Nesta sexta-feira, 25, dia em que a categoria petroleira realizou mais um movimento de protesto nas unidades da Petrobrás contra a alta dos combustíveis, o jornal Estado de São Paulo não perdeu tempo em sua campanha sistemática em defesa do desmonte e da privatização da empresa. Publicou longa matéria, com chamada de capa, intitulada “Jabuticabas perduram na Petrobras e turbinam ganhos de funcionários”. Um texto repleto de informações equivocada e de tom nitidamente manipulador.
Seria uma coincidência de datas? Óbvio que não. O objetivo do material dito jornalístico não é novidade, é recorrente. O argumento do Estadão para as “jabuticabas” gira em torno do que o jornal classifica como “interesses corporativistas” . Mas, os interesses que de fato estão no cerne da matéria do jornal são desqualificar os trabalhadores da Petrobrás e o movimento sindical, forjando, assim, caminhos para o alvo maior que é a venda da empresa.
Se o Estadão estivesse de fato interessado em um trabalho realmente jornalístico, imparcial, sério, deveria ter recorrido a informações que estão disponíveis nos relatórios das demonstrações financeiras da Petrobrás. Nesses documentos, o jornalista veria, por exemplo, que, em 2021, a estatal gerou R$ 403,1 bilhões em nova riqueza, medida pelo seu Valor Adicionado.
Quando se olha a distribuição dessa riqueza, no mesmo ano, percebe-se que os trabalhadores ficaram com 8% do total (incluídas aqui as despesas com a presidência e a direção da empresa). As instituições financeiras e fornecedores ficaram com 19%; os acionistas, com 27% e os governos (federal, estadual e municipal), com 46% em forma de tributos.
Ou seja, os trabalhadores ficaram com a menor parte da riqueza gerada pela companhia, ou seja, gerada por eles mesmos. O que gera nova riqueza na economia é o trabalho. Na Petrobrás não é diferente. Do total de despesas da empresa em 2021, os gastos com trabalhadores representaram apenas 5,76%, incluindo aí todas as despesas possíveis (remuneração, benefícios etc).
Também com base nos documentos oficiais da companhia é possível constatar que a Petrobrás é uma empresa desigual entre os direitos e as remunerações dos trabalhadores. Enquanto membros da direção da empresa recebem R$ 116,7 mil por mês, tem trabalhador na empresa recebendo R$ 3,6 mil, valor 32 vezes menor.
A desigualdade na Petrobrás vem aumentando desde 2018, em favor dos acionistas, como apontam os documentos oficiais da empresa sobre a relação entre dividendos/lucro líquido e remuneração variável/lucro líquido.
Entre 2002 e 2013, a relação entre dividendos e lucro líquido estava na faixa acima dos 35% (por lei, o mínimo deve ser 25%) e para os trabalhadores, abaixo de 6,25% (por lei, o teto de remuneração variável do tipo PLR seria de 25% dos recebidos pelos acionistas). Entre 2014 e 2017 a empresa não obteve lucro líquido.
Depois de 2018, tudo mudou a favor dos acionistas: em 2020, os acionistas receberam 144,9% do lucro líquido obtido pela empresa e os trabalhadores 37,4% (graças ao Programa de Prêmio por Performance (PPP), que não tem limite legal por ser um programa sem negociação com os trabalhadores).
Em relação ao exercício de 2021, enquanto os acionistas ficam com 95% do lucro líquido que a empresa obteve no ano, os trabalhadores ficam com 3,03% (aqui incluído os valores milionários recebidos pela presidência da empresa e os diretores).
Ainda em benefício da informação de qualidade, a matéria do Estadão deveria ter comparado “jabuticabas” com “jabuticabas”. E, assim, concluiria que a remuneração média dos trabalhadores da Petrobrás é bem inferior a de outras grandes petroleiras do mundo, sejam estatais (como a Equinor) ou privadas (como a BP, Shell ou Total). Além disso, a queda na remuneração média dos trabalhadores da Petrobrás é bem maior do que a de outras majors.
Enquanto os trabalhadores da Petrobrás perderam 32% de remuneração média/por trabalhador, no período 2014/2020, na Total a redução foi de 14% e na Shell e BP, de 13%. Em alguns casos, como na Equinor, aconteceu o contrário: de 2014 a 2020, a remuneração média por trabalhador aumentou 10%.
A reportagem do jornal paulista deveria ter lembrado que o vergonhoso na Petrobrás é o Programa de Prêmio por Performance (PPP), criado na empresa para beneficiar o alto escalão. O PPP distribui para os executivos e apadrinhados milhões de reais que foram gerados nas vendas dos ativos da companhia e no assalto à população por meio dos preços abusivos dos derivados.
O PPP foi considerado ilegal pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). O órgão manifestou-se favorável à ação que a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos movem na Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro, cobrando a suspensão do programa.
Vergonhoso também é a gestão da Petrobrás promover a maior transferência de renda da história. Com lucro e pagamento de dividendos recordes, de R$ 101,4 bilhões em 2021, a riqueza do brasileiro vai para os acionistas. Enquanto isso, investimentos da empresa ficam muito abaixo do valor distribuído.
No ano em que a população brasileira pagou preços recordes dos combustíveis e do gás de cozinha, a gestão da Petrobrás apresentou o maior lucro de sua história e privilegiou o pagamento de dividendos em detrimento dos investimentos.
A gestão da Petrobrás investiu US$ 8,7 bilhões em 2021, o equivalente a R$ 47,3 bilhões, convertendo ao dólar médio do ano. Ou seja, os investimentos realizados no ano passado foram menos da metade do valor da distribuição de dividendos. Entre 2003 e 2015, a média anual de investimentos da Petrobrás atingiu US$ 26,8 bilhões, sendo que em 2013 somou US$ 48 bilhões.
Em meio a isso, a direção da Petrobrás insiste em seu plano de vender ativos, que estão permitindo a ela acumular lucros gigantescos. Desde o início do governo Bolsonaro, até fevereiro de 2022, já foram vendidos 62 ativos da Petrobrás, no valor de US$ 33,9 bilhões, envolvendo diferentes setores de atuação da empresa, entre campos de petróleo; distribuição e transporte. , Trata-se do desmonte da maior empresa do Brasil em menor tempo já visto.
Nesse período, foram feitos 74 teasers (anúncios de venda), em média dois ativos anunciados por mês – o maior índice já registrado nos últimos dez anos. Há ainda 34 ativos da Petrobrás à venda: campos de petróleo em terra e mar; participações em empresas petroquímicas; subsidiária em biocombustíveis (PBio); refinarias, entre outros.
Tchutchuca com os acionistas e o alto escalão da Petrobrás e tigrão com os trabalhadores, o Estadão faz o que sempre fez: distorcer e manipular fatos para tentar jogar a sociedade contra os trabalhadores e, assim, encobrir os escândalos da privataria e o vale tudo por dinheiro do andar de cima da Petrobrás.
NOTA DA FUP