O economista e assessor técnico do Dieese, Cloviomar Cararine participou na última sexta-feira (3) da Live do Sindipetro-RS - uma ferramenta que vem sendo utilizada cada vez mais pela diretoria para manter o contato com os trabalhadores neste momento de isolamento social.
Da sua casa, no Rio de Janeiro, o economista explicou por quase uma hora a conturbada conjuntura do setor de óleo e gás e os erros estratégicos da Petrobrás neste período tão conturbado: "O mês de março muda a história do mundo", explica Cloviomar.
A conjuntura internacional se resume em dois grandes elementos - que vão impactar e testar a estratégia que vem sendo utilizada pela Petrobrás desde 2016: por um lado a guerra do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia, que resultou na queda no barril de petróleo, e por outro, a pandemia do COVID-19: "estes dois acontecimentos colocou um desafio importante para as empresas do petróleo e alguns deles podem ser sentidos, como a instabilidade do mercado financeiro, além das grandes dívidas das empresas neste setor. O próprio presidente dos EUA já está anunciando medidas para ajudar as empresas petrolíferas americanas.
Refinarias
De acordo com o economista, será um erro grave se a gestão da Petrobrás seguir adiante com o seu plano de vender metade do parque de refino diante do cenário que estamos passando: "a empresa tomou a decisão de vender oito refinarias, incluindo a Refap. O atual cenário de instabilidade coloca em xeque as ações que estão sendo implementadas pela direção da empresa. As refinarias brasileiras para a Petrobrás são importantíssimas como fonte de faturamento, faz mais sentido manter as refinarias quando o preço do petróleo cai. No caso do Brasil, os parques estão dentro dos centros urbanos e a produção de petróleo está muito perto, o custo é baixo do transporte. Abrir mão das refinarias já era um erro e, agora, diante deste cenário, é um erro muito grave e que não faz nenhum sentido.
As contradições
Outro elemento contraditório adotado pela gestão da empresa é a redução do número de trabalhadores. Desde 2013 o quadro de funcionários vem reduzindo. Naquele ano eram 86 mil trabalhadores e em 2019 esse número caiu para 56 mil. Somente através do PDIV já saíram 18 mil petroleiros: "A redução nesse momento é muito ruim porque a empresa perde trabalhadores experientes, perde a mão de obra qualificada. Para nós, fica claro que as estratégias adotadas pela empresa são equivocadas, tornando a situação ainda pior. A gente se pergunta 'Por que ela não volta atrás? Por que ela não volta a agir como uma empresa estatal e integrada?' Analisando os passos da Petrobrás a gente vê que isso não está nem perto de acontecer. O que a Petrobrás esta fazendo é muito parecido com as empresas de petróleo privadas no mundo, sem preocupação de expor seus trabalhadores ao risco e sem cumprir seu papel de estatal, como fornecer de graça combustíveis para o setor da saúde, ou preços justos no setor do derivados à população, principalmente GLP, ajudando na economia e minimizando os efeitos dessa crise.
Pacote de maldades
"A empresa está aproveitando a situação para implementar medidas no sentido de reduzir gasto pessoal e os efeitos da conjuntura de março. Muitas dessas medidas são adotadas somente pelo preço e não pela pandemia. Ou seja, a tentativa é reduzir o custo e não preservar os trabalhadores. São decisões que vão impactar para sempre a remuneração dos petroleiros. Cerca 3.200 trabalhadores podem sofrer a mudança do regime de trabalho, entre eles do turno e sobreaviso e 21 mil trabalhadores do Administrativo terão 25% de sua remuneração reduzida. A gestão quer sair da crise nas costas dos trabalhadores. Pretende reduzir R$2,4 bilhões em postergação de gastos com trabalhadores, mas poderia tomar outras iniciativas e reduzir em R$ 4,4 bilhões, como: suspensão do pagamento PPP; suspensão do pagamento dos dividendos aos acionistas, e não reajustar a remuneração global da alta cúpula da empresa.
A análise de conjuntura completa com o economista Cloviomar Cararine está disponível página do Facebook do Sindicato (@sindipetro.rs).