Ex-ministro da Defesa no governo Michel Temer, ex-diretor geral da Itaipú Binacional no atual governo Bolsonaro e dito “homem de confiança” de Bolsonaro, chega à empresa num momento de descontentamento com a política de preços dos combustíveis – sucessivas vezes denunciada pelos petroleiros -, em meio a uma pandemia que tem contaminado trabalhadores da empresa num percentual elevado e denúncias de manobras do ex-presidente para benefício próprio.
Assim como tem feito em inúmeras empresas e órgãos públicos, Bolsonaro mais uma vez optou por um militar para presidir a estatal.
Sem formação ou conhecimento na área, ele teria sido escolhido por Bolsonaro por sua experiência em Itaipú, onde foi elogiado por ter construído pontes e outras obras com recursos das contas de luz, cujos valores sistematicamente têm penalizado a população. Em matérias publicadas pela imprensa, características como “austeridade” e “obediência aos comandos dos superiores”, teriam sido consideradas como fatores positivos pelo governo na escolha. Além disso, apontam que quem conviveu com ele considera que o general não se caracteriza exatamente pela capacidade de negociar e é, segundo analistas do mercado (argumento usado para acalmar os privatistas de plantão), de um grupo militar que não tem postura de fazer oposição às privatizações. Ele próprio teria dito que vê “missão de Deus” no novo cargo.
NEGACIONISTA
O diretor do SINDIPETRO-RS, Dary Beck, alerta que a nova gestão já inicia com problemas. Segundo informações, diz ele, o general se mostrou um negacionista, nos moldes de Bolsonaro ao atacar dois princípios básicos de prevenção à pandemia: a máscara e o distanciamento social. Ele teria pedido aos trabalhadores do setor administrativo que “tirassem” as máscaras e sinalizou ser contra o home office. “Enquanto lutamos para que os protocolos sejam seguidos, que os trabalhadores usem máscaras e quem pode faça seu trabalho de casa, evitando exposição e aglomeração, o novo gestor chega colocando os trabalhadores em risco dentro da sede e quer que os que estão em home office voltem a trabalhar sem necessidade. Mesmo chegando aos 400 mil mortos, infelizmente parece que chega na Petrobrás um negacionista, com uma visão contrária aos protocolos de prevenção”, pontuou o dirigente.
Dary destacou ainda que a chapa eleita tem um conselheiro, que representa os minoritários, que renunciou. Isso, diz ele, pode causar a desqualificação de toda a chapa eleita, inclusive o presidente Silva e Luna. “Então temos ainda que aguardar para ver como se darão os movimentos nesta semana e ver se essa renúncia vai causar alguma piora numa gestão que já começa com muitos problemas”.
Na mesma linha, o também diretor do Sindicato, Alex Frei chamou a atenção para as dificuldades que estão colocadas neste início de nova gestão. “Estamos no fundo do poço e os gestores parecem que conseguem cavar um pouco mais. É difícil entender a postura negacionista, a não ser que se trate de um ataque não mais à categoria, mas às pessoas”, frisou ele.
PETROLEIROS QUEREM DIÁLOGO
Apesar das dificuldades, os petroleiros têm propostas para serem apresentadas ao novo presidente. Entre os temas que a categoria pretende tratar com o executivo estão a venda das refinarias, a política de preços, os investimentos da estatal e, principalmente e em caráter imediato, a situação da pandemia dentro da empresa. Para os trabalhadores, a gestão precisa dialogar com a categoria e com o movimento sindical, no sentido de buscar soluções para os problemas e conflitos que afetam a todos.
A pandemia, como não poderia deixar de ser, está no centro da preocupação dos trabalhadores, que inclusive iniciaram uma greve sanitária no Paraná dada as condições de aglomeração durante a parada de manutenção e, ainda, frente ao número de óbitos dentro da empresa que chega a 80 trabalhadores, entre próprios e terceirizados, além de 533 infectados. Para piorar, a sinalização de mudanças no sistema de trabalho em “home office” da Petrobrás, a partir de maio, traz maiores incertezas em relação à exposição à pandemia.