, enfatizou o dirigente.
Diagnóstico industrial
O panorama da indústria no Brasil e no RS foi apresentado pelo técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Douglas Ferreira. Ele enfatizou que falar da indústria é falar da vida das pessoas. "É muito difícil separar a indústria, os produtos frutos dessa indústria da vida, do nosso dia a dia", disse.
De acordo com os dados apresentados pelo economista, o setor corresponde a 7,1 milhões de trabalhadores, 22% do PIB do país, 21,2% do emprego formal e 20,3% da massa salarial do Brasil.
Atualmente, o RS ocupa o 5º lugar no PIB industrial do país e o 4º de modo geral. Além disso, a participação da indústria no emprego é de 22%.
Douglas também abordou o efeito multiplicador do setor, afirmando que "a cada R$ 1,00 investido, o retorno é de R$ 2,63".
Outro aspecto destacado pelo Dieese foi o processo de desindustrialização que o Brasil enfrenta desde a década de 1980. “Nos últimos anos, 17 empresas são fechadas por dia”, destacou.
Um diagnóstico do Macrossetor da Indústria da CUT-RS foi apresentado e evidenciou que o desafio é como casar a necessidade do povo com a indústria, além de pensar a indústria local. O debate produzido no seminário será desdobrado nas reuniões do Macrossetor.
Plano Indústria 10+
Durante o evento foi apresentado o “Plano Indústria 10+”, que é um conjunto de diretrizes proposto pelo movimento sindical para orientar o governo nacional sobre a elaboração de políticas, programas e ações para o desenvolvimento produtivo e tecnológico do país.
Criação e articulação da demanda social; fortalecimento produtivo, inovação e modernização tecnológica; política tributária, macroeconômica, de financiamento e de comércio exterior; gestão e controle social são as diretrizes do documento assinado pela IndustriALL-Brasil e centrais sindicais.
Trabalhadores também são indústria
O coordenador do Macrossetor da Indústria da CUT-RS, Claudir Nespolo, alertou que "indústria não são somente os industriais". Segundo ele, "a indústria são as máquinas, os equipamentos, a tecnologia, os industriais e os trabalhadores. Nós também somos indústria".
"Por isso, estamos aprofundando o debate sobre o futuro da indústria. Nós queremos uma indústria com emprego decente, com financiamento, mas discutindo com os trabalhadores. e que ajude a responde as demandas do povo brasileiro", salientou Claudir, que é também secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS. "Temos que ter uma política industrial para atender as necessidades da população", propôs.
O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Loricardo de Oliveira, destacou que este seminário é modelo para outros estados. "É uma grande rodada que termina em setembro num encontro internacional. Por isso, é fundamental debatermos a indústria que queremos".
Já o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Vestuário (CNTV), João Batista Xavier da Silva, recordou o papel da CUT na construção desse debate, com a criação dos macrossetores no último congresso. "Estamos aqui para dar sequência a uma discussão que o macrossetor está se debruçando há meses", salientou.
Ao destacar a importância da unificação da classe trabalhadora, o presidente do Sindicatos dos Químicos do ABC e secretário-geral da IndustriALL, Raimundo Suzart, afirmou que as entidades patronais sempre querem dividir a classe trabalhadora. "Juntos somos fortes e os patrões sabem disso", acredita.
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário (Sitracom), Adriana Machado, defendeu a necessidade de valorizar a mulher dentro da indústria. "Nós sempre ganhamos menos e somos as primeiras a serem demitidas", frisou.
Pensar a indústria é pensar o Brasil
O presidente da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos da Força Sindical, Nando Trindade, ressaltou o trabalho da IndustriALL durante a pandemia "e que se torna ainda mais necessário diante do momento que estamos vivendo."
O presidente do Sindipolo, Gerson Cardoso, declarou que era um prazer receber a atividade, “que é o primeiro de uma série de encontros que visa pensar a indústria e o desenvolvimento do país.”
O tesoureiro da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Rio Grande do Sul (FTM-RS), Milton Viário, afirmou que pensar a indústria é pensar o Brasil. “Estamos num processo de convergência e isso é diferente do nosso trabalho sindical. Temos que debater com os capitalistas e ter clareza que não tem como avançar na indústria se não tiver a presença no Estado”, enfatizou.
Próximos seminários
Após o Rio Grande do Sul, o seminário terá encontros em Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Ceará, Manaus, Goiás e São Paulo, além do fechamento internacional onde será apresentado o resultado dos debates.