A perda do poder de compra do brasileiro atinge níveis recordes no segmento de combustíveis. A quantidade de gás de cozinha, de gasolina e de diesel que um salário mínimo no Brasil pode adquirir em 2022 é a menor em mais de uma década.
Neste ano, um salário mínimo compra apenas onze botijões de gás de 13 quilos, abaixo dos 16 botijões em 2012. Na gasolina, em 2022, são em média 167 litros, volume inferior aos 227 litros de dez anos atrás. E no diesel, os atuais 180 litros estão muito aquém dos quase 300 litros do período anterior.
O levantamento é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/subseção da Federação Única dos Petroleiros), com base em dados de preços de combustíveis, convertidos em dólar, da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). “O encolhimento do salário mínimo, sem aumento real pelo terceiro ano seguido em 2022, se soma ao cenário de alta dos combustíveis e escalada da inflação, o que afeta o orçamento das famílias”, destaca o economista do Dieese /subseção FUP, Cloviomar Cararine.
“Por trás desse péssimo desempenho está a política de preço de paridade de importação (PPI), implantada pela Petrobrás em outubro de 2016, com reajustes dos combustíveis com base nas cotações internacionais do petróleo, variação cambial e custos de importação de derivados, mesmo o Brasil sendo autossuficiente em petróleo”, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.
Ele ressalta que, de outubro de 2016 a março de 2022, a gasolina nas refinarias acumulou reajustes de 157,3%, o diesel de 157,6% e o GLP de 349,3%, segundo dados da Petrobrás, elaborados pelo Dieese/FUP. No mesmo período, o salário mínimo subiu apenas 37,7%. “É o resultado da política de empobrecimento galopante do brasileiro, executada pelo governo federal”, diz Bacelar.
Em uma comparação do poder de compra de combustíveis em diferentes países, o estudo revela que o brasileiro precisa empenhar 21% do salário mínimo para adquirir 35 litros de gasolina. “É um dos percentuais mais elevados do mundo”, observa o coordenador-geral da FUP.
Isso significa que o Brasil, embora grande produtor mundial de petróleo e derivados, é o quarto pior colocado (atrás da Venezuela, Ucrânia e África do Sul), num ranking de 40 países classificados de acordo com o poder de compra de combustíveis de seus salários mínimos, em março último.
O estudo do Dieese/FUP mostra ainda que, por falta de investimentos no setor, a capacidade instalada de refino do Brasil está estacionada em 2.360 mil barris/dia desde 2016. Também o volume de produção de derivados se estabilizou na faixa de 1,8 mil barris por dia, desde 2017, abaixo do patamar de 2 mil barris /dia registrado entre 2010 e 2016.
FUP