Em Audiência Pública realizada no Senado Federal, nessa quarta-feira (26), o dirigente do Sindipetro-RS e representante da FUP, Dary Beck Filho, desmentiu as falácias sustentadas pela direção da Petrobrás para privatizar a empresa. Organizada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação, a Audiência discutiu a política de preços dos combustíveis pela Petrobrás, suas consequências na atração de investimentos em refino e infraestrutura logística e impacto para os consumidores.
Dary começou a sua fala desmentindo o que foi dito por um participante, que comparou a empresa privada do estado americano a estatal brasileira: "comparar uma empresa privada como a Standard Oil, dos EUA, com uma estatal, criada pelo movimento do Petróleo é Nosso, é no mínimo uma desonestidade. Uma tem uma função única de ir em busca do lucro, enquanto a Petrobrás sempre teve a garantia de abastecimento justo para todo o território brasileiro".
O diretor também explicou porque não se deve comparar o petróleo com outra commodity, termo inglês que se difundiu no linguajar econômico para fazer referência a um determinado bem ou produto de origem primária: "o mundo iria acabar se hoje acabasse o café? Não. Com o petróleo é diferente. Se acabar o petróleo vai acabar o mundo. Se isso acontecesse, 75% da população morreria rapidamente. Não teria transporte, comida, roupa. Parem de tentar enganar a população, o petróleo é um insumo especial e essencial para a nossa civilização. Não existe substituição", afirma o petroleiro.
Política de preços
Principal assunto da Audiência, Dary reforçou que a venda das oito refinarias, entre elas a Refap, só vai gerar aumento dos preços de combustíveis e gás de cozinha. O diretor reforçou que o presidente da Petrobrás, Castello Branco, está mentindo para a população brasileira: "Qual é a empresa privada internacional que vai comprar uma refinaria no Brasil e cobrar menos que o preço internacional? Isso é falso. O presidente da Petrobrás mente quando diz que vai vender as refinarias para baixar o preço. Mostre qual é a empresa que vai entrar no Brasil para cobrar menos do que ela cobra lá fora? Por favor, não mintam. Digam logo que vocês não gostam dessa empresa estatal chamada Petrobrás, que é de desenvolvimento e tecnologia, que gera emprego e renda para o nosso país, e que vocês querem entregar tudo para o capital internacional, porque alguém está ganhando muito dinheiro com isso".
Segundo Paulo César Ribeiro Lima, consultor técnico da AEPET, e que também participou da mesa de debates, a privatização das oito refinarias proposta pela Petrobrás pode levar a monopólios privados que produzirão combustíveis a custos muito mais altos que os da Petrobrás. O que se torna difícil de imaginar um cenário de baixos preços dos derivados de petróleo no Brasil com essas privatizações: "A privatização das refinarias acaba com qualquer possibilidade de preço baixo de óleo diesel e gasolina no Brasil".
De acordo com a sua apresentação, com a privatização das refinarias, haverá grande elevação no custo de produção dos derivados. Para um valor do barril do petróleo a US$ 65, o custo de produção de óleo diesel para as refinarias da Petrobrás é da ordem de R$ 1,042 por litro. Se as refinarias forem privatizadas, o custo de produção do diesel poderá aumentar para cerca de R$ 1,805 por litro. O aumento no custo de produção seria da ordem de 73,1%. Desse modo, apenas o custo de produção do óleo diesel S10, de R$ 1,805 por litro, é maior que o preço do óleo diesel de baixo teor de enxofre na Costa do Golfo dos Estados Unidos de cerca de R$ 1,798 por litro. Assim, para vender no Brasil a preço dos Estados Unidos, os compradores não teriam margem de lucro operacional bruto.
Ainda segundo Paulo, o Brasil e a Petrobrás têm todas as condições de produzir e refinar o petróleo nacional e entregar óleo diesel abaixo preço nas refinarias com boa margem de lucro para a estatal. Para um valor do barril do petróleo de US$ 65, a Petrobrás pode fornecer óleo diesel S10 para as distribuidoras a preços tão baixos quanto R$ 1,60 por litro, o que permitiria preços inferiores a R$ 3 por litro nos postos revendedores.