Nos últimos 20 dias, 714 trabalhadores da Petrobrás foram infectados pela Covid-19, uma média de 35 casos por dia. A cada semana de janeiro, aumenta também o número de petroleiros hospitalizados. No dia 06, eram 20 trabalhadores. Na semana seguinte, subiu para 24 e no último dia 26, já haviam 29 petroleiros hospitalizados em função da Covid. Destes, 12 estão em unidades de tratamento intensivo.
Os dados são do grupo de Estrutura Organizacional de Resposta da Petrobrás (EOR), que monitora o avanço da doença na empresa. Em reunião com a FUP na quarta-feira, 27, os representantes do EOR informaram que 4.252 trabalhadores próprios já haviam sido contaminados pelo coronavírus, mais 246 haviam testado positivo nesta última semana e outros 192 estavam com sintomas. Na primeira semana de janeiro, o total de casos registrados pela Petrobrás era de 3.784 petroleiros.
Esses números são referentes apenas ao efetivo próprio da companhia. A gestão da empresa continua omitindo dados referentes aos trabalhadores terceirizados, que são os mais expostos à contaminação. Na reunião com o EOR, a FUP voltou a cobrar dados mais transparentes, com informações detalhadas por unidades e regime de trabalho. As representações sindicais também tornaram a ressaltar a urgência de medidas mais efetivas de contenção da pandemia, principalmente em função dos novos picos de contaminação e surtos em diversas unidades.
Uma das cobranças é a distribuição de máscaras certificadas, tipo N95 ou PFF-2, nas áreas operacionais e nos prédios administrativos. As que estão sendo fornecidas pela empresa não estão dentro destes padrões e a maioria dos trabalhadores, principalmente os terceirizados, utilizam uma única máscara ao longo de toda a jornada de trabalho, contrariando as recomendações dos órgãos de saúde e de fiscalização.
Os representantes do EOR informaram que seguem protocolos diferentes para cada tipo de atividade, mas, como a FUP vem cobrando há meses, nenhuma das notas técnicas da Petrobrás é de conhecimento dos trabalhadores, nem sequer das entidades sindicais. O mesmo acontece em relação a outras medidas fundamentais para conter o avanço da pandemia, que é a testagem e retestagem frequente dos trabalhadores, o cumprimento dos protocolos de higiene e, principalmente, de distanciamento.
Por isso, uma das principais preocupações da FUP é com as paradas de manutenção, que estão previstas para acontecer simultaneamente em diversas refinarias, o que aumentará consideravelmente o número de trabalhadores nas unidades. A Petrobrás informou que apresentará na próxima reunião o cronograma das paradas e as medidas de segurança que serão adotadas.
O EOR respondeu alguns dos questionamentos feitos na semana passada sobre negligências em relação aos trabalhadores que apresentam sintomas a bordo das plataformas e à testagem depois da troca de turno, quando o correto seria antes da entrada. Os gestores informaram que o protocolo passado para as unidades offshore é de desembarque imediato de todos os trabalhadores que apresentarem sintomas de Covid e seus contactantes. Nas unidades de terra, a empresa informou que o protocolo de testagem é na chegada e que o comando do EOR já havia solicitado adequação nas áreas que estavam desrespeitando esses protocolos.
Os sindicatos, no entanto, tornaram a enfatizar que as mudanças não foram implementadas, como é o caso das plataformas no Espírito Santo e na Bacia de Campos, da Repar, da SIX, dos terminas de Santa Catarina e de Manaus/Coari, entre tantas outras unidades, cujos gestores não seguem os protocolos do EOR.
“Há pelo menos seis reuniões, nós estamos alertando sobre esses problemas, cujas consequências estão se evidenciando no aumento dos casos de trabalhadores contaminados. Se nem os sindicatos, que são instituições reconhecidas pela Petrobrás, têm conhecimento do conjunto de Notas Técnicas com protocolos específicos para o combate à pandemia, o que dirá dos trabalhadores, que estão na ponta do processo, expostos à contaminação, sem sequer saber se o seu gestor está seguindo ou não o protocolo da empresa. Isso é um absurdo. Essa falta de transparência faz com que o os encaminhamentos do comando do EOR não sejam aplicados pelas forças tarefas e o trabalhador, que deveria ser o principal elo desta corrente, não tem como acompanhar e cobrar o que deve ser feito em prol da sua segurança. Até quando vocês vão continuar agindo desta forma?”, questionou, indignado, o diretor da FUP, Raimundo Teles.
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