A Live do Sindipetro-RS desta quinta-feira (16), teve a participação do professor de economia da UFRJ e pesquisador do INEEP, Eduardo Costa Pinto. O especialista falou por quase uma hora sobre a crise internacional do petróleo e os impactos das decisões dos gestores da Petrobrás. O vídeo na íntegra está disponível na página do Sindipetro no Facebook (@sindipetro.rs).
De acordo com o professor, essa é uma das maiores crises no setor do petróleo dos últimos 100 anos, por dois fatores específicos: a covid-19 e a sua necessidade de isolamento social, impactando diretamente na produção e no consumo - o que pode representar uma baixa de 10% na demanda de petróleo em 2020. Só no mês de abril, está previsto uma queda no consumo de 26 milhões de barris. Se não bastasse esse cenário, outro elemento importante na geopolítica internacional é o novo papel do petróleo da América e também da Noruega, que representam uma frente importante da oferta mundial de petróleo, reduzindo o peso da OPEP e Arábia Saudita. Ou seja, emergiram novos atores nesse mundo do petróleo "uma crise provocada pela covid-19 e por outro lado uma disputa entre Rússia e OPEP. Uma queda de demanda com aumento de produção gerou um colapso no preço do petróleo, chegando abaixo de U$$ 20 o barril", diz o especialista.
A reboque dos americanos
Contrariando as falas do presidente Castello Branco, que defende como o único caminho diante da crise a penalidade dos trabalhadores, o professor reforça: "sempre existe possibilidades e estratégias possíveis e que terão efeitos diferente para atores externos e internos. Poderiam optar por afetar o investimento, ou então endividamento, renda para seus fornecedores. Não existe a maluquice que permeou os debates nos últimos anos, de que só tem uma saída.” O professor acredita que seria necessário a hibernação de uma parte das refinarias, por conta da queda do consumo e logística de estocagem. Porém, a gestão vem aproveitando a desculpa da crise para dar sequência a sua série de entreguismo, seguindo a reboque dos americanos: "A redução da produção e hibernação é um elemento necessário pelo isolamento social, mas não se pode aproveitar um momento de calamidade pública e crise sanitária para manter as mesmas estratégias de redução do refino, venda de ativos. Isso é questão de microeconomia. É um problema cognitivo, não conseguem olhar além do caixa a curto prazo. A minha sensação é de que essa gestão está tentando aproveitar a crise para levar adiante a sua estratégia. A Petrobrás é uma empresa pública, não existe saída sem o aumento do investimento público. É oportunismo. Estamos falando de um cenário de vida. O salário dos operadores representa 7% dos custos. E querem fazer redução em cima do trabalhador. Se cair a renda, cai o consumo, se cair a demanda, a economia não sai do buraco", exemplifica.
Lucro acima de tudo e a redução acima de todos
"Só na feira livre a privatização aumenta a concorrência. O petróleo não é feira livre. As refinarias foram construídas de forma isolada para não concorrerem entre si. Elas serão monopólios privados." O professor também falou da importância da empresa para este momento de crise no país: "a Petrobrás deve assumir um papel de retomada do setor de investimento. Não tem sentido privatizar o refino da Petrobrás. Se todos os países do mundo vão ter um aumento de endividamento, a gente vai continuar com a sanha maluca de reduzir o endividamento? Temos que ampliar o pré-sal, manter a integração da empresa. Isso vai garantir lucros futuros para a Petrobrás e isso pode potencializar estratégia para a indústria nacional, aumentando investimento público".
Para o diretor administrativo do Sindipetro-RS, Dary Beck Filho, o Brasil age de acordo com o interesse americano: "O Brasil diante desse caos poderia ter uma ação soberana e preocupada com o desenvolvimento e renda do país, mas preferiu ser subalterno as estratégias dos EUA".