Na última semana, as críticas aos Correios ganharam as redes sociais. Internautas seguiram um manifesto da empresa de e-commerce Mercado Livre contra o aumento nas tarifas de serviços de encomendas. Intitulada “#FreteAbusivoNão Eu sou contra o aumento dos Correios de até 51% no frete”, a campanha figurou desde o início da semana como um dos assuntos mais comentados do país no Twitter.
A empresa argumenta que o aumento deve prejudicar, sobretudo, pequenos e médios empreendedores que utilizam a internet para suas vendas. “Para o dia 6 de março, os Correios estão preparando uma entrega que ninguém quer receber: um aumento abusivo no frete que pode chegar a até 51% para compras e vendas realizadas pela internet”, afirma o Mercado Livre.
Para o secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), José Rivaldo da Silva, o aumento é, de fato, equivocado. “A empresa vem traçando uma política tratada com o governo. Nós avaliamos que primeiro teríamos de melhorar a qualidade dos nossos serviços e mantermos as entregas em dia e, depois, poderíamos discutir essa questão de reajuste com a população”, disse.
A empresa de e-commerce ainda argumenta que os aumentos chegam a ser 17 vezes maior do que a inflação de 2017, que fechou por volta de 3%. “Para dar uma ideia do abuso, este aumento fará o frete brasileiro 42% mais caro do que o da Argentina, 160% mais caro do que o do México e 282% mais caro do que o da Colômbia.”
Os Correios emitiram uma nota em resposta às críticas. “Comparar o preço de frete praticado no Brasil com os países vizinhos, como faz a nota, é tendencioso e pode levar o consumidor a acreditar em uma falsa premissa. O maior dos países citados, a Argentina, tem cerca de um terço da extensão territorial do Brasil e 40% de toda a sua população concentrada na região metropolitana de Buenos Aires”, disse.
A empresa estatal ainda argumentou que a média do aumento ficará em 8% “para objetos postados entre capitais nos âmbitos local e estadual”, o que, de acordo com os Correios, representa a maioria das postagens. Outro ponto levantado pela empresa diz respeito a uma taxa emergencial de R$ 3, cobrada exclusivamente no Rio de Janeiro. “A situação de violência chegou a níveis extremos e o custo para entrega de mercadorias nessa localidade sofreu altíssimo impacto.”
Sucateamento da estatal
Para Rivaldo, da Fentect, os Correios não têm legitimidade para cobrar tal aumento, visto que a empresa passa por um processo de sucateamento. “No momento que vivemos nos correios, temos uma falta de efetivo muito grande. Tivemos quatro planos de demissão incentivada desde 2009 e saíram 23 mil pessoas que não foram repostas. Isso acaba atrapalhando no processo de qualidade de entrega das encomendas e dos objetos postados”, disse.
Um exemplo, é o produto Sedex, que se destinava a entregas rápidas. “Antes, você recebia a encomenda no dia seguinte. Tem casos hoje que demoram oito dias. Todos os serviços que eram carros-chefe e tinham padrão de excelência estão passando por um processo que a nosso ver é uma maldade grande da direção dos correios (…). Eles querem sucatear a empresa para justificar a ineficiência, quando na verdade já fomos o melhor operador do país, com excelência, e ninguém desaprendeu. Na verdade, são as políticas e condições de trabalho que têm dado essas condições para nós”, completou.
Greve
Aliado ao aumento nas tarifas, os Correios – comandados por Guilherme Campos, que exerce o cargo político indicado por seu partido, Democratas, por integrar a base do governo de Michel Temer (MDB) – estão travando uma batalha judicial contra os seus funcionários. Campos entrou na Justiça para retirar direitos relativos ao plano de saúde dos trabalhadores.
Na última quinta-feira, o Tribunal Superior do Trabalho (TST), em audiência de conciliação, colocou na mesa uma proposta que atende aos interesses de Campos: a empresa arca com 75% do plano, os trabalhadores com 25%, e serão retirados pais e mães do atendimento. Diante de tal cenário, a categoria pode entrar em greve nos próximos dias.
“A proposta é inviável para nós. Ao longo do nosso período de vida nos Correios, o salário sempre foi baixo. Quando o TST implementa uma proposta que concorda com a empresa sobre a retirada de pai e mão do plano, não podemos concordar (…). Temos em média, vencimentos de R$ 1.500. Não tem como ganhar isso e pagar R$ 800, R$ 900 de plano e saúde para os dependentes”, afirma Rivaldo.
Ao longo desta semana, a categoria, em seus diferentes sindicatos, deve promover assembleias para deliberar sobre uma possível greve. “Orientamos todos nossos sindicatos filiados para que rejeitem a proposta do TST, deflagrem o indicativo de greve para, na sexta-feira (9), podermos deflagrar a greve em assembleia com início na segunda-feira (12). A intenção, se os trabalhadores assim aceitarem, é parar todos os serviços para acompanharmos o julgamento no TST, que será as 14h”, finaliza.
Fonte: CUT