Nos últimos dias, veículos da imprensa tradicional divulgaram aquilo que seria a maior descoberta de gás natural do país no período recente. Ao que tudo indica, o jornal Estado de São Paulo foi o primeiro a divulgar a seguinte manchete: “Petrobras faz a maior descoberta desde o pré-sal, em Sergipe e Alagoas”, o tema foi imediatamente repercutido pelos veículos do sistema Globo, dessa vez com a seguinte chamada: “Descoberta da Petrobras de seis campos de gás natural deve gerar R$ 7 bi ao ano”.
Dado o amplo interesse público da notícia ela foi imediatamente reverberada por outros órgãos de imprensa e inúmeros blogs. A divulgação gerou especulações e hipóteses sobre as possíveis relações entre o recente julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a venda de subsidiárias de empresas estatais sem consulta ao Congresso, e a conclusão do processo de privatização da Transportadora Associada de Gás (TAG). O portal GGN divulgou uma “linha cronológica” estabelecendo a relação entre os dois eventos supracitados em matéria cujo título era: “Fachin deve explicações sobre o caso TAG”; imediatamente a suposição foi reverberada pelo site Brasil247, “Descoberta de gás natural é a maior desde o pré-sal”.
Tanto o portal GGN quanto o site Brasil247 são importantes e respeitáveis veículos que tem se dedicado ao tema das privatizações, exatamente por isso a notícia rapidamente se espalhou sob a forma de alerta e denúncia. No entanto, cabe esclarecer, as matérias originalmente divulgadas pela grande imprensa, e posteriormente reverberada pela mídia alternativa, não correspondem à realidade.
Diante do mal entendido, a própria Petrobras divulgou nota para seus investidores onde informa: “foram confirmadas, nos últimos anos, seis descobertas em águas profundas na Bacia de Sergipe: Cumbe, Barra, Farfan, Muriú, Moita Bonita e Poço Verde, conforme já divulgado ao mercado (...). A companhia está realizando o Plano de Avaliação da Descoberta dessas áreas, para avaliação do potencial produtivo de suas acumulações de petróleo e gás natural”.
O portal G1, da própria Globo, noticiou em 2014 a descoberta da área de Poço Verde que tinha um grande potencial para exploração de gás natural em Sergipe. O site Tijolaço apontou a falha ao noticiar que, “A descoberta da Petrobras existe. Mas foi em 2013”.
As supostas novas descobertas aconteceram, portanto, como indica a própria Petrobras há, pelo menos, cinco anos e, provavelmente, o trabalho de exploração tenha ocorrido muito antes. Não se trata de uma novidade como quiseram fazer crer as falsas notícias que circularam recentemente. Todavia, o caso pode ser interpretado de uma outra forma. Nas matérias divulgadas pela grande imprensa constam declarações de integrantes do Ministério de Minas e Energia (MME) e da Agência Nacional de Petróleo (ANP), mas não há nenhuma declaração do corpo diretivo e técnico da Petrobras.
Ao que tudo indica, a publicação da matéria coaduna com os objetivos do atual governo de dar visibilidade ao programa de “gás barato”. Até o momento, como o programa não saiu do papel e nenhuma medida concreta foi apontada, a impressão é que houve uma tentativa de relacionar o sucesso da descoberta realizada pela Petrobras com o programa de “gás barato”.
Além disso, hoje (18 de junho de 2019), o mesmo Estadão divulgou a intenção da Petrobras vender algumas das áreas descobertas de gás natural em Sergipe. Ou seja, a divulgação dessas informações parece ter dois objetivos claros: dar publicidade ao programa de gás barato e, ao mesmo tempo, associá-lo à possiblidade de expansão dos investimentos privados no setor petróleo a partir da venda de ativos da Petrobras.
A dúvida que fica: teria o governo, ao arrepio da própria Petrobras, mais uma vez, se utilizado de uma “notícia fria” para favorecer seus interesses, dado que as declarações inverídicas provocaram uma valorização dos ativos relacionados ao gás natural que estão em processo de privatização?
O INEEP reitera seu compromisso com a soberania nacional e com a qualidade e a veracidade das informações divulgadas sobre o setor de óleo e gás do país.
FONTE: INEEP