Segundo levantamento do INEEP, mais da metade das 29 operações já concluídas de venda de ativos no Brasil foram com grupos estrangeiros. Dos mais de 40 ativos atuais que estão em negociação, a tendência é que pelo menos metade seja arrematada por multinacionais.
Desde 2015, quando a Petrobras acelerou seu programa de desinvestimentos a fim de reduzir sua alavancagem financeira, cerca de 40 processos de venda nos segmentos de upstream, mid/downstream e biocombustíveis tiveram contrato assinado ou foram concluídos. Segundo levantamento do Ineep, mais da metade das 29¹ operações envolvendo ativos no Brasil foram fechadas com grupos estrangeiros.
Companhias de fora são maioria nas aquisições de campos e blocos offshore e de ativos de transporte de gás, enquanto as brasileiras – algumas delas, com aportes de fundos internacionais – dominam as compras de ativos terrestres da Petrobras. A tendência é que essa configuração se mantenha nas compras dos mais de 40 ativos atualmente em desinvestimento, com as estrangeiras avançando ainda sobre as refinarias da estatal.
No upstream, a transação de maior monta foi a venda de 25% da participação da Petrobras no campo de Roncador, na Bacia de Campos, para a Equinor, por US$ 2,9 bilhões. A norueguesa ainda pagou US$ 2,5 bilhões pelo bloco BM-S-8, onde está campo de Bacalhau (antiga descoberta de Carcará), em Santos.
Sua compatriota BW Offshore comprou 70% da participação da Petrobras no campo de Maromba, também na Bacia de Santos, por US$ 90 milhões.
Já a inglesa Trident Energy adquiriu, por US$ 1,5 bilhão, os campos de Pampo e Enchova, em Campos, enquanto a franco-saxã Perenco comprou o Polo Pargo, na mesma bacia, por US$ 398 milhões.
A francesa Total comprou o campo de Lapa, se tornando a primeira operadora estrangeira de um campo no pré-sal da Bacia de Santos, por US$ 1,1 bilhão. A transação incluiu a aquisição da área de Iara, onde está o campo de Atapu, que começou a produzir este ano.
A malaia Petronas, por sua vez, levou 50% do campo de Tartaruga e do Módulo III de Espadarte, na Bacia de Campos, por US$ 1,3 bilhão.
A PetroRio e a Ouro Preto Óleo e Gás foram as únicas brasileiras a comprar ativos offshore da Petrobras, adquirindo, respectivamente, a parcela da estatal nos campos de Frade (US$ 100 milhões), em Campos, e dos campos de Pescada, Arabaiana e Dentão (US$ 1,5 milhão), na Bacia Potiguar.
Empresas nacionais constituíram, por outro lado, a quase totalidade dos compradores de ativos terrestres.
A PetroRecôncavo comprou 34 campos no Rio Grande do Norte por US$ 384 milhões; a Karavan Oil, 27 concessões no Espírito Santo (Polo Cricaré), por US$ 155 milhões; a Eneva, o campo de Azulão, na Bacia do Amazonas, por US$ 54 milhões; a Imetame Energia, o Polo Lagoa Parda (ES), por US$ 9,3 milhões; a Centro Oeste Óleo e Gás, 50% da participação não operada da Petrobras no campo de Dó-Ré-Mi, em Sergipe-Alagoas, por US$ 37,6 mil; a Eagle Exploração Óleo e Gás, o Polo Tucano Sul, por US$ 3 milhões; e a 3R Petroleum, os polos Macau (RN), Rio Ventura (BA) e Fazenda Belém (RN), por US$ 191 milhões, US$ 94,2 milhões e US$ 35,2 milhões, respectivamente.
Um detalhe: tanto a Karavan Oil como a 3R Petroleum contam com private equity de origem estrangeira por parte da Seacrest Capital Group Limited e da Starboard Restructuring Partners, respectivamente. No início de setembro, a 3R pediu autorização para realizar uma oferta inicial de ações (IPO) para levantar recursos a fim de comprar mais campos da Petrobras.
A exceção no onshore ficou por conta da norte-americana Central Resources, que arrematou os campos Ponta do Mel e Mesa Redonda, na Bacia Potiguar, por US$ 7,2 milhões.
No mid e downstream, o consórcio formado pela francesa Engie e o fundo de pensão canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec (CDPQ) comprou, por US$ 8,6 bilhões, 90% da Transportadora Associada de Gás (TAG), que detém malha de gasodutos com extensão de cerca de 4,5 mil km.
O gestor de fundos canadense Brookfield adquiriu, por US$ 5,2 bilhões, 90% da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), que opera 2 mil km de gasodutos.
A japonesa Mitsui levou 49% da Gaspetro, por US$ 593 milhões. A subsidiária da Petrobras detém participação em 19 distribuidoras de gás natural em diversos estados do país.
Já a mexicana Alpek adquiriu 100% da Petroquímica Suape e a Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe), por US$ 435 milhões.
