O Plano Estratégico de Negócios e Gestão (PNG) da Petrobrás para o período 2022-2026 apresenta poucas diferenças em relação ao resto dos planos estratégicos adotados pela empresa após 2016, o ano do golpe institucional no país. Mais uma vez, é um plano com muitas referências aos acionistas e quase nulas referências aos trabalhadores. Essa tem sido a marca das gestões que administraram a estatal após o golpe.
Mas o Plano traz uma novidade: pela primeira vez, espera-se um volume de dividendos pagos aos acionistas maior do que os investimentos da empresa. Cerca de 40% do valor a ser gerado pela empresa nos próximos 5 anos será destinado a essa função.
Enchendo bolsos, esvaziando mesas
Após a redução da dívida para menos de US$60 bilhões, a missão central da empresa agora está em gerar e distribuir valor, com maior remuneração dos acionistas, aprofundando o modelo de empresa privada que vem sendo construído. Essa visão é reforçada no PNG e constantemente defendida pelos gestores da empresa. Tudo em nome da “saúde financeira”. Para o diretor da FUP Mário Dal Zot, quem paga a conta é o povo brasileiro: “Esses balanços são ilusórios, porque estão baseados na venda de ativos e no preço dos combustíveis. E o problema é que quem está pagando o preço desse lucro e desses dividendos repassados aos acionistas é o consumidor. Isso não é correto, e castiga a população brasileira”.
Em reunião virtual ocorrida nesta quinta-feira (03), o economista Carlos Takashi, asesor do Sindipetro-NF e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (DIEESE), afirmou que “essa política de aumento dos dividendos favorece a concentração de renda no Brasil”. E acrescentou: “A Petrobrás tinha outra forma de atuação, pautada por uma preocupação com o preço dos derivados no mercado interno e com a cadeia produtiva interna, além de outras preocupações como a cultural, social e ambiental”. Agora, afirma: “A Petrobrás está abrindo mão de tudo em nome dessa visão de maximizar o retorno de capital e conseguir ter bons resultados financeiros”.
À venda
O PNG 2022-2026 mantém o compromisso da venda de ativos e sinaliza para a saída total da Petrobrás dos campos terrestres e de águas rasas até 2030. Somente no governo Bolsonaro já foram vendidos 58 ativos, e o processo de venda e de anúncio de venda de ativos está acelerado. Para Cloviomar Cararine, pesquisador do DIEESE, “até esse PNG a empresa vinha justificando a venda de importantes ativos para redução de sua dívida. Nesse, fica claro que, mesmo chegando ao valor desejado em relação à dívida (US$ 60 bilhões), a empresa continua a anunciar e vender ativos”. Para Cararine, isso mostra que “para além dos problemas em relação a essa estratégia (efeitos negativos para os trabalhadores, para a economia regional e para a empresa) não reduziu a dívida em reais (R$) e desintegrou uma empresa que atuava do poço ao posto”.
Outro aspecto preocupante do Plano é o escasso compromisso com a transição energetica. Segundo Mahatma Santos, do Instituto de Estudios Estratégicos de Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (INEEP), “A pesar do nível de investimento nominal ter crescido em relação ao plano anterior, há um baixíssimo nível de investimento na transição energética. Os que há se concentram demasiadamente na descarbonização, mas tem um investimento muito tímido nos bioprodutos. A empresa está mais preocupada -na contramão do que outras petroleiras do mundo estão fazendo- em distribuir valor do que em pensar numa transição energética que vá além da descarbonização”.
Os esquecidos
Não há no PNG referências aos trabalhadores. Mais uma vez são os grandes esquecidos pela gestão da empresa. Isso gerou muita preocupação na FUP, pois esse ano é também ano de discussão do Acordo Coletivo de Trabalho. Segundo Santos, “a empresa aborda de maneira genérica questões como segurança e direitos trabalhistas e apresenta poucos programas de responsabilidade social. Além de que quase não faz referência a políticas de conteúdo nacional”.
Na abertura da reunião, Dal Zot criticou ainda um fato muito grave acontecido na última semana: o bizarro evento no Polo GasLub, em Itaboraí, no Rio de Janeiro. Lá, o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido), o presidente da Petrobrás Joaquim Silva e Luna e diretores da Petrobrás, sem máscaras de proteção contra a Covid-19, se dedicaram a criticar a gestão do PT e mentir sobre a “roubalheira”. Segundo afirmou Dal Zot na reunião, com fatos graves como esse perde credibilidade toda a gestão da empresa: “enquanto exigem dos trabalhadores o uso de máscaras o tempo todo, e enfrentam o aumento de casos e as enormes dificuldades geradas pela negligência da gestão da empresa, eles fazem aquela exposição vergonhosa,sem máscaras de proteção, e que impacta muito a credibilidade da gestão, que demonstra estar manipulando politicamente a Petrobrás de forma mesquinha”.
Os trabalhadores lembraram aos técnicos da Petrobrás que a Federação está retomando a “Pauta pelo Brasil” e apresentando ela aos candidatos à presidência da República. Isso demonstra, segundo Dal Zot, que os trabalhadores têm um plano, tem propostas, e lutam para incidir de forma positiva na empresa. Para o diretor, “A Petrobrás tem que gerar um retorno para a sociedade, e isso não está acontecendo há um tempo de forma positiva. A população sente o retorno de forma negativa, quando vai comprar seu gás, ou abastecer seu carro. E aí que percebe que essa Petrobrás não tem compromisso com ela. Quem tem condições de reverter isso é a própria Petrobrás, gerando um plano estratégico que tenha como objetivo a sociedade.