Enquanto o presidente Jair Bolsonaro tenta se isentar da culpa pelos aumentos consecutivos e abusivos dos combustíveis, a gestão do general Joaquim Silva e Luna, que ele colocou no comando da Petrobrás, autorizou mais um aumento da gasolina e do diesel nas refinarias. O reajuste de 9,15% no diesel e de 7,2% na gasolina acontece logo após as distribuidoras brasileiras alertarem para o risco de desabastecimento, em função do corte de até 50% no fornecimento da Petrobrás.
Em um intervalo de apenas quinze dias, a gestão da empresa reajustou duas vezes o preço da gasolina nas refinarias, fazendo com que o produto acumule 73,4% de aumento somente em 2021. O diesel, que também já havia sido reajustado em setembro, acumula alta de 65,3% nos últimos dez meses.
Há exatos cinco anos, a FUP e seus sindicatos denunciam as consequências da política de Preços de Paridade de Importação (PPI), implementada no governo Temer e mantida por Bolsonaro. Desde outubro de 2016, os petroleiros alertam para as intenções por trás dessa medida: a subutilização das refinarias com fins de privatização e o favorecimento das empresas de importação de combustíveis.
Em audiência na Cãmara dos Deputados, no último dia 13, a FUP cobrou investigação sobre a atuação dos gestores da Petrobrás para beneficiar as importadoras, alertando os deputados para a possibilidade de formação de cartel. Nos últimos anos, o fator de utilização de refinarias (FUT) caiu de 94% para 70%.
O aumento constante dos combustíveis virou um pesadelo para a população brasileira e tem sido a principal causa da disparada da inflação, que já ultrapassou os 10% no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando a gasolina e o diesel sobem, o custo de vida dispara, em função dos efeitos em cascata dos reajustes, que impactam diversos custos de produção, transportes e o preço dos alimentos.
O preço do botijão de gás de 13 kg também disparou, chegando a ser vendido a mais de R$ 120,00 em diversas regiões do país. Só este ano, o GLP (gás de cozinha) acumula reajuste de 48% nas refinarias e cerca de 36% nas revendedoras. Por conta disso, várias famílias brasileiras estão tendo que cozinhar com lenha, carvão e até mesmo produtos inflámaveis, o que já gerou diversos acidentes e até mesmo mortes.
Levantamento feito pela subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que assessora a FUP mostra que, entre abril de 2016 e setembro de 2021, a produção nacional de petróleo cresceu 33% e o custo de extração pela Petrobras caiu 39,3%, devido, principalmente, às tecnologias desenvolvidas pela empresa e à produtividade do pré-sal. Também neste período, houve queda de 28,2% nos custos de refino, mas, o preço dos combustíveis não para de subir.
Só no governo Bolsonaro, a gasolina já acumula aumento de 106,6% nas refinarias. O diesel subiu 81,4% desde janeiro de 2019 e o gás de cozinha, 100,5%.
Se a produção nacional de petróleo aumentou e os custos de extração e refino caíram, por que os combustíveis aumentam tanto?
Esse disparate é resultado do Preço de Paridade de Importação (PPI), política de reajuste dos combustíveis que foi implementada pela direção da Petrobrás, em outubro de 2016, logo após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Desde então, o preço dos derivados produzidos nas refinarias brasileiras, com petróleo nacional, aumenta toda vez que o valor do barril sobe no exterior e ainda sofre a influência das oscilações do dólar e dos custos de importação, o que faz com que os reajustes sejam frequentes e abusivos, mesmo o Brasil sendo autossuficiente na produção de petróleo.
O governo Bolsonaro nada fez para mudar essa política de preços e ainda permitiu que a gestão da Petrobrás reduzisse, deliberadamente, a utilização das refinarias, que chegaram a operar com uma capacidade de produção abaixo de 70%, beneficiando as importadoras de combustíveis. Enquanto isso, aumentou as exportações de petróleo bruto e colocou à venda metade do parque de refino da estatal, privatizando também a BR Distribuidora, a Liquigás e praticamente todo o setor de logisitica, responsável pelo escoamento e distribuição de petróleo, gás e derivados.
Organizada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos, a campanha “Combustíveis a preço justo” vem sendo realizada há dois anos, através de venda subsidiada de gás de cozinha, gasolina e diesel, cujos preços são calculados com base nos custos nacionais de produção de derivados, o que representa, em média, metade do valor cobrado pelas revendedoras e distribuidoras. A campanha já subsidiou cerca de 10 mil botijões de gás de cozinha em diversos municípios do país, ao preço médio de R$ 50,00, atendendo famílias em situação de vulnerabilidade social de norte a sul do Brasil.
“A disparada da gasolina, do diesel e do gás impacta diretamente no custo de vida da população, fazendo aumentar, em efeito cascata, o preço dos alimentos e dos transportes. A campanha do preço justo para os combustíveis é uma forma de nos solidarizar com aqueles que mais sofrem com esses aumentos e mostrar que o governo precisa interromper as privatizações na Petrobrás e mudar a forma de reajuste dos derivados de petróleo para que acompanhe os custos nacionais e não os de importação”, explica o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar.
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