Seguindo o mesmo caminho da Shell e contrariando outras petrolíferas ao redor do mundo, a Petrobrás se utiliza de um momento de calamidade para implementar mudanças nas jornadas e turnos
Em nota preliminar, o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que a gestão da Petrobrás está indo na contramão do restante do mundo. O estudo analisou as medidas adotadas pelas petroleiras internacionais frente à pandemia da covid-19, na difícil tarefa de assegurar o fornecimento de um bem essencial em um ambiente de alto risco e de grande impacto social: "Enquanto algumas empresas tratam a questão como um profundo dilema, considerando as mudanças na produção num contexto mais amplo de impactos sanitários, sociais e econômicos, outras buscam simplesmente uma forma de garantir a continuidade da produção e do pagamento dos dividendos para os acionistas."
"Nas refinarias há um grande número de empresas que indicam primordialmente a redução do efetivo e da produção como política de combate à propagação da covid-19 entre os trabalhadores, principalmente em um cenário de queda brusca do consumo, com suspensão de grande parte da produção e das viagens, tanto locais quanto internacionais. Dentro do quadro de mudança do regime de trabalho para evitar o contágio, um grande número de empresas declarou o estabelecimento de trabalhos em equipes isoladas, com a intenção de evitar um número maior de contatos entre os trabalhadores. Contudo, algumas empresas, como o caso da Petrobrás e da Shell, não divulgaram em suas notas a redução do efetivo e da produção. Ao contrário, seus posicionamentos que têm se tornado públicos têm focado nos investidores e na garantia da produção. Dentre as medidas tomadas está o aumento do turno, com redução das trocas entre equipes", esclarece o estudo.
Em outro trecho publicado, a nota afirma: “Não tem porque o Brasil não centrar sua produção para o mercado interno e a segurança de seus trabalhadores. Obviamente, é preciso garantir o abastecimento, dada a essencialidade do petróleo e gás para a vida das pessoas. Contudo, num quadro de menor demanda e cotações mais baixas e de alto risco de contágio por parte dos trabalhadores petroleiros, é possível e necessário adequar o nível de produção a um menor patamar”.
SEM NEGOCIAÇÃO
As medidas de mudança de regime foram tomadas unilateralmente, sem conversa com sindicatos, trocando regimes de trabalho offshore vigentes até então, de 14 dias embarcado em alto mar isolado em plataformas seguidos por 21 dias de descanso (14x21), por um novo regime de 28x14, sendo 7 dias de quarentena sob análise médica e outros 21 dias embarcado em alto mar, seguidos por 14 dias de descanso. "No caso dos trabalhadores em refinarias, depois de várias ações no sentido de reduzir o número de trabalhadores e mudar as tabelas dos turnos, os horários e tamanho da jornada, sempre questionadas pelas entidades sindicais, a empresa está aproveitando o momento de crise para implementar as mudanças nas jornadas e turnos".
"É exatamente nesses momentos de crise que a importância estratégica de uma empresa nacional se faz presente. Seria possível manter a produção necessária para o consumo interno com um efetivo reduzido, protegendo os trabalhadores deste setor essencial. Infelizmente, a Petrobrás age em direção oposta aos interesses públicos e nacionais. Realiza políticas de privatização dos campos maduros e das refinarias destruindo a possibilidade de uma produção estratégica para o mercado interno, para atender apenas os interesses financeiros internacionais dos seus acionistas privados. Além disso, aproveita-se do momento de pandemia para implementar, sem negociação com os sindicatos, mudanças importantes no regime e jornadas de trabalho que vão prejudicar ainda mais as vidas dos trabalhadores", finaliza o estudo preliminar.
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