A Vale foi vendida em 1997 por cerca de três bilhões de dólares, quando valia mais de 70 bilhões de dólares. A negociata, por si só, já foi um crime contra uma lucrativa empresa brasileira. Mas, desde então, a empresa vem acumulando crimes ambientais e contra a humanidade, no Brasil e no exterior, principalmente na América do Sul e África.
O crime de Mariana e Brumadinho, são apenas a ponta de um iceberg, que reúne um número considerável de pessoas, de executivos da Vale até empresas contratadas para produzir estudos que fundamentaram a aprovação das operações da empresa. O objetivo é dar a aparência de legalidade técnica e jurídica à fraude que gerou o maior crime ambiental e trabalhista do Brasil.
REINCIDENTE
A Vale é reincidente na prática criminosa, e não só por Mariana. As denúncias contra a companhia são inúmeras e não ocorrem somente no Brasil. Vão dos crimes ambientais, passando pelo trabalho escravo, a desorganização do modo de vida de comunidades tradicionais, espionagem de sindicatos, movimentos ambientalistas e sociais, até a violência para reprimir protestos contra abusos da empresa.
Um mapa criado por pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona analisou os conflitos ambientais existentes ao redor do mundo e constatou que a mineradora Vale integra o 5º lugar entre as empresas mais irresponsáveis do mundo, do ponto de vista ambiental e social. Os pesquisadores espanhóis indicaram que a mineradora está presente em 14 das 15 disputas que ocorrem na América Latina e está envolvida em casos suspeitos no Brasil, além de países como Colômbia, Peru e Chile.
DESCOMPROMISSO
A prática da empresa é a falta de compromisso social e ambiental. Tanto que a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale (AIAV), que publica o Relatório de Insustentabilidade da Vale, denuncia sistematicamente as violações de direitos humanos e ambientais, cometidas pela empresa, no Brasil e em mais oito países nos quais a ela opera.
ANTES DA PRIVATIZAÇÃO
A Vale, antes da privatização, tinha outro perfil gerencial, segundo matéria do jornalista Leonardo Sakamoto. Quando a empresa ainda era a Vale do Rio Doce, era símbolo, que orgulhava os brasileiros, campeã em responsabilidade social, tinha uma importante presença nos municípios e comunidades onde atuava, sua tecnologia e seus métodos de atuação eram referência mundial e a companhia priorizava o desenvolvimento do Brasil. Mas a sua privatização alterou totalmente o seu perfil. O objetivo passou a ser o lucro dos acionistas
E o pior, é que a Vale não é uma exceção. A segunda maior mineradora do mundo possui atuação perfeitamente compatível com a forma de agir da maioria das multinacionais, de diversos setores, como as petrolíferas Exxon e Shell.
MARIANA NÃO PODERIA TER SE REPETIDO
A tragédia de Mariana, em 5 de novembro de 2015, deixou 19 mortos e danos socioambientais incalculáveis. Parte da lama que arrasou casas e plantações foi parar no oceano Atlântico depois de envenenar o rio Doce. Vários municípios sofreram com o desabastecimento de água, e tiveram que decretar estado de calamidade pública. Sem oxigênio nas águas, toneladas de peixes morreram em Minas Gerais e Espírito Santo. Algumas praias no norte do ES tiveram que ser interditadas, quando as águas turvas chegaram ao litoral. Até hoje Mariana era considerado o pior desastre ambiental do país.
Cerca de 400 famílias perderam seu lar. O trabalho de reconstrução das residências em um novo distrito por parte da Samarco está atrasado, e a empresa anunciou que irá descontar o valor pago de forma emergencial às vítimas do total da indenização. As famílias ainda esperam o cumprimento das “promessas” feitas pela empresa e nenhum executivo foi punido.
REESTATIZAÇÃO DA VALE!
Assim é fundamental que Brumadinho não se transforme em mais um crime sem responsáveis e sem punição, onde quem sofre é a população, que além de chorar seus mortos, tem que conviver com a perda material e de seu sustento.
Cobrar melhoria no padrão de atuação destas empresas não adianta. A ganância está acima do humanismo. A única mudança capaz de dar garantias mínimas quanto a não ocorrência de novas tragédias é a reestatização da Vale. A mesma lógica serve para as estatais que o governo quer agora privatizar.