Neste mês de fevereiro, os petroleiros completam um ano da Greve de 2020, considerada uma das três maiores mobilizações da categoria. Infelizmente, ainda hoje as cobranças feitas pelos trabalhadores persistem e o desmonte da Petrobrás continua sendo uma triste realidade que os petroleiros enfrentam todos os dias.
De acordo com análise produzida pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a greve de 2020 chamou atenção pelo fato que não tinha como objetivo a paralisação ou redução da produção dos campos de petróleo e/ou das refinarias. Diferente dos movimentos anteriores, em alguns momentos, os grevistas apontavam para a necessidade de retomar os investimentos, seja para preservar os empregos (como no caso da Ansa/Fafen-PR) ou para retomar a capacidade de produção nas refinarias, reduzida pela Petrobras.
O representante do Dieese, Carlos Takashi, reafirma a presença das lutas na atualidade. “Ainda hoje, os petroleiros lutam para que a Petrobrás retome sua capacidade de investimento, não só em exploração e produção, mas também no refino, em energias renováveis, entre outras áreas e também lutam para que a Petrobrás altere sua política de preços de combustíveis de modo a fornecer preços mais justos aos consumidores nacionais. Além disso, os petroleiros lutam contra a venda de ativos (privatização) da Petrobrás, defendendo que a empresa estatal se oriente pelos interesses da população brasileira e do desenvolvimento econômico e social brasileiro”, ressaltou.
Inclusive, na última semana, representantes do Sindipetro-NF se reuniram com o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, o Deputado André Ceciliano, onde apresentaram um carta mostrando os impactos que redução da produção da Bacia de Campos tem gerado.
“Infelizmente a realidade vivida pelos petroleiros em todo o Brasil é de total descaso. Muitos dos petroleiros terceirizados perderam os empregos e os que estão ficando, estão com os salários cada vez menores. O adoecimento mental é generalizado o Governo depois do Golpe de 2016 só pensa em contar, vender e privatizar. Todos temos que nos unir para barrar isso”, avalia o coordenador do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.
Além disso, durante a greve, em várias situações, os trabalhadores e trabalhadoras apontavam para a necessidade de uma política de preços mais justos aos consumidores nacionais. Os petroleiros vêm denunciando há quatro anos esse disparate, que fez o preço do botijão de gás subir mais de 130% desde julho de 2017 e a gasolina e diesel sofrerem reajustes nas refinarias de 60% e 43%, respectivamente. Já o preço do barril do petróleo acumulou reajustes de 15,40% neste mesmo período e a inflação medida pelo INPC (IBGE) ficou em 15,02%. “Por conta da política de preços da Petrobrás, estamos sofrendo com aumentos descontrolados dos derivados de petróleo, o que inviabiliza setores estratégicos da economia, além de afetar massivamente a população”, alertou o coordenador da FUP, Deyvid Bacelar.
Nesta semana, a FUP e seus sindicatos, incluindo o Sindipetro-NF também realizaram diversos atos pelo país afora, em apoio ao movimento dos caminhoneiros e contra a política de reajuste dos derivados de petróleo imposta pela direção da Petrobrás. Desde 2016, as gestões neoliberais da empresa praticam o Preço de Paridade de Importação (PPI), que varia conforme o sobe e desce do valor do barril de petróleo no mercado internacional e as oscilações do dólar e dos custos de importação, o que faz com que os reajustes sejam frequentes e abusivos.
A greve que os petroleiros realizaram em fevereiro de 2020 despertou um movimento de solidariedade em todo o país e também fora do Brasil, com apoio de centrais e confederações sindicais, inclusive internacionais; intelectuais estrangeiros, como o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos; entidades da sociedade civil, juristas, partidos políticos das mais diversas matizes no campo progressista, estudantes, trabalhadores de várias categorias, movimentos sociais e organizações populares. Diversas manifestações públicas foram realizadas pelo país afora, em defesa da luta dos petroleiros.
“Para além da campanha de desinformação, fake news e mentiras propagadas para defender a política de privatização e entrega do patrimônio nacional pelo atual governo e seus apoiadores na grande imprensa, nos tribunais e no sistema político, a greve nacional dos petroleiros é um marco na nossa história, é uma greve a favor do Brasil e dos brasileiros. E será o caminhar dos acontecimentos relacionados à greve dos petroleiros que nos mostrará os caminhos de luta para garantir os nossos direitos e o nosso futuro enquanto país livre e soberano”, declarou o professor de direito da USP, Gilberto Bercovici, em artigo publicado durante a greve.
“Hoje os petroleiros estão no meio de um processo nacional. A greve dos petroleiros é a primeira grande vitória da classe trabalhadora desde 2016. Vocês conseguiram quebrar um pedaço do casco desse navio fascista, ditatorial, que se implantou no Brasil, abrindo uma brecha para conquistas futuras”, afirmou na época Frei Sergio Gōrgen, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e autor do livro ‘Nas trincheiras da Resistência Camponesa’.
“Essa luta dos petroleiros é muito maior do que propriamente uma luta dos petroleiros. Ela é uma síntese da aspiração de todo o povo brasileiro, porque os petroleiros estão defendendo a soberania nacional, estão defendendo uma empresa que é estratégica para o desenvolvimento do Brasil e tem sido demolida a interesses estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos, é uma luta para que o nível de desemprego não aumente”, destacou Francisco Celso Calmon, coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo.
[Da imprensa da FUP e do Sindipetro-NF]