As únicas brasileiras a figurarem no mid/downstream são a Copagaz e Nacional Gás Butano, que assinaram contrato para comprar a Liquigás, por US$ 925 milhões – em operação ainda pendente de aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Na área de biocombustíveis, a francesa Tereos comprou a usina de açúcar e álcool Guarani, por US$ 202,8 milhões, e a portuguesa Galp, a produtora de óleo vegetal Belém Bioenergia Brasil, por US$ 24,7 milhões.
Os grupos brasileiros São Martinho e Turdus Participações, por seu turno, adquiriram as produtoras de etanol Nova Fronteira e Bambuí Bioenergia, respectivamente, por US$ 133 milhões e pelo valor simbólico de R$ 1 – segundo a Petrobras, devido ao patrimônio líquido negativo da Bambuí.
Perspectivas
A Petrobras conduz, hoje, aproximadamente 40 processos de desinvestimento de ativos no Brasil, sendo 29 no upstream, cinco no mid/downstream, cinco em energia elétrica e dois em biocombustíveis.
A maioria dos ativos à venda no upstream consiste em campos ou blocos nas regiões Nordeste e Norte, nas bacias do Recôncavo, Camamu, Sergipe-Alagoas, Ceará, Potiguar, Pará-Maranhão e Solimões. No Sudeste, há ativos em desinvestimento nas bacias do Espírito Santo, Campos e Santos, enquanto, e, no Sul, a Petrobras tenta vender uma concessão na Bacia de Pelotas.
Empresas norueguesas, como a BW Energy e a DBO Energy, estão de olho nos processos em curso. A última tem interesse em ativos offshore e onshore, com a ideia, inclusive, de implantar projetos de geração de energia eólica em concessões terrestres.
As australianas Karoon e Rockhopper também estão entre as estrangeiras interessadas em empreendimentos marítimos, ao lado da Perenco e, possivelmente, a alemã Wintershall.
Operadora dos campos de Tiê e de seis blocos de exploração no Recôncavo, além do campo de Tartaruga, em Sergipe-Alagoas, a canadense Maha Energy é outra que analisa os desinvestimentos da Petrobras.
Os grupos Seacrest e Starboard buscam novas compras no onshore e offshore. No caso da última, a tendência é que siga utilizando a marca 3R Petroleum em projetos terrestres e Ouro Preto, em marítimos.
A russa Rosneft, que opera blocos exploratórios na Bacia do Solimões, estaria interessada na compra do Polo Urucu, assim como a brasileira Eneva.
Sediada no Brasil, a Pindorama Energy também estuda aquisições de ativos onshore da Petrobras no país.
Presidida por Márcio Félix, ex-secretário de Petróleo e gás do Ministério de Minas e Energia, a Energy Platform (EnP) volta suas atenções a ativos na Bacia do Espírito Santo, onde pretende construir uma refinaria em parceria com o Oil Group.
No caso dos ativos exploratórios à venda, como Sergipe-Águas Profundas e os blocos no Pará-Maranhão e Pelotas, a avaliação é que as empresas, no momento, têm pouco fôlego para entrar em projetos de mais alto risco.
No mid/downstream, os ativos de transporte (NTS e TAG) têm sido muito olhados por fundos de pensão, como o próprio CDPQ, pois representam a segurança de fluxo de caixa durante um período extenso.
Em relação à Gaspetro, reportagem publicada pelo jornal O Globo, em julho, mostrou que empresas como a Cosan, Naturgy (controladora da Ceg e Ceg Rio), Ultrapar e a Mitsui estariam entre as interessadas.
No caso das refinarias, destaque para o Mubadala Investment Company, dos Emirados Árabes Unidos, que negocia a compra da Refinaria Landulpho Alves (RLAM) com a Petrobras. Entre outros postulantes à compra das oito plantas à venda estão a Raízen (joint venture entre a Shell e a Cosan), a Total, traders de combustíveis como a holandesa Vitol e a japonesa Marubeni (como consorciadas), a malaia Petronas, as chinesas CNPC e Sinopec e o grupo brasileiro Ultrapar.
Nos biocombustíveis, a expectativa é que grandes grupos do segmento, como o JBS Biodiesel e a própria BSBios, tentem arrematar a PBio e a parcela de 50% da Petrobras na BSBios.
Quanto às eólicas Mangue Seco 1, 2 3 e 4, empresas controladas por fundos de investimento, como Ômega e Echoenergia, estão entre as potenciais interessadas nos empreendimentos.
Finalmente, no que tange às termelétricas, a Petrobras deve encontrar dificuldade para vender as plantas a óleo combustível em um mundo com restrição de financiamento, sobretudo para empreendimentos de combustíveis fósseis. Um caminho possível é o surgimento de sinergias com projetos industriais, com grupos menores da área de energia com atuação regional e/ou empresas interessadas na autoprodução de energia. No caso das térmicas a gás, podem aparecer interessados para fornecer energia a sistemas isolados (não conectados ao Sistema Interligado Nacional – SIN).
1 – Não se considerou a venda da participação da Petrobras na BR Distribuidora, via oferta pública de ações.
2 – A análise excluiu a BR Distribuidora, cuja parcela remanescente da Petrobras será vendida via oferta pública de
ações.
Fonte: INEEP
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