Se o poeta alemão Bertolt Brecht (1858-1956) vivesse hoje, poderia incluir em um de seus poemas mais conhecidos – “O Analfabeto Político” – que além do preço do arroz, do feijão e dos remédios, as privatizações e a destruição dos direitos trabalhistas, também dependem de decisões políticas. Os empresários, os latifundiários, o agronegócio sabem disso, mas os trabalhadores ainda apresentam alguma resistência quando o tema é o envolvimento em política.
Não por acaso, na maioria dos estados e municípios e, também, as maiores bancadas no Congresso, têm na linha de frente representantes destes setores. Foram estas bancadas as responsáveis pela aprovação da reforma trabalhista, da previdência e das Medidas Provisórias que retiram direitos e atacam os setores mais pobres da população. Também são os responsáveis pelas privatizações, por alterações nas regras ambientais e nas votações que restringem os investimentos públicos, cortando recursos da saúde, educação e outras áreas fundamentais. No total, a bancada que defende os interesses empresariais chega a 193 parlamentares.
Em contrapartida, a bancada sindical no Congresso tem apenas 43 deputados, que somados aos de partidos progressistas, não passam de 100. Portanto, sem força para barrar as propostas de total destruição em todas as áreas.
ESSA HISTÓRIA COMEÇA NOS MUNICÍPIOS
Esta lógica se aplica às eleições municipais. É nelas que começa a ser construído o pleito que escolherá, daqui a dois anos, os deputados estaduais, federais, senadores e presidente. Por isso ela é tão importante, porque constrói uma base eleitoral local para a próxima eleição.
E é também nas cidades que pode começar a resistência. Prefeitos e vereadores podem, por exemplo, pressionar o deputado federal de sua região nas votações no Congresso.
Canoas, Esteio, Sapucaia, Osório, Rio Grande e tantos outros municípios do RS, que serão atingidos diretamente pela venda da Refap, precisam de representantes e partidos comprometidos com o fortalecimento da Petrobrás.
ENVOLVIMENTO É FUNDAMENTAL
Enquanto os trabalhadores acham que sindicato ou sindicalista não tem que se meter no assunto, os patrões – mesmo quando este patrão é o governo – sabem que é na arena política que se dão as grandes decisões.
Este foi, inclusive, o tema da Plenária Virtual realizada pela CUT-RS dia 3 de outubro. O encontro teve a participação dos diretores do SINDIPETRO-RS, Dary Beck Filho e Neide Zanon, e contou com quase 300 participantes, entre eles o senador Paulo Paim (PT/RS), a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre.
Um dos primeiros pontos tratados foi a importância das candidaturas de dirigentes sindicais para a eleição que ocorre em novembro para prefeito, vice e vereadores. Essas candidaturas são necessárias para fortalecer a luta dentro do campo institucional e combater, nas Câmaras de Vereadores e nos Executivos municipais, às políticas neoliberais de destruição dos direitos.
É fundamental que sejam eleitas pessoas comprometidas com os projetos defendidos pelos trabalhadores, como a defesa das empresas estatais. Ter prefeitos e vereadores que assumam esta luta e aliados aos petroleiros, será fundamental na defesa da Petrobrás.
Por isso, conhecer os candidatos e seus partidos, pesquisar como votaram em temas que afetaram os trabalhadores, e quais são a favor e contra as privatizações, é mais do que necessário.
CAMPO DE ATUAÇÃO
Para os trabalhadores, a arena política é mais um campo de atuação. A reforma trabalhista e da previdência, por exemplo, poderiam ter sido barradas, se no Congresso tivessem mais deputados representantes dos trabalhadores. Mas, infelizmente, as maiores bancadas são de empresários, latifundiários, banqueiros, que votaram de acordo com seus interesses.
TEMOS MUITO A VER COM ISSO
Esta eleição municipal ocorre num cenário ainda pior. São mais de 13 milhões de desempregados, o país retoma patamares de miséria de 20 anos atrás e vivemos uma crise sanitária que já matou mais de 150 mil brasileiros. Portanto, é urgente se envolver no debate político, para assegurar que sejam eleitas pessoas comprometidas com a vida, com os trabalhadores e com o fortalecimento da Petrobrás, para garantir a retomada do crescimento.
Quando falamos de eleição, estamos falando de redução de direitos, de saúde, de educação, de segurança, e cultura, de política para o salário mínimo, de jornada de trabalho, de manutenção de direitos, e de tantas outras questões que atingem diretamente os trabalhadores. E estas não são, afinal, razões suficientes para percebermos que sim, os sindicatos e os trabalhadores têm muito a ver com isso?