Na reunião com o grupo de Estrutura Organizacional de Resposta da Petrobrás (EOR) na última quarta-feira, 28, a FUP criticou duramente o Programa de Saúde Mental apresentado pela empresa, após cobrarmos o cumprimento da Cláusula 79 do Acordo Coletivo de Trabalho. O ACT garante aos sindicatos discutir a estruturação do programa nas comissões locais e nacional de SMS. No entanto, não é o que está sendo cumprido pela empresa.
Na reunião do EOR, a Petrobrás, além de se recusar a disponibilizar os dados cobrados pela FUP, alegando confidencialidade, apresentou um programa de saúde mental desenhado, sem discussão com os trabalhadores, a partir de conceitos que não correspondem à realidade da categoria. O programa blinda os gestores de qualquer responsabilidade com os fatores geradores de estresse e pressão psicológica que afetam cada vez mais os petroleiros, ao ponto de termos dois casos de suicídio recentes que abalaram ainda mais a categoria. Em menos de um mês, perdemos um companheiro na Rlam e outro na Bacia de Campos, durante o pré-embarque em um hotel da região.
Em mais de três horas de reunião, as gerências da Petrobrás abordaram os impactos econômicos da depressão e transtornos de ansiedade, os efeitos sobre a produtividade dos trabalhadores e as ações nas esferas individual, coletiva e no ambiente do trabalho, visando o gerenciamento do estresse, prevenção de suicídio, mapeamento e avaliação de riscos psicossociais no ambiente de trabalho. No entanto, em momento algum, a Petrobrás abordou em sua apresentação a causa central do estresse e sofrimento mental que atinge os petroleiros: a desestruturação da vida profissional e familiar em função do fechamento de unidades, das privatizações e do desmonte que compromete o presente e o futuro da companhia.
“A empresa praticamente transfere para o trabalhador a responsabilidade pelo adoecimento mental, reforçando a necessidade de um estilo de vida saudável. Mas, os trabalhadores não se encontram em estado de bem estar, seu estilo de vida está completamente comprometido por conta da política de gestão da Petrobras, que contribui sobremaneira para os casos de transtornos mentais”, afirmou o diretor de SMS da FUP, Raimundo Teles.
O médico do trabalho do Sindipetro-NF, Ricardo Garcia Duarte, que assessora a FUP nas reuniões do EOR, lembrou a vistoria sanitária realizada dia 21/10 na Reduc, em cumprimento à Clausula 68 do ACT, que garante o acesso dos sindicatos aos locais de trabalho para acompanhamento das condições de salubridade e segurança. A gerência da Reduc relatou à ele e aos diretores da FUP e do Sindipetro Duque de Caxias o caso de quatro petroleiros que haviam sido transferidos para a refinaria, vindos da Bacia de Campos, mas não chegaram sequer a assumir suas atividades, pois estão em afastamento médico devido a transtornos psicológicos.
“Como a Petrobrás pode falar em gerenciamento de estresse, quando está fechando as instalações em diversos estados? A vida dos trabalhadores está virada de ponta cabeça e eles ainda têm que lidar com a cobrança para que mantenham-se mentalmente equilibrados?”, questionou Raimundo, após a exposição do médico.
O diretor de SMS da FUP afirmou que o suicídio ocorrido na Rlam é a prova de que o programa de saúde mental da empresa não funciona. “Um suicídio dentro do ambiente de trabalho demonstra que programa está todo errado ou está sendo conduzido na direção oposta das necessidades dos trabalhadores”, frisou.
Durante a reunião com o EOR, as representações sindicais relataram preocupação com um possível surto de Covid-19 em unidades da Transpetro no Ceará e cobrou que os gestores apurem os fatos e tomem as devidas providências. A FUP também questionou a empresa sobre as medidas de segurança que estão sendo adotadas para evitar a contaminação nas paradas de manutenção que estão acontecendo nas refinarias. As direções sindicais ressaltaram que a pandemia da Covid-19 não acabou e que as paradas movimentam centenas de trabalhadores nas refinarias, na contramão do que os órgãos de saúde sanitária determinam para controlar as aglomerações.
Outra cobrança feita pela FUP foi em relação ao protocolo que a Petrobrás irá adotar em relação à vacina contra a Covid-19. Os petroleiros querem um posicionamento da empresa, já que o governo tem tido opiniões preocupantes sobre a vacina, com o presidente Bolsonaro se manifestando contrário à obrigatoriedade e à vacina chinesa. “Queremos saber o que a gestão da Petrobrás fará? A empresa vai adotar um protocolo próprio de imunização? Qual é a orientação? Teremos uma campanha própria de vacinação para os petroleiros?”, questionou o diretor de SMS da FUP.
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