O feminismo foi tema da abertura do 7º Encontro Nacional das Mulheres Petroleiras da FUP, que aconteceu na noite de sexta-feira (5) no Cine Metrópolis, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Vitória (ES). O debate foi conduzido pela professora do Núcleo Interinstitucional de Pesquisa em Gênero e Sexualidades da UFES, Erineusa Silva, e pela deputada federal pelo Distrito Federal, Erika Kokay (PT-DF).
Ambas destacaram o quanto a sociedade ainda é machista e patriarcal, mas lembraram o quanto as mulheres têm coragem e foram e são essenciais nas lutas por direitos no Brasil e no mundo. Erineusa fez uma retomada história sobre o conceito de feminismo no Brasil e no mundo e também explicou como o feminismo é algo crescente dentro de cada uma das mulheres – ainda que elas não se reconheçam como tal.
“O feminismo surgiu para mim quando via meu pai tratando diferente o meu irmão de mim, quando ele podia sair mas eu tinha que ficar em casa. Foi nas coisas cotidianas que o feminismo surgiu pra mim e acredito que para a maioria das mulheres, mas eu não sabia naquela época e, até hoje, tem muita gente que não sabe que é feminista”.
Ela também reforçou que o significado de feminismo nunca foi o contrário de machismo e que consiste, na verdade, em um movimento de luta por direitos e contra as injustiças sociais. Ela retomou a luta das mulheres pelo voto, a conquista do direito ao divórcio, a aprovação da Lei Maria da Penha e outras importantes conquistas que só se deram pelo que depois passou a ser chamado de feminismo.
Porém, mesmo diante de tantos avanços, as mulheres ainda são sub-representadas na política brasileira, ainda recebem salários menores que os homens e estão em menor número nos cargos de chefia – apesar de estudarem mais e serem maioria entre a população brasileira.
Também as mulheres têm uma carga horária de trabalho maior a dos homens (em média 51 horas semanais contra 40 horas semanais dos homens) em função dos cuidados com a casa, os filhos e a família que vão além do trabalho formal, como bem lembrou a deputada Érika Kokai.
No entanto, apesar dessa diferença, a proposta de Reforma da Previdência recentemente apresentada pelo governo Jair Bolsonaro ao Congresso quer acabar com o reconhecimento que hoje a atual previdência tem ao garantir à mulher o direito de se aposentar mais cedo que os homens. “Uma das poucas políticas que temos no sentido de enfrentar essa desigualdade é a previdência e agora querem nos tirar até o direito à aposentadoria”.
Desumanização simbólica
Ainda segundo a deputada Erika Kokai, há uma luta que precisa ser feita que é contra a desumanização simbólica que, segundo ela, é “quando não somos donas das nossas próprias vidas ou quando não somos donas dos nossos corpos”. Isso ainda acontece nos dias de hoje em razão da opressão, do machismo e da desigualdade de gênero.
É no contexto da desumanização simbólica que a violência contra a mulher é naturalizada no Brasil. “A mulher não tem direito à cidade. Ela não pode sair a qualquer hora, ou vestida como quiser pois pode ser alvo de assaltos ou outros crimes. Isso é a violência sendo naturalizada pela desumanização”.
Ela lembrou ainda que o Brasil é o quinto País onde mais se mata mulheres no mundo e que, a maior parte dessa violência, acontece dentro de casa. “Temos milhares de mulheres que têm medo de voltar para suas próprias casas ou, quando voltam são controladas e moldadas por um homem”.
E também no esteio da construção da desumanização simbólica e do papel histórico da mulher na sociedade surge ainda outro conceito: a ditadura da perfeição. “A culpa é a maior forma de dominação das mulheres e elas sempre se sentem culpadas quando quando não são perfeitas, quando são agredidas, quando o casamento acaba, quando não conseguem deixar a casa limpa, ou estar disponíveis aos seus maridos, ou quando têm que sair pra trabalhar e deixam o filho chorando”.
E completou: “Se hoje temos poucas mulheres no Parlamento isso é fruto dessa sociedade. Lutar contra as desigualdades de gênero e a desumanização simbólica na sociedade é estruturante de qualquer luta. Não é a toa que o maior movimento por direitos no mundo, que foi a Revolução Francesa, teve a pauta feminina decapitada. Mas, isso não é mais permitido hoje: ou a gente avança na equidade de gênero e no empoderamento feminino ou simplesmente não avançamos em nada.