A última mesa de debate da IX Plenafup, realizada no sábado (14) à tarde, teve como tema “Energia para reconstruir o Brasil e a proposta dos petroleiros e petroleiras” e contou com a participação do ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que integra o grupo de pesquisadores do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP). Ele dividiu a mesa com a diretora da FUP, Cibele Vieira, que traçou um panorama dos principais desafios enfrentados pela organização sindical petroleira, diante do desmonte do Sistema Petrobrás e de uma gestão que espelha o projeto antidemocrático do governo Bolsonaro.
“No começo de 2020, a conjuntura nos levou a uma grande greve, a maior greve depois de 1995, mesmo tendo passado pela greve de 2015, em 2020 foi um nível de acirramento ainda maior e com uma pauta absurda, uma pauta que era cobrar um espaço negocial. Nós ocupamos uma sala no EDISE, na simbologia de que era uma sala no andar do RH onde era para serem feitas negociações, só que era um espaço vazio, não existia negociação, pois a empresa com essa nova gestão não reconhece o movimento sindical. Por isso essa exacerbação das negociações individuais”, lembrou.
Cibele chamou atenção para os desafios que a categoria petroleira e o movimento sindical têm enfrentado, com o avanço das privatizações e a precarização das condições de trabalho decorrentes deste processo. Ela observou que, apesar da Petrobrás ainda ser a principal petrolífera do país, está cada vez perdendo mais espaço dentro da indústria nacional do setor.
Desde a quebra do monopólio da estatal, em 1997, os governos brasileiros realizaram 16 leilões de campos de petróleo no modelo de concessão e sete, no modelo de partilha do pré-sal, o que significou a entrada de 69 operadoras no setor de óleo e gás. Atualmente, são cerca de 101 empresas de petróleo atuando no Brasil, sendo 51 nacionais e 50 estrangeiras.
A Petrobrás, que em 2010 era responsável por 93% da produção nacional de óleo e gás, em 2020 representava 73%. Ou seja, uma redução de 20% na última década. Soma-se a isso, a desintegração do Sistema, com a privatização de 32 ativos entre 2014 e 2021, incluindo subsidiárias, empresas de logística, plantas de fertilizantes, termelétricas, usinas de biodiesel.
“Tudo isto que está acontecendo está dentro do contexto do que a gente vai retratar aqui, acho que a plenária e essa mesa, Energia para reconstruir o Brasil, nos faz questionar, de onde vem essa energia? Vem do petróleo, afinal o petróleo é uma energia, mas quem faz a disputa por essa energia para reconstruir o Brasil? Não é lá no fundo do poço que isso acontece, isso é uma disputa social”, afirmou Cibele. “Precisamos de um movimento sindical cada vez mais forte para fazer essa disputa”, destacou.
Em sua explanação, Gabrielli buscou discutir o que estará previsto para a indústria energética e a geopolítica mundial do setor petróleo de 2023 em diante, chamando atenção para o atual quadro de disputa entre os Estados Unidos e a China. “São dois modelos de sociedade que se diferenciam profundamente em relação ao papel do Estado”, afirmou, destacando que as duas nações também lidam de forma diversa com a transição energética.
“Os dois países estão vivendo um processo intenso de aceleração dos problemas de transição energética e dos esforços para atingir fontes renováveis de energia. Teremos a Cúpula do Clima em 2022. E chegaremos a 2023 com intensificação de políticas para fontes alternativas de energia”, ressaltou Gabrielli.
O ex-presidente da Petrobrás lembrou que o setor de gás natural no Brasil sofreu mudanças profundas recentemente. “Há dois meses atrás, o gás natural passou por uma revolução regulatória e eu chamo atenção para essa reforma, que é uma brutal transformação na lei do gás, cujo objetivo fundamental é tirar a Petrobrás, o objetivo é explodir o setor do gás para dar espaço para o setor privado e reduzir ao máximo o papel da Petrobrás”, alertou.
Os debates levantados na mesa - que foi mediada pelos petroleiros Homero Pontes, eleito conselheiro da Transpetro, mas cuja posse até hoje não foi homologada pela empresa, e Marcus Ribeiro, coordenador do Sindipetro AM - serão aprofundados nos grupos de trabalho da IX Plenafup, que ocorrem neste domingo.
FUP