Nov 25, 2024

Petroleiros acionistas se unem em defesa da Petrobrás

 

Fundada no segundo semestre de 2020, a Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás (Anapetro) surgiu para representar os interesses dos funcionários da estatal que possuem ações da companhia. Integrando as bases sindicais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a entidade possui, até o momento, cerca de 500 trabalhadores filiados.

Segundo o site da Anapetro, a principal proposta da associação é defender a soberania nacional e manter a Petrobrás como uma empresa estatal para que a companhia possa exercer papel fundamental no desenvolvimento social e econômico do Brasil.

Em entrevista, o petroleiro, dirigente sindical e presidente da Anapetro, Mario dal Zot conversou sobre os interesses da entidade e expectativas com as recentes mudanças no Conselho Administrativo e presidência da Petrobrás.

Confira a entrevista.

O que a Anapetro representa e quais interesses defende?

Uma coisa que o trabalhador da Petrobrás tem é uma identificação muito grande com a empresa, então, sempre foi uma ideia que o petroleiro comprasse ação da companhia porque acredita nela e quer que ela cresça.

A partir disso, pensamos que poderíamos defender nossos interesses também, não só como trabalhadores, mas como um todo naquela empresa que a gente acredita, pensando no futuro da Petrobrás, não só no aspecto imediato, mas no desenvolvimento. Porque quanto mais ela cresce, melhor para seus trabalhadores. Por isso, defendemos uma Petrobras 100% pública e com uma gestão visando o desenvolvimento econômico tanto da companhia quanto do país.

Como a associação atua para representar a pauta dos petroleiros associados?

Desde o golpe de 2016, a gente vê que a gestão da empresa vem trabalhando para que a companhia diminua seu tamanho e importância no país. Por isso, criamos a Anapetro, para ter legitimidade, por exemplo, para questionar a gestão da companhia em outros fóruns não trabalhistas como o TCU (Tribunal de Contas da União), CVM (Comissão de Valores Mobiliários), CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), entre outros. Não dava para entrar como sindicato porque esse aspecto  não tem  relação direta com as relações e acordos de trabalho. Então criamos a associação justamente pra isso, pra poder ter legitimidade para também questionar em outros fóruns.

Entramos com denuncias e diversas representações nos fóruns e na justiça. Contra a venda da Rlam (Refinaria Landulpho Alves), por exemplo, a gente atuou bem forte, até pelo valor irrisório que foi pago. Eu acho que o sindicato tem legitimidade, mas aí chega na frente de um juiz e ele fala que não é relação de trabalho e não tem nada a ver com isso, então a Anapetro é mais um instrumento de defesa, tanto dos trabalhadores da Petrobrás e porque não dizer, também que do povo brasileiro, que é o principal acionista da empresa.

Você acha que os acionistas minoritários do Conselho Administrativo da Petrobrás representam os associados da Anapetro?

Não, a gente acha que o conselho, com raríssimas exceções, está preocupado com o retorno dos investimentos em um curto prazo e capital especulativo, e a gente não. Temos uma visão de médio e longo prazo, então achamos, por exemplo, que a Petrobrás hoje não investe mais em energia alternativa, aliás, está saindo dessa área e deixando de existir. O petróleo é um bem finito, então, quando ele acabar, a empresa acaba também ou precisará comprar petróleo de outro lugar e somos contra essa política e esse desinvestimento em energia alternativa e biocombustíveis.

Agora, aquele que defende o capital especulativo e que quer um lucro imediato compra as ações, vende, tira o dele e depois se desfaz delas. Por isso, quando a empresa vende um ativo, aumenta o lucro naquele ano. Entretanto, no ano seguinte, tudo o que sobra é uma redução no tamanho da companhia e, consequentemente, diminuição no seu valor de mercado. Então é muito relativa essa visão imediatista.

Qual alternativa a Anapetro vê em relação ao capital especulativo?

Uma política mais desenvolvimentista, de agregar valor aos seus ativos, por exemplo. Investir em petroquímica, energia alternativa, biocombustíveis, e voltar a atuar na área de fertilizantes que é tão necessária para a população brasileira.

Tudo isso agrega valor à companhia porque é investimento de longo prazo. Não era algo que deveríamos precisar, mas como a empresa começou a vender, ela precisa comprar ou investir em novas refinarias assim como vinha fazendo até 2016.

Como a Anapetro vê as pautas defendidas pela Petrobrás atualmente? Repudia alguma?

Os desinvestimentos, a venda de ativos da Petrobrás. Ela está diminuindo de tamanho e isso, por conseguinte, tem efeito positivo de imediato, mas no futuro a empresa perde em grandeza, tamanho e importância. Então, a nossa principal pauta é lutar contra a política de desinvestimento da companhia.

Outra pauta em que não concordamos é a não diversificação da atuação da Petrobrás. A empresa saiu dos biocombustíveis, saiu também dos fertilizantes e tudo o que puder agregar valor ela está saindo. Está se transformando em uma empresa de matéria primária, exportadora de petróleo, e não de agregar valor numa cadeia produtiva, transformando isso em combustíveis e em bens mais nobres.

Ela deixa de investir em química fina e petroquímica, que agregaria muito mais valor por ela ser produtora de petróleo e não age como uma empresa que está pensando em ter mais rentabilidade. Pelo contrário, está entregando para outros obterem mais lucros que poderiam ser da empresa. O povo brasileiro é o principal acionista da Petrobrás, então se o governo, o povo brasileiro, e os trabalhadores, todo mundo perde.

Quais as expectativas da associação com a posse do novo presidente, o general Silva e Luna? Alguma perspectiva de facilidade no diálogo?

A gente espera que mude. Estamos buscando diálogo sim, sempre buscamos com todos para tentar colocar a nossa visão mais estratégica, de longo prazo, na empresa, mas não sei se teremos espaço.

Agora, é uma mudança e esperamos que seja pra melhor. Que pense no futuro da companhia enquanto uma empresa desenvolvimentista e que tenha mais resultados de médio e longo prazo para que ela cresça, não numa perspectiva de redução de tamanho e importância para o Brasil.

Não sei como serão os diálogos. Enquanto Anapetro, a gente não procurou ainda, estamos esperando as primeiras ações e até agora a gestão continua como a anterior, principalmente na questão dos preços dos combustíveis – que achamos errada.

Por que a Anapetro é contrária a atual política de preços da Petrobrás?

Porque o impacto para a população brasileira é muito grande. Estamos falando de uma empresa que não precisa importar nada e possui o custo operacional todo em real, importando cerca de 6% a 8% de produtos. Manter tudo atrelado ao mercado internacional com o custo nacional em reais é ruim porque a gente vê a disparada de preços.

Somos contrários porque, ao mesmo tempo que a empresa adota uma paridade com o preço de importação, além de encarecer muito o produto final em um país que não está crescendo, favorece a venda e entrega de refinarias e tudo mais. Ou seja, do mesmo lado que a empresa tenta ganhar com o preço dos combustíveis, ela entrega à iniciativa estrangeira seus ativos que agregam valor à companhia.

Essa questão dos preços de paridade internacional está diretamente relacionada com a redução do tamanho da empresa. Ela não está se beneficiando com isso, está somente entregando o que ela poderia dar muito mais lucro, tá entregando pra outros. Além de tudo, por preço vis, como fez com a refinaria na Bahia

Estamos na direção contrária do mundo e quem se beneficia são as empresas internacionais, porque num momento de crise elas não vão pagar o que realmente vale um ativo da Petrobrás.

Fonte: ANAPETRO

Facebook