Nov 25, 2024

Após privatização, dívida da BR Distribuidora aumenta 96%

 

Um dos mantras dessa e das últimas gestões da Petrobrás é a necessidade de realizar privatizações para diminuir a dívida da empresa e, com isso, poder focar seus investimentos no pré-sal, em ativos que o atual presidente Roberto Castello Branco denomina como de “classe mundial”.

Diminuir a dívida foi, justamente, o argumento utilizado no processo de transferência da BR Distribuidora – maior do setor de distribuição de combustíveis do país – para a iniciativa privada. Em dezembro de 2017, a Petrobrás arrecadou R$ 5 bilhões ao oferecer 29% das ações da subsidiária ao mercado financeiro.

Posteriormente, em julho de 2019, já durante o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), a petroleira se desfez de mais 33,5% do capital que possuía, perdendo o controle acionário da empresa. Em agosto do ano passado, em plena pandemia, o Conselho de Administração da estatal aprovou a venda da participação remanescente de 37,5% na BR Distribuidora, ainda não concretizada.

Com isso, o Estado brasileiro abriu mão de uma rede de 7,7 mil postos de combustíveis, construídos com capilaridade em todo o território nacional ao longo dos últimos 50 anos. Após a privatização, a nova diretoria da empresa decidiu mudar a identidade da sua rede conveniada, mas manteve o nome “Petrobras”.

Dois pesos e duas medidas

A necessidade de diminuição da dívida da Petrobrás, o que justificaria a desestatização em curso, parece não se aplicar à lógica de empresas privadas. Isso porque a BR Distribuidora, desde o início da sua capitalização, aumentou sua dívida em R$ 4,5 bilhões.

De acordo com o Relatório de Referência, em dezembro de 2017 a dívida bruta da empresa era de R$ 4,73 bilhões. Já em setembro de 2020, data do último balanço disponibilizado, o valor estava em R$ 9,29 bilhões, um aumento de 96%.

No mesmo período, conforme apontado na área do site destinada aos investidores, foram pagos R$ 5,88 bilhões em juros e dividendos aos acionistas. Este montante ainda não inclui todos os repasses que serão realizados neste ano, referentes ao ano de 2020.

Este valor é semelhante ao lucro líquido obtido pela empresa no período. Em 2018, a BR obteve R$ 3,03 bilhões; em 2019, R$ 2,10 bilhões; e nos três primeiros trimestres de 2020, R$ 757 milhões; totalizando um lucro líquido de R$ 5,89 bilhões.

Contradição

Com a privatização, a nova diretoria da BR Distribuidora incorporou um discurso clássico no setor privado de diminuição de custos e otimização dos recursos humanos. Na prática, houve o desligamento de 962 trabalhadores por meio de “planos de demissão optativa”. O número de empregados caiu de 3.240, em 2017, para 2.278, em 2019.

Além disso, 1030 funcionários tiveram reduções salariais a partir de janeiro deste ano. Alguns cortes chegaram a 50% dos honorários mensais, limite estabelecido no Acordo Coletivo assinado em fevereiro, que contou com a mediação do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Por outro lado, como noticiado com exclusividade pela comunicação do Sindipetro-SP, no final do ano passado a diretoria da BR Distribuidora aumentou o próprio salário em 272%. Em média, os 17 administradores da empresa receberam cada um a quantia de R$ 3.054.146,05 ao longo de 2020, com gasto total de R$ 51.920.483,40.

Somente a diretoria estatutária, formada por cinco integrantes, foi responsável pelo gasto de R$ 41.012.483,40. Em média, cada membro recebeu 8.202.496,68 durante o ano, ou R$ 683 mil reais por mês.

Esse é o salário que Wilson Ferreira Junior receberá ao trocar a presidência da Eletrobrás pela BR Distribuidora. O executivo usou como justificativa para a sua saída o pouco empenho do Congresso Nacional para aprovar o processo de privatização da estatal de energia.

Entretanto, em termos pessoais, Ferreira Junior também será beneficiado, como noticiado pelo jornal O Globo. No ano passado, a Eletrobrás pagou para os sete membros da diretoria estatutária o valor de R$ 10,5 milhões. Com isso, o aumento médio do seu salário poderá chegar a 546%.

Fonte: Sindipetro-SP

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