A gestão Bolsonarista da Petrobras intensificará a estratégia de redução da empresa nos anos 2020, na contramão do que aconteceu com a estatal na década anterior, quando a petrolífera se tornou uma das maiores empresas integradas de energia do mundo e pode, assim, descobrir o pré-sal.
O novo planejamento estratégico da Petrobrás indica que se tornará uma empresa cada vez mais "enxuta", concentrada apenas em projetos de retorno imediato para os acionistas privados, com foco em exploração e produção de óleo e gás.
Esse encolhimento radical da empresa beneficia os acionistas e as empresas concorrentes, mas condena o futuro do Brasil, comprometendo o projeto desenvolvimentista do país. Sem os investimentos da Petrobrás, que sempre foram estratégicos para a indústria nacional, o Brasil caminha para um novo colonialismo, reduzindo-se a um país fornecedor de commodities e dependente da industria estrangeira.
Reportagem recente do jornal Valor Econômico informa que o atual plano de negócios da Petrobras prevê a saída da estatal de campos maduros em terra e águas rasas, da petroquímica Braskem, dos setores de transporte e distribuição de gás natural e da produção de biocombustíveis e fertilizantes. Além disso, a petroleira vai reduzir sua fatia no refino.
A Petrobras também reduzirá geograficamente o seu raio de atuação, concentrando-se cada vez mais no Sudeste. A empresa pretende privatizar todas as suas refinarias fora do eixo Rio-São Paulo e abandonar de vez os campos terrestres e em águas rasas, concentrados, sobretudo, no Nordeste.
A gestão da petroleira espera também se desfazer dos ativos remanescentes na América do Sul.
Segundo a reportagem, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, irá intensificar esse desmonte nos próximos dois anos. A expectativa é que a empresa se consolide como uma exportadora de petróleo cru.
O economista Rodrigo Leão, coordenador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), contesta o enfoque quase exclusivo da companhia na atividade de exploração e produção - que absorverá 85% dos investimentos para 2020-2024, de US$ 75,7 bilhões.
Segundo Leão, a saída da Braskem e da produção de biocombustíveis, além da redução de sua presença no refino, colocam a petroleira numa situação de dependência das variáveis do mercado externo (como preços e demanda), num movimento “atípico” em relação aos seus pares globais.
Ele lembra que as grandes estatais de países em desenvolvimento, sobretudo da China, Índia e Arábia Saudita, têm investido na expansão do parque de refino para reduzir a dependência dos derivados do exterior. “As petroleiras desses países têm estratégias diferentes, mas convergem na preocupação de não se concentrarem apenas em exploração e produção. A Petrobras está fazendo o caminho que as outras estão evitando, de depender de exportações de óleo cru. Ela está olhando muito para o curto prazo”, defende Leão.
O pesquisador do Ineep também questiona a venda da Braskem. A Agência Internacional de Energia (AIE) projeta que, diante do impacto da eletrificação dos carros sobre o consumo de combustíveis, um terço do crescimento da demanda de petróleo virá da petroquímica em 2030. “Os derivados têm um ciclo de preços menos instável, seguram mais a volatilidade do mercado do que os preços do óleo cru. Ajudam a atenuar a volatilidade”, explica.
[Com informações do Valor]