O fato de estatais, entre elas a Petrobrás, estarem aplicando milhões em sites e canais do YouTube que trabalham nesta linha, não surpreende. Afinal, o que esperar de um governo que, no meio de uma pandemia que já matou mais de 35 mil brasileiros, num sistema de saúde que não tem dinheiro sequer para comprar máscaras para os profissionais, retira 83 milhões do Bolsa Família - única fonte de renda de milhares de brasileiros - para destinar a sua área de comunicação e alimentar veículos de honestidade duvidosa em forma de propaganda?
Na semana passada, uma matéria divulgada no jornal O Globo mostrou que a Petrobrás e outras estatais são grandes anunciantes em canais pautados por fake news, muitas delas, inclusive, que fazem deboche sobre o coronavírus, por exemplo. Isso sem falar em canais que defendem a ditadura, o Ato Institucional nº 5 (AI5) e o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), numa clara afronta a Constituição Federal e à democracia.
Somente duas estatais - a Petrobrás e a Eletrobrás - veicularam, segundo a matéria, 28.845 anúncios em canais com estas características entre janeiro de 2017 e julho de 2019. Muito donos dessas páginas são investigados pelo STF em um processo que apura a existência de uma rede de divulgação de notícias falsas com ligações com o governo de Jair Bolsonaro.
Somente em três canais no YouTube, cujos responsáveis estão sendo investigados, a Petrobrás veiculou 3.490, 3.602 e 1.192 anúncios em cada um. Em um desses canais, os jornalistas responsáveis chegaram a publicar vídeos dançando e debochando do coronavírus, enquanto o próprio canal anunciava milhares de mortes. Uma prática que reproduz a do governo Bolsonaro. Segundo levantamento feito pela CPMI das fake news do Congresso, que produziu um documento com base em informações da própria Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), o governo federal publicou 653.378 anúncios em 47 canais de notícias falsas. O levantamento foi feito entre o dia 6 de junho e 13 de julho de 2019.
DEFESA DA INTERVENÇÃO MILITAR
De acordo com a matéria, o campeão de verbas recebidas da Petrobrás é um canal que defende abertamente a intervenção militar no País. Este teve, segundo apurado pelo O Globo, mais de 10 mil anúncios publicados pela Petrobrás. Em alguns posts no facebook do veículo, o responsável destrata o STF, apoia explicitamente Bolsonaro, desdenha do coronavírus, critica o isolamento, entre outros temas em perfeita sintonia com o governo.
Enquanto isso, a empresa tem penalizado os trabalhadores, querendo impor cortes de salários; a gestão continua destruindo a empresa, sem se preocupar com o papel da estatal no combate a pandemia e no fortalecimento da economia.
PROBLEMA SÉRIO
De fato, as fake news são hoje, pela dimensão que alcançam com as redes sociais, um problema sério. E mais grave ainda, são estatais utilizando milhões, para sustentar veículos que propagam e amplificam estas mentiras que inclusive negam fatos da realidade, a própria ciência e a história, como é o caso do número de mortes pela Covi-19, a afirmação de que a terra é plana ou que o nazismo não existiu ou que era de esquerda. Ou seja, negam fatos baseados em dados reais. Notícia falsa não é uma invenção de hoje. Mas, com os modernos meios de comunicação de massa, e especialmente as redes sociais, esta prática se torna perigosa. E isso tem levado especialistas de diversas áreas a definirem a prática como um retrocesso. Muitas pessoas abandonam os fatos, a razão, para se renderem em opiniões que divergem da ciência, da história, para criar novas verdades (chamadas de "pós verdade"), que coincidem com a sua própria crença, opinião ou sentimento previamente existente. Daí a força das fake news se espalharem tão rapidamente e sem qualquer cuidado por parte de alguns. E por este mesmo motivo, dizem os especialistas, dificilmente argumentos racionais são eficazes no seu combate.
Um exemplo de como isso funciona pode ser resgatado do nazismo, guardadas as proporções de épocas. O regime vendeu a crença de que os judeus eram culpados por todos os problemas da Alemanha. E estes se tornaram, então, o bode expiatório, ao lado dos socialistas, comunistas e ciganos, e que deviam ser eliminados. O resultado foi o massacre genocida de 6 milhões de pessoas.
DENUNCIAR AS FAKE NEWS
Não se pode admitir que os recursos da Petrobrás, ou de qualquer outra empresa pública, sejam utilizados para sustentar veículos produtores e disseminadores de fake news. Esta é uma luta que perpassa a defesa da empresa e do próprio país. Além disso, esta luta é a defesa da própria democracia. Assim, é tarefa de cada petroleiro e petroleira, denunciar o uso de recursos da Petrobrás - que deveriam estar sendo usados para fortalecer a empresa, combater a pandemia e recuperar a economia do País - para bancar notícias falsas, que só fazem fortalecer um governo autoritário e antidemocrático, que está destruindo a empresa.