Análise do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) aponta que a Petrobrás deverá registrar lucro líquido de R$ 44,2 bilhões a R$ 60,4 bilhões no segundo trimestre de 2022. A divulgação do balanço oficial dos resultados operacionais e financeiros deve ocorrer na próxima quinta-feira (28/7).
No primeiro trimestre, a Petrobrás registrou lucro líquido de R$ 44,561 bilhões. O valor representou alta de 3.718,4% em relação ao mesmo período de 2021, quando a estatal registrou R$ 1,16 bilhão de lucro, devido, principalmente, aos impactos negativos da pandemia.
Além do lucro, o balanço da companhia também trará outros resultados. A expectativa de Geração de Caixa Operacional é de R$ 65,3 bilhões, enquanto o Fluxo de Caixa Livre de R$ 52,9 bilhões. Aguardada entre os acionistas, a distribuição de dividendos deverá oscilar entre R$ 47 bilhões e R$ 58 bilhões, caso seja mantida a mesma política de distribuição dos trimestres anteriores.
Tabela – Estimativas do Balanço da Petrobras (em R$ bilhões)
Aumento dos preços dos derivados: principal fator dos elevados lucros operacionais
Segundo as estimativas do Ineep, a receita de vendas da Petrobras foi de R$ 162,9 bilhões, crescimento de 47% em relação ao mesmo período do ano passado. Desse total, R$ 120,7 bilhões foram originários das vendas para o mercado interno (74% do total), que cresceram 60% na comparação com 2T21; e R$ 42,2 bilhões foram fruto das vendas para o mercado internacional (26% do total), que se expandiram em 19%.
As receitas de vendas de derivados para o mercado interno devem representar cerca de 59% do total das receitas da Petrobrás no 2T22, o que evidencia como os preços domésticos e a adoção do PPI impactam diretamente os resultados financeiros da companhia. As estimativas do Ineep para o 2T22 reforçam essa percepção, visto que, a despeito da queda de 2,4% dos volumes comercializados dos derivados, o preço médio do total de derivados subiu 55,0% no 2T22.
Cabe destacar que a privatização de refinarias, em especial da RLAM, além de reforçar movimento de ampliação da vulnerabilidade da companhia frente à oscilação dos preços internacionais neste 2T22, aumentou a participação da venda de petróleo, pela Petrobrás, para o mercado interno. Essa receita, segundo estimativas do Ineep, deve alcançar um montante de R$ 12,9 bilhões, sendo influenciada pelo aumento do preço do petróleo Brent, que se elevou de US$ 68,9 por barril, na média do 2T21, para US$ 113,9 por barril, na média do 2T22 (elevação de 65%).
É possível afirmar que o aumento da receita de vendas da Petrobrás para o mercado interno foi puxado, em grande parte, pela elevação dos preços dos derivados, decorrentes da adoção da atual política de preços de paridade de importação (PPI), e, em menor grau, pelo aumento dos preços e das vendas de petróleo para o mercado interno.
No que diz respeito às vendas da Petrobrás para o mercado externo na comparação dos resultados do 2T22 com o 2T21, verificou-se uma redução de 21,7% no volume de exportação de petróleo e derivados, fruto, em parte, da redução da produção de petróleo de 5% – de 2,76 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) para 2,65 milhões de boe/d. Mesmo com essa queda significativa nos volumes exportados, estimou-se um aumento de 19% nas receitas de vendas para o mercado externo em virtude do aumento de 65% do preço do petróleo no período.
Por conta desses resultados das receitas e da atual estrutura de custos da Petrobrás, o Ineep projeta que o lucro antes do resultado financeiro, participações e impostos (sem considerar a venda de ativos e os impairments) no 2T22 será de R$ 80,5 bilhões, valor 71% acima do registrado no mesmo período em 2021. Somando esse lucro operacional estimado (considerando a venda de ativos e as compensações) com o resultado financeiro (R$ -18,2 bilhões) e os impostos (R$ 26,5 bilhões) estimados, obtém-se o lucro líquido estimado de R$ 60,4 bilhões, conforme apresentado anteriormente.
Geração de caixa e pagamentos de dividendos
Esse lucro estimado da Petrobrás proporcionará uma Geração de Caixa Operacional ainda maior neste trimestre, cerca de R$ 65,3 bilhões, que é o resultado das entradas e saídas de caixa relacionadas as atividades operacionais (ver Tabela). De forma indireta, a geração de caixa operacional é calculada somando ou subtraindo itens (ajustes) do lucro líquido que afetam o fluxo de caixa operacional. Com essa geração de recursos, estimou-se um Fluxo de Caixa Livre (diferença entre a geração de caixa livre e gastos em investimentos imobilizados e intangíveis) da Petrobras no 2T22 da ordem de R$ 52,9 bilhões, crescimento de 9% em relação ao mesmo período do ano passado.
Com base nas estimativas da geração de caixa operacional e do fluxo de caixa livre e últimas distribuições de dividendos, o Ineep estimou também o montante da distribuição de remunerações para os acionistas entre R$ 47 bilhões e R$ 58 bilhões. Esse valor pode ser ainda maior, visto que ontem (26/7) o Governo Federal solicitou, por ofício, que a Petrobrás (e outras estatais) ampliasse a montante de dividendos pagos no próximo período². Do total estimado de lucros a ser distribuídos, 37% irão para o governo federal e para o BNDES; 63% para acionistas privados, dos quais 40% para os acionistas não brasileiros (NYSE-ADRs, B3, CRGI e Blackrock) e 23% para os acionistas privados brasileiros.
Em resumo, provavelmente veremos a história se repetir em mais um trimestre de grandes lucros para a Petrobrás e de enormes pagamentos de dividendos para os acionistas em prejuízo do consumidor.