O apagão ocorrido no dia 8 de novembro no Amapá, que deixou cerca de 700 mil pessoas em 13 dos 16 municípios do Estado sem luz mais de 10 dias, é um exemplo acabado do que os sindicatos e os trabalhadores vêm denunciando quanto aos efeitos da privatização.
O “apagão” se deu no setor elétrico, mas não é descartado em outros setores, como “apagão nos combustíveis”, no caso de privatização da Petrobrás; “apagão postal”, com a venda do Correios; e “apagão bancário”, com a privatização dos bancos públicos, por exemplo.
No caso do Amapá, especialistas avaliam que apesar do acidente ter ocorrido por um temporal e raios que atingiram uma subestação, uma série de condições que a empresa privada deveria ter como contingência, não estavam sendo cumpridas. Nem mesmo a manutenção dos equipamentos, ou equipamentos reservas foram observados.
Quando o “apagão” ocorreu, a concessionária Isolux Corsán (uma filial brasileira de um grupo espanhol que opera em diversos setores de infraestrutura pelo mundo afora), responsável pela operação da subestação, que já tem um histórico de péssimos serviços em outros países, chamou os técnicos da empresa pública Eletronorte (do Grupo Eletrobras) para fazer os consertos e resolver os problemas.
O técnico da Eletronorte Ikaro Chaves, denunciou as responsabilidades e avaliou ser muito provável que tenha havido negligência por parte da empresa. “Esses equipamentos não deveriam ter falhado. E se eles tivessem falhado, deveriam ter redundância. E mesmo se a redundância tivesse falhado também, seria necessário ter equipamento sobressalente para que elas voltassem rapidamente ao funcionamento, o que não aconteceu”, destacou ele.
A operadora da linha e da subestação não possui nem equipe nem equipamento suficiente, tanto que foi necessário recorrer à Eletronorte, que não tem nenhuma relação com o empreendimento, para recuperar o sistema.
CONSEQUÊNCIAS DESASTROSAS
A falta de luz é apenas a ponta do “iceberg” de problemas. Com a falta de luz, a população vem tendo que conviver com perda de estoques, racionamento até de pão, falta de água, ruas escuras agravando os problemas de segurança, impossibilidade de usar eletrodomésticos, caos no trânsito com sinaleiras desligadas, filas imensas nos supermercados, água para venda racionada, gelo quando é encontrado sendo vendido a 50 reais, falta de sinal e possibilidade de carregar celular, só para citar alguns. E para piorar a situação, tudo isso em meio a uma pandemia, quando até mesmo os hospitais estão com seu funcionamento ameaçados.
Paulo Kliass, doutor em Economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal, sintetiza: “Trata-se de um verdadeiro jogo de empurra, onde as empresas de capital privado tentam se livrar do enrosco, os órgãos públicos de controle simulam alguma “surpresa inesperada” e as empresas estatais são chamadas a solucionar o problema de urgência. Esse quadro dramático expõe com toda a crueldade a falácia dos diferentes tipos e arranjos envolvendo a privatização de áreas essenciais e estratégicas do Estado brasileiro”, pontuou